quarta-feira, julho 28, 2010

O silêncio dos cobardes



Foram muitos os jornalistas deste país que usaram o caso Freeport para tentarem condenar Sócrates muito antes de haver qualquer prova, a louraça do SOL, a Dona Moniz e mais umas quantas figuras menores do nosso jornalismo difamaram Sócrates em nome da verdade ao longo de mais de dois anos. Aproveitaram-se de Sócrates para abrirem telejornais, produzirem primeiras páginas, disputarem audiências e asseguraram aumentos salariais graças ao trabalho sujo de gente oculta que lhes deu as "armas" para promoverem o golpe de estado. Agora ficaram em silêncio, até deram mais destaque à notícia da ida a tribunal de ex-administradores do BCP do que à conclusão do caso Freeport, depois de difamarem optam agora por um silêncio que além de cobarde é criminoso, insinuaram a acusação e agora querem silenciar a notícia da inocência.

Fez-se silêncio, um silêncio tão cobarde como o dos que destruíram a confiança dos portugueses na justiça para ajudarem a direita a convencer os portugueses a votarem nela. Um silêncio igualmente tão cobarde como o de algumas personalidades que ao contrário do que diz o poema confirmaram que há sempre alguém que se cala. Alguns até tomaram posição, mas só quando perceberam o óbvio, quando concluíram que lhes ficava bem serem solidários e isso até seria bom para os seus projectos pessoais.

Quando o Presidente da República chamou o senhor Palma a Belém para discutir as supostas pressões sobre os investigadores não estava preocupado com o funcionamento da justiça, se assim fosse o destacado sindicalista dos operários dos tribunais teria que ter gabinete no palácio presidencial. Chamou-o porque o suposto instigador ou beneficiado por tais pressões seria o primeiro-ministro. Seria interessante que o Presidente da República viesse agora manifestar-se feliz porque se provou que o primeiro-ministro não se tinha corrompido e que, portanto, não precisava de pressionar os investigadores. Parece que Cavaco gosta mais de intervir quando os acontecimentos parecem estar-lhe de feição.

Para além daqueles que se aproveitaram das falsas acusações foram muitos os que não se abstiveram de tirar proveitos políticos, foi o caso do PSD e do BE que promoveram a comissão parlamentar de inquérito cuja origem está na acusação a Sócrates de tentar silenciar uma jornalista que o difamava com recurso ao caso Freeport. Se o CDS e o PCP tiveram uma postura de distância em relação ao caso, o mesmo não se pode dizer do BE do PSD que agora optam, como era de esperar, pelo silêncio cobardes. Quem nasce cobarde tarde ou nunca ganha coragem.

Uma das formas mais sinistras de oportunismo foi não assumir qualquer acusação mas dizer que Sócrates esteve envolvido em muitas trapalhadas, não sujaram as mãos mas aproveitaram-se das suspeições para as transformar em condenações. Um dos muitos que vi recorrer a esta estratégia manhosa e cobarde foi Marques Mendes no seu tempo de antena da SIC Notícias. Nenhum destes comentadores apareceu agora, estão todos de férias. Mais subtis foram os que deixaram o golpe prosseguir impunemente com o argumento da confiança na justiça, isto é, na mesma justiça que facultou peças do processo cirurgicamente escolhidas para manipular a opinião pública.

Não quero deixar de fora muitos dos que optaram por prescindir dos mais elementares princípios de justiça, estavam com esperança de que seriam os magistrados a fazerem aquilo que não tinham conseguido com os seus argumentos. Estão neste rol muitos políticos, mas também muitos alguns visitantes deste blogue que nos seus comentários têm usado e abusado da calúnia como arma política.

Onde estarão os que tanto protestaram em nome do mercado contra a utilização da golden share para impedir o negócio da Vivo mas que no caso da compra da TVI pela PT já não se preocuparam com o mercado?

Hoje é um dia de silêncios cobardes, um dia em que muita gente vai tentar esquecer o que fez, o que escreveram ou disseram, os mails caluniosos que enviaram, os comentários oportunistas que escreveram, as opiniões manhosas que produziram, as intervenções políticas que protagonizaram, nenhum deles vai assumir culpas ou responsabilidades. Os políticos que se aproveitaram, os magistrados que tentaram dar um golpe de estado, os jornalistas que promoveram um linchamento na praça pública e muitos outros cobardes vão ficar calados, provavelmente a pensar noutro golpe.