segunda-feira, setembro 27, 2010

O orçamento presidencial

Cavaco está interessado em ajudar o país como prometeu quando se candidatou a presidente, José Sócrates tem a oportunidade de dar o protagonismo ao (candidato a) Presidente da República ganhando crédito para as alfinetadas que terá de dar em Cavaco como prova irrefutável de apoio a Manuel Alegre, Pedro Passos Coelho pode limpar os pontos negativos que somou durante o debate em torno do orçamento, estão reunidas as condições para fazer aprovar um orçamento presidencial. De fora fica o PCP que anda entretido a organizar manifestações e o Bloco de Esquerda que só se lembrou que é um partido político com assento parlamentar no momento em que o PSD sugeriu ao PS que fosse negociar com Louçã.

Sócrates sai a ganhar com Cavaco Silva a assumir o discurso da necessidade de medidas que contribuam para uma redução significativa do défice e Pedro Passos Coelho aproveita a oportunidade de recuperar alguma credibilidade junto de Cavaco Silva que ultimamente mostrou por várias vezes pouca consideração pelo líder do PSD.

Em pré-campanha não assumida para as presidências o talvez candidato Cavaco soma pontos frente a Manuel Alegre que parece estar mais interessado nas carpas do Rio Águeda do que nessa chatice do défice orçamental. Cavaco tem a oportunidade de dar a cara pela situação difícil do país num momento em que as receitas da esquerda conservadora, muito ao gosto de Manuel Alegre, estão excluídas pela actuação dos investidores no mercado. O défice público é muito ao gosto da esquerda, o problema é quando se pagam mais de 6% de juros e pode abrir a porta às receitas do FMI.

É mais fácil a Cavaco Silva juntar o PSD ao PS num acordo orçamental por ele patrocinado, do que Alegre reunir Louçã e Sócrates ao pequeno-almoço. Na próxima campanha presidencial Cavaco Silva poderá dizer que foi capaz de dialogar tanto com os partidos que apoiam a sua candidatura, como com o maior partido que apoia Manuel Alegre. Alegre que andou anos a dizer que queria unir a esquerda é incapaz de convencer Louçã a apoiar qualquer medida proposta pelo PS, a não ser que também esteja inscrita no seu programa.

O resultado é aquele que se vê, Cavaco dá a cara pela superação da crise financeira enquanto Manuel Alegre desaparece pois sabe que nem pode afirmar o seu discurso do género “os défices são porreiros”, nem é capaz de unir os seus apoiantes em torno de um único objectivo nacional.

O orçamento que vai ser aprovado será um orçamento presidencial, será o orçamento que garantirá a estabilidade política durante o ano em que se realizarão eleições presidenciais. De pouco servirá a Alegre o argumento de que não dissolverá o parlamento, Cavaco lembrar-lhe-á que Sócrates ameaçou que não governaria sem orçamento e se tal não sucedeu a ele o deve. Cavaco poderá ainda acrescentar que é capaz de unir o país em torno dos problemas, enquanto Alegre é incapaz de unir os seus apoiantes em torno do que quer que seja.