sexta-feira, setembro 03, 2010

O crescimento económico a qualquer custo.

É fácil conseguir o crescimento económico, basta juntar as receitas de Medina Carreira, as proposta que Ângelo Correia explicou a Pedro Passos Coelho, promover o despedimento de 150.000 funcionários em tempos proposto por Miguel Cadilhe, adoptar o projecto de revisão constitucional desenhado por Paulo Teixeira Pinto e seguir as brilhantes sugestões avulsas do bem sucedido Carrapatoso.

Outra solução seria o Estado empregar todos os desempregados dando prioridade aos professores, aumentar os funcionários tal como propõe Carvalho da Silva e multiplicar os apoios sociais seguindo as propostas do PCP e do BE.

Não pretendo com o sarcasmo dar razão a uma outra solução sarcástica feira por Manuela Ferreira Leite, a de que a melhor forma de fazer as reformas seria suspender a democracia durante uns tempos o que, aliás não é nada de novo, a democracia já esteve suspensa durante quarenta e oito anos e no pós-25 de Abril ocorrerem também algumas suspensões temporárias.

Só que Manuela Ferreira Leite brincou com as dificuldades de implementar determinadas reformas no contexto de uma democracia, muito dos nossos liberais feitos em MBA apressados parece terem perdido a lucidez ao ponto de num momento de desorientação do PSD levarem este partido a embarcar num delírio quase colectivo. Em vez de propor a suspensão da democracia adoptaram um projecto de revisão constitucional esquecendo que Portugal tem mais de dez milhões de portugueses enquanto que o Tribunal Constitucional apenas tem uns quantos juízes.

É evidente que Portugal precisa desesperadamente de crescimento económico, mas é importante não perder a lucidez ao ponto de esquecer que o crescimento económico só faz sentido se for conseguido com produção de riqueza e garantindo que esta riqueza é repartida por todos os portugueses, não podendo ser medida apenas pelo PSI20.

De nada serve ao país a que os Mellos criem mais riqueza investindo na saúde privada se isso apenas é conseguido à custa da transferência dos sectores mais lucrativos do SNS. Aliás, esta proposta aparentemente liberal em nada difere dos que acham que criam riqueza promovendo o emprego público, os pressupostos económicos são exactamente os mesmos.

De pouco serve aos portugueses que estão desempregados se conseguirem emprego à custa dos que estavam empregados e foram despedidos para que os primeiros sejam contratados com salários mais baixos. Ou que o aumento das exportações seja conseguido à custa da suspensão da modernização do país passando a “gastar” na promoção de exportações à custa da desvalorização do trabalho dos portugueses aquilo que se investia na modernização das infra-estruturas.

Não há grande diferença entre as propostas dos liberais e as da extrema esquerda. Uns querem que a riqueza seja investida em impostos no pressuposto de que estes serão reinvestidos com melhores resultados do que os conseguidos pelo sector privado. Os outros querem que deixem de ser cobrados impostos para que seja possível vender mais ao estrangeiro à custa dos saldos da mão-de-obra portuguesa.