domingo, agosto 15, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pilrito-das-praias [Calidris alba], Praia do Cabeço

JUMENTO DO DIA

Pedro Mota Soares

Para o CDS os beneficiários do rendimento mínimo são simultaneamente os culpados de todos os males e a cura para esses mesmos males, a fixação do tema compreende-se pelos ganhos do populismo mas começa a ser paranóia.

É evidente que os beneficiários do rendimento mínimo poderiam limpar as matas, poderiam fazer trabalho social, poderiam limpar as praias, as estradas e os jardins, poderiam limpar e construir o país. É o milagre do CDS, os beneficiários do rendimento mínimo poderão fazer o que todo o resto do país não consegue fazer.

«"Temos cerca de 400 mil pessoas no rendimento mínimo. O que o CDS-PP quer é que as pessoas que têm capacidade activa para o trabalho o façam limpando matas, limpando florestas públicas, exactamente para garantir que não volta a acontecer o que tem vindo a acontecer nos últimos anos", justificou Pedro Mota Soares em declarações à agência Lusa.

Para o CDS-PP, os beneficiários do rendimento social de inserção "devem desempenhar uma função essencial" como "contraprestação" da pensão não contributiva que recebem do Estado. O projecto de resolução, que dará entrada no Parlamento em Setembro, recomenda ao Governo que até ao final do ano sejam celebrados "protocolos entre a administração central e câmaras municipais e juntas de freguesia" para "garantir que na próxima campanha, logo que acabem as chuvas e antes da época de incêndios, haja uma efectiva limpeza das matas nacionais públicas e dos baldios". » [CM]

PEDRO PASSOS COELHO APANHADO PELO EXPRESSO

Há jornais com sorte, conseguir entrar na casa de férias do futuro primeiro-ministro já quase eleito e apanhá-lo precisamente a escrever o discurso do Pontal, tudo isso sem que Passos Coelho dê pela presença do fotógrafo. Aposto que o Expresso ainda vai apanhar Passos Coelho no WC a fazer anotações ao seu projecto de revisão constitucional numa folha de papel higiénico.

É incrível a capacidade dos nossos jornais para tratarem os seus leitores como idiotas.

MAGALHÃES, UMA PEQUENA DESGRAÇA

«I. Aqui há uns tempos, os iluminados do Ministério da Educação decidiram que o passo que faltava na estrada dourada do progresso era a distribuição de computadores. Com um passe de mágica - financiado pelos contribuintes, claro está - transformaram todas as criancinhas da escola primária em orgulhosos proprietários de personal computers. A igualdade material era o elemento que faltava para o sucesso trans-classista. O estado intervinha com uma prenda azul, e permitia que todos pudessem ser o Steve Jobs lá da rua.

II. A bem da verdade, a tentação não foi exclusivamente portuguesa. Outros países aderiram ao mesmo raciocínio fácil: "distribuem-se computadores, brotam bons resultados". Entretanto, os factos vieram estragar esta utopia tecnológica. Recentemente, dois economistas de universidades americanas publicaram um estudo sobre o impacto dos computadores nos resultados escolares, focando-se em particular na Roménia. Conclusões? Miúdos que mexem em computadores ganham jeito para... mexer em computadores (ganham especialmente jeito para jogos, acrescente-se). Mas, atenção, as técnicas informáticas são apenas isso: técnicas. Se não souber escrever, se não souber raciocinar, um miúdo de 10 anos não sairá da cepa torta mesmo que seja o campeão mundial do "power point".

III. Pior: o estudo indica que as crianças mais desfavorecidas, em regra com pais menos escolarizados, saem pior do experimentalismo educacional. No caso romeno, tiveram piores notas a matemática e à língua materna, agravando ainda mais o fosso que já as separava dos meninos de classe média.

IV. Com tudo isto, é de esperar que o Ministério da Educação tire a devida lição: experimentar com crianças em idade escolar é profundamente errado, e pode arruinar-lhes o futuro. Se uma criança não souber calcular um troco simples, não vai ser o computador a tratar disso por ela. O computador é uma "técnica", um "instrumento" que está a jusante. A montante está a "essência": os conhecimentos, a capacidade de escrever, o raciocínio matemático. O "Magalhães" e afins são fraudes pedagógicas, porque metem o carro à frente dos bois.» [Expresso]

Parecer:

Já vi muitos ataques ao Magalhães mas este de Henrique Raposo parece o elogio da estupidez humana, quase sou obrigado a pensar que foi ele o primeiro aluno português a usar o maldito computador. Já o imagino a escrever uma crónica reproduzindo um estudo de dois professores americanos (símbolo de inteligência pois os professores dos outros países são todos burros) a assegurar que as velhas canetas de aparo contribuíam para o desenvolvimento intelectual das crianças.

Quase aposto que um dia destes o Henrique vai encontrar um estudo que prova que a energia eólica provoca cancro nas orelhas, enfim, tudo o que teve a mão de Sócrates é uma verdadeira desgraça.

Faço uma sugestão ao Henrique, como o Dr. Balsemão já está um pouco velhinho para levar o Passos Coelho ao colo porque não se oferece ao patrão para carregar o líder do PSD. Já agora carregava o Passos Coelho mais o Ângelo Correia.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Arquive-se por excesso de estupidez.»

MAIS UMA IRONIA DA HISTÓRIA

«Ontem passou na CNN. Homenagem obrigatória, aliás, do primeiro canal televisivo sem fronteiras. A notícia: renasceu a East India Company. Não é uma marca qualquer, é "a" marca, não é uma companhia qualquer é "a" primeira multinacional. Um comerciante indiano, Sanjiv Mehta, de 48 anos, comprou por algumas patacas a marca, registada em 1600!, East India Company (Companhia das Índias Orientais), e abriu uma loja fina em Londres. Chás indianos e mostardas japonesas, coisas assim, mas cheia de ironia histórica. A East India Company quando foi fundada também mercava meros objectos: as porcelanas chinesas de que os portugueses de Macau tinham monopólio no comércio para o Ocidente. Começou assim, com cerâmicas de massa fina, translúcida, de cores suaves e belos desenhos (flores de cerejeira, garças...), e acabou - porque o apetite vem com o comer - com a aventura imperialista inglesa da conquista da Índia. Essa companhia, a britânica, e depois a holandesa e a francesa, com os mesmos nomes - na esteira do que foi o tráfico português, estatizado -, foram de tal modo determinantes que Marx, em 1853, as estudou para combater o capitalismo. Mas este, possante, renasce numa pequena loja de Mayfair. A nova East India Company relembra que o capitalismo não tem pátria nem pontos cardeais, nem mesmo quando estes vêm na tabuleta.» [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A CULPA DA LESÃO DE NANI FOI DO RELVADO

«Carlos Queiroz culpou o mau estado do relvado do Real Sport Clube de Massamá pela lesão que afastou Nani do Mundial da África do Sul. Em declarações ao jornal ‘Expresso’, o seleccionador frisou que, no local onde Nani caiu, "a relva estava como pedra".

José Libório, presidente do Real, ficou indignado com a explicação do técnico. "É preciso ter muito baixo nível para dizer uma coisa dessas. Nós temos aquele que é considerado um dos melhores relvados do nosso país. Como é possível dizer que a relva estava como pedra se o campo tem uma base de areia?", disse ontem o dirigente ao CM.» [CM]

Parecer:

Pois, a preparação do estágio foi tão cuidada e Queiroz nem teve atenção à qualidade da relva, da mesma forma que também não a avaliou quando mandou o Nani brincar ao circo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

DETEIDO POR CONDUZIR UMA CARROÇA DE BURRO EMBRIAGADO

«Nos Salgueirais, uma pequena aldeia do concelho de Celorico da Beira, correu célere a detenção de Jorge Rodrigues, apanhado a conduzir uma carroça atrelada por um burro, com uma taxa de álcool de 2,84. Foi a segunda vez que tal aconteceu, mas nem as circunstâncias nem a elevada taxa causaram estranheza no povo. Afinal, "passa os dias a beber até cair".

Jorge, de 34 anos, foi apanhado na quarta-feira à noite, em Celorico, quando regressava a Salgueirais. "Mandaram-me parar e soprar ao balão", conta. Perante a elevada taxa de alcoolemia, foi conduzido ao posto da GNR enquanto o burro ficou à beira da estrada, "preso por um baraço [corda] a uma árvore", afiança Jorge.

Como em Celorico da Beira a GNR não dispõe de um aparelho para fazer a contraprova, Jorge foi levado à GNR da Guarda onde foram confirmados os 2,84 g/l de taxa de álcool. Ficou detido e na quinta-feira foi levado ao Tribunal de Celorico da Beira de onde foi mandado em liberdade até à realização do julgamento.

Foi buscar o burro e voltou à vida de sempre, na companhia da mulher, de 54 anos, Conceição. Jorge "não sabe ler nem escrever" e de leis "pouco percebe". Mas sabe que "esta foi a segunda vez" que foi apanhado a conduzir a carroça embriagado. » [DN]

Parecer:

Será que tem carta e o burro estava certificado pelo Instituto de Mobilidade?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a competente gargalhada.»

CONTINUING PAKISTANI FLOODS [Boston.com]

EUGENE VARDANYAN