sexta-feira, julho 09, 2010

Bons princípios

A ideia de que o Estado não deve intrometer-se na gestão das empresas e muito menos de uma empresa onde a sua participação é maioritária é um bom princípio. O problema é que o resultado seria o peso da Telefónica forçar os accionistas da PT, tal como o próprio Ricardo Salgado o afirmou de forma indirecta ao reconhecer que um dos argumentos a favor da venda era evitar uma Opa.

A ideia de que os hospitais podem ser melhor geridos por empresas privadas é um bom princípio, o problema também há empresas privadas que são mal geridas, algumas vão mesmo à falência, outras só não têm o mesmo destino porque são adquiridas. Não só neste caso o princípio é falível como é evidente que no dia em que o sector da saúde tiver sido privatizado as empresas privadas do sector terão todas as condições para chantagear o Estado sempre que queiram aumentar os lucros. Veja-se a chantagem das farmácias sobre o Estado ou o oportunismo dos seguros de saúde para se perceber como os privados actuam na saúde.

Uma coisas são os princípios que aprendemos no primeiro ano de economia, outra é a realidade económica, uma coisa é o que se aprende nas cadeiras de economia internacional, outra é o mundo de canibalismo em que se transformou a zona euro. Uma coisa são as consequências dos bons princípios aplicados a grandes economias outra serão as que se verificariam em pequenas economias como a portuguesa.

Partilho de alguns desses bons princípios de que um partido falsamente social-democrata parece querer implementar, mas tenho sérias dúvidas de que os benefícios de tal política reverteriam a favor da maioria dos portugueses, o grande problema da economia portuguesa não reside na ausência de liberdade nos mercados mas sim na falta de competitividade que resulta da falta de qualificação de trabalhadores e empresários.

É fácil ler meia dúzia de livros e ir dizer aos empresários espanhóis, principalmente à Telefónica e seus amigos do PP, o que eles querem ouvir, qualquer aluno do segundo ano de um curso de economia conseguiria fazer um discurso capaz de lhe arrancar palmas. Difícil é mostrar como esses bons princípios tornam competitiva uma economia com recursos escassos, com empresários pouco qualificados e habituados à protecção do Estado, incluindo os amigos do sector da saúde, com os grupos corporativos (apoiados pelo PSD) a dominarem o Estado e com trabalhadores com pouca qualificação.

O que eu espero não é ouvir Pedro Passos Coelho enumerar os bons princípios, esses aprendi na escola de professores bem melhores do que aqueles que Pedro Passos Coelho teve na universidade privada onde andou, o que eu espero é que me explique como é que ele vai usar esses bons princípios para resolver os problemas da economia portuguesa, incluindo aqueles a cuja solução o seu PSD se tem oposto ou que durante dez anos de governo de Cavaco Silva mais os trocos de Durão Barroso e Santana Lopes nada fez para resolver.