segunda-feira, julho 26, 2010

O ocaso de Francisco Louçã

Quando ouvi Louçã comentar os resultados dos testes de ‘stress’ à banca portuguesa conclui que o líder do BE está em baixa de forma, concluir que "Não podemos aceitar um sistema financeiro que não pague impostos e que prejudique a economia do país, precisamos de uma democracia que não seja subordinada e o sistema dos impostos tem de ser justo", faz-nos pensar que Louçã teria ficado mais feliz se a banca estivesse à beira da falência.

Apesar de ter sido um dos vencedores das últimas legislativas Francisco Louçã sofreu um golpe imperdoável a um qualquer líder comunista, foi derrotado num debate eleitoral com José Sócrates. Desde então Louçã tem um único objectivo, destruir politicamente José Sócrates para recuperar a sua dignidade política, mesmo que isso implique alianças parlamentares com a direita. O mesmo líder que agora diz que a banca está de boa saúde por não pagar impostos é aquele que há poucos meses ajudou a direita a suspender a aplicação do novo código contributivo.
A combinação do bom resultado eleitoral do Bloco de Esquerda com a humilhação sofrida no debate com Sócrates transformou Louçã, deixou de permitir protagonismo a segundas figuras, incluindo as que ajudaram o BE a subir, como Joana Amaral Dias, o brilhantismo ideológico de um glorioso líder não pode ser ensombrado, muito menos quando é a beleza feminina a secundarizar a sua grande inteligência.

O BE é cada vez mais Francisco Louçã e o seu culto da personalidade e desde que se julga o líder de um “grande partido” perdeu qualidades, as suas piadas deixaram de ter graça, os seus objectivos ideológicos sobrepõem-se à receita da “esquerda moderna” que tanto o ajudou na criação de um disfarce ideológico que permitiu ao BE transformar velhos maoístas, estalinistas e trotskistas em debutantes do baile político português.

A fixação de Louçã na destruição de Sócrates e a arrogância com que se passou a exibir desde que ultrapassou PCP não lhe fizeram nada bem, perdeu qualidades, retirou de cena caras que o ajudaram a subir, assumiu um discurso comunista e conservador, levou-o a alianças com a direita chegando ao ponto de ter embarcado na vingança de Manuela Ferreira Leite que se traduziu na comissão de inquérito.

À esquerda Louçã tenta destruir o PS com uma candidatura presidencial que lhe é estranha e na qual uma boa parte do BE não se revê, à direita tem a concorrência de um liberal com bom aspecto que lhe retira apoios nos rebentos da classe média. Não admira que o BE desça nas sondagens, Louçã deixou de ser o jovem irrequieto e de bom humor para passar a ser o velho comunista que promove o culto da personalidade, as jovens Joana Amaral Dias e Ana Drago deram lugar aos velhos Semedos, o perfume da “esquerda moderna” deixou de seduzir os jovens corretores e analistas financeiros, a crise mostrou que o BE não está interessado em soluções mas sim na continuação da própria crise.