terça-feira, julho 27, 2010

Os espanta sorrisos

O Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab) da Universidade Fernando Pessoa, do Porto, andou a estudar os sorrisos portugueses com base nas fotografias publicadas na comunicação social e concluiu que a face neutra e o sorriso fechado são as expressões faciais mais frequentes entre os portugueses.

São excelentes resultados, com as doses massivas de discursos depressivos e frustrantes a que os portugueses são diariamente sujeitos seria de esperar que as expressões faciais mais frequentes fossem a de susto ou mesmo de choro. Ou, pelos disparates que ouvem e pelas figuras tristes a que assistem, também poderiam exibir gargalhadas hilariantes.

Acho mesmo que com o tratamento a que são sujeitos os portugueses deveriam exibir expressões de loucura. Ouvir num dia o Presidente da República dizer que a situação é insustentável tira o sorriso a qualquer um, ouvir Campos e Cunha sugerir que o voto branco deveria traduzir-se em cadeiras vazias no parlamento leva um cidadão a chorar até às lágrimas. O que resulta da mistura dos discursos dramáticos de alguns políticos com as propostas hilariantes de outros deverá ser tema de estudo dos psicólogos já que dificilmente em matéria de sorrisos existirão médias aritméticas.

Político português que se preze deve apresentar-se sério, até mesmo sisudo, no seu discurso ou expressão facial não deve haver qualquer réstia de alegria, se for candidato ao poder deve comportar-se ainda pior, deve dramatizar a situação, dizer que estamos de tanga, promete salvar o país a troco de uma dose cavalar de medidas duras. O facto de os portugueses ainda conseguirem sorrir é notável, depois de ouvirem Cavaco a dizer que estamos desgraçados, o Medina Carreira a assegurar que a única solução para aumentar-mos a exportação é obrigar os portugueses a darem sangue, O César das Neves a assegurar que iremos para o inferno por causa do casamento gay, o Louçã a convencer-nos que o capitalismo nos suga o tutano e o ministro das Finanças a aumentar-nos os impostos de três em três meses, os portugueses deveriam estar incapacitados para sorrir, um sorriso deveria sinal de demência.

No dia em que fechar este manicómio colectivo em que se transformou o país só deveríamos conseguir sorrir depois de um longo período de fisioterapia, só assim conseguiríamos a dar vida aos músculos faciais associados ao sorriso. Mas, pelos vistos, os portugueses ainda conseguem sorrir, sinal de que adquiriram “anti-corpos” contra os espanta sorrisos da nossa classe política.