quinta-feira, setembro 16, 2010

Deixemos a burguesia política a falar sozinha

O diagnóstico à economia do país está feito e a conclusão é inequívoca, precisa de produzir. Seja com mais ou menos despesa pública, com mais ou com menos flexibilidade da legislação laboral, com professores mais ou menos felizes, com magistrados mais ou menos satisfeitos, o país precisa de produzir e exportar mais.

Mas se olhar para o debate político, para as preocupações dos líderes políticos, para os muitos comentadores que escrevem artigos bem pagos tributados a 50% em sede de IRS, concluo que afinal o que se discute não é como produzir e exportar mais. O que preocupa toda esta gente não são as empresas que têm dificuldades em manter os seus trabalhadores ou em superar as barreiras que as afastam dos mercados externos. O que preocupa esta burguesia política que se instalou no país é a despesa pública, é a disputa desse imenso mercado estatal de compra e de vendas, fala-se muito em reduzir a despesa mas a verdade é assistimos a uma disputa quase violenta pelo acesso ao dinheiro dos contribuintes.

Esta burguesia política que vive no Estado ou à custa do Estado não está preocupada com a pequena metalurgia, com a fábrica têxtil, com o produtor de arroz ou de cereais, com a fábrica de Barrancos que transforma a carne de porco preto, com a fábrica de conservas de peixe, não está preocupada com as tais empresas que exportam ou podem exportar, que fecham por ir à falência, que podem criar emprego, que enfrentam prejuízos. Estão sim preocupados com empresas que nunca tiveram prejuízo como se isso só fosse normal para os outros, para os desprotegidos da burguesia política. Estão preocupados com os hospitais privados, com a banca, com os milhentos centros de diagnóstico, com a escolas privadas.

Estão mais preocupados com os trinta alunos que deixaram o colégio privado e tiveram que ir para uma escola pública porque os papás viveram no eldorado do crédito fácil do que com os muitos milhares de alunos que são obrigados a abandonar a escola pública. Compare-se o destaque que a comunicação social dá aos primeiros com a que dá aos segundo e tirem-se conclusões.

Cavaco Silva ainda teve a lucidez para alertar o país para a necessidade de exportar produtos transaccionáveis mas o que sucedeu? A burguesia política aproveitou o contexto do debate e atirou-se às obras públicas como se fossem estas o principal obstáculo à exportação. Compreende-se esta opção, essa burguesia não está vocacionada para criar riqueza, há muito que se habituou a partilhá-la e a apropriar-se de uma boa parte, alimentada pelos tais grupos empresariais que não sabem o que é ter dificuldades ou prejuízos, não precisam de procurar mercados, basta-lhes que os directores-gerais lhes façam as compras ou que lhes mandem os clientes dos serviços públicos.

É preciso acabar com este circulo vicioso imposto por um debate político viciado e começar a discutir os problemas do país, é preciso deixar de ouvir os burgueses da capital e ir perguntar aos empresários que também têm prejuízo o que é necessário para mudar o país, para produzir e exportar mais, é preciso fazê-lo sem intermediários oportunistas que avocam o estatuto de seus representantes.

É urgente deixar de discutir com base nos receios desta burguesia política e passá-lo a fazer em função dos problemas daqueles que produzem.