quinta-feira, setembro 02, 2010

As voltas das presidenciais

Se nas próximas presidenciais haverá apenas um candidato eleito, são vários os candidatos e mesmo líderes políticos que não se candidatando serão ganhadores ou perdedores nestas eleições. Na primeira (e provavelmente única) volta das presidenciais está muito mais em jogo do a escolha de um presidente ou dos candidatos que disputarão a segunda volta, aliás, nesta volta os candidatos da esquerda estão mais preocupados com os ganhos políticos pessoais ou partidários do que com a escolha a que se candidatam.

O PCP tem razões para não morrer de amores por Manuel Alegre que ainda há poucos meses juntava-se a Louçã para promover iniciativas à medida do líder do BE, com o argumento de unir a esquerda tentava atrais personalidades do PCP tidas por "reformistas" com o objectivo claro de dividir este partido. Foi mais fácil a Álvaro Cunhal convencer os militantes do PCP a votarem em Mário Soares do que poderá vir a ser para Jerónimo de Sousa levá-los a votar em Alegre, até porque os tempos são outros e Cavaco nada tem que ver com Soares Carneiro. Aliás, duvido muito de que o PCP prefira Alegre a Cavaco, do segundo sabe-se o que se espera, o primeiro é uma caixinha de surpresas que podem ser desgradáveis.

O PCP não lança um candidato presidencial para se entreter, com Louçã a tentar dividir o PS chamando a si os louros dos votos de uma derrota de Manuel Alegre resta-lhe conseguir um bom resultado. O PCP não vai querer que um dos mais prováveis sucessores de Jerónimo de Sousa seja humilhado nas presidenciais quando tem uma excelente oportunidade de derrotar as intenções de Francisco Louçã.

A hipótese de haver uma segunda volta reside no nível da abstenção e da incidência desta nos eleitorados alvo dos diversos candidatos. Cavaco conta com algum descontentamento no eleitorado mais conservador e mesmo no eleitorado do PSD, ambos desiludidos com algumas das suas intervenções. Mas Alegre não tem melhor sorte e terá muitas dificuldades em convencer uma boa parte do eleitorado do próprio PS a votar na sua candidatura. Manuel Alegre corre mesmo o risco de ver uma parte do eleitorado do BE votar no candidato do PCP e uma boa parte do eleitorado do PS dividir-se pelos restantes candidatos ou abster-se. Um cenário possível com um elevado nível de abstenção à esquerda será uma derrota humilhante para Manuel Alegre, favorecendo claramente o candidato do PCP que não só conseguirá o pleno dos eleitores do seu partido como conseguirá votos nos eleitorados do PS e do BE.

Para Louçã sair vencedor destas presienciais não é necessário que Alegre vença ou chegue à segunda volta, interessa-lhe que Cavaco Silva para poder culpar o PS pela derrota do seu candidato devido ao pouco empenho dos seus dirigentes e militantes, aliás, já está a fazê-lo muito antes das eleições. Neste cenário Louçã conta com a frustração de Manuel Alegre que prosseguirá com a sua vingança contra José Sócrates a quem nunca perdoou pela derrota sofrida nas directas para a liderança do PS.

Mas se a derrota de Manuel Alegre for expressiva o BE tem a sua primeira grande vitória sobre o BE, Manuel Alegre perceberá que a liderança do PS não trem culpa dos eleitores não o desejarem. Louçã arrepender-se-á por ter optado por golpes baixos em vez de se ter candidatado e Alegre perceberá que está na hora de se dedicar à pesca.

A grande dúvida em relação às próximas presidenciais poderá não ser saber quantas voltas vão haver, mas sim quem são os grandes derrotados e os vencedores na primeira e única volta. Há claramente dois candidatos à vitória, Cavaco Silva e Xico Lopes, bem como dois candidatos à derrota, Manuel Alegre e Francisco Louçã.