sábado, setembro 18, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Castelo de Almourol

PORTUGAL VISTO PELOS VISITANTES D'O JUMENTO

Barcos tradicionais do Tejo [Imagem de A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Jorge Costa, deputado do PSD

Gostei de ver o deputado Jorge Costa com um ar muito sério e preocupado acusar o governo de atraso na decisão de suspender a construção da linha do TGV até ao Poceirão. Quem o visse falar era capaz de pensar que o deputado não sabia que esta decisão é tão velhinha quanto o PEC acordado com o seu partido e que o que agora ocorreu foi apenas a publicação da decisão no Diário da República.

Irrita ver estes burgueses da política falarem no pressuposto de que os portugueses são idiotas, ainda não perceberam que os verdadeiros idiotas são eles.

FUGIR PRÁ A FRENTE À MODA DE MADAÍL

«Receita. Pegue num incompetente. Depois de ele ser incompetente, elogie-o. Depois de elogiar o incompetente, despeça-o por uma razão qualquer (por dizer palavrões ou por se bronzear com lâmpadas ultravioletas, tanto dá). Até agora a receita é vulgar, de prato menor. A seguir é que vem a haute cuisine. Embarque para uma capital europeia, não sem antes apregoar: "Vou contratar o Ferran Adrià, o alquimista das cozinhas." Mas ele não está no El Bulli? Espante o povo: "Aí é que está: contrato-o só para fazer dois jantares!" Só para dois jantares? "Nem isso, ele não precisa de entrar na cozinha. Faz o menu por telefone." Sente-se com o Ferran Adrià por longas horas, para que a notícia do encontro se espalhe. Deixe que façam o refogado do acontecimento: diz-se que o sonho do Adrià era acabar a carreira, um dia, a fritar sardinhas, e se ele já disse que está disposto, porque não agora? Polvilhe com cepticismos: mas o real El Bulli deixa? mas tem lá jeito cozinhar à distância? mas quem perde tempo a fritar sardinhas quando tem cozinha molecular para tratar?... Saia do encontro com ar esperançoso e diga: "Alea jacta est", ou qualquer outra coisa que não se entenda. Espere que o El Bulli se pronuncie. E quando ele fizer um manguito desconstruído, ponha ar de quem fez tudo que estava ao seu alcance. Contrate o primeiro que lhe apareça, com toda a tranquilidade. » [DN]

Parecer:

Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

OS LACAIOS DO 'SOCCIALISMO'

«Há muito tempo que não lia o Avante!, confesso. Faço mal. É instrutivo ler o Avante!. E divertido, sobretudo para quem aprecia o non sense e não se incomoda com o humor negro. Para quem, por exemplo, ao ler uma notícia na edição de 8 de Julho sobre o primeiro congresso do Partido Comunista Romeno em que se reproduzem as palavras do seu líder (o derrube do regime de Ceausescu em 1989 resultou num "genocídio social") e se anota o "minuto de silêncio" observado "pelas vítimas do capitalismo" (ou seja, as vítimas da democracia que permitiu à Roménia entrar na UE) não se escandalize com a total falta de referências aos pavores do ceausesquismo - das perseguições dos opositores pela Securitate à política de natalidade forçada e às casas de extermínio que eram os orfanatos romenos.» [DN]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

ENTRE A HUMILHAÇÃO E O ALÍVIO, AGRADEÇAMOS A BRUXELAS

«Para Alegre, o facto de Portugal submeter a sua estratégia orçamental à avaliação externa "não agrada", porque se trata de "uma competência específica e exclusiva da Assembleia da República". Há, depreende-se, uma inaceitável perda de soberania, que, com o candidato-poeta em Belém, supostamente não passaria. Esta não é a posição do partido de Alegre, o PS, mas é a do seu candidato e de toda a esquerda parlamentar. Pena que esta linha de argumentação ignore que a partilha de uma moeda representa, por si só, uma partilha de soberania - algo que ficou evidente na crise grega, que ameaçou a estabilidade financeira de Portugal e de toda a zona euro, mas já tinha ficado patente muito antes, quando prescindimos do poder de cunhar moeda e de dominar as taxas de juro. Não ouvimos Alegre, nem quem defende posições semelhantes, protestar contra a descida drástica das taxas de juro trazida pelo euro, que permitiu que sucessivos governos (sobretudo do seu partido) se endividassem na década passada para expandir o Estado social e o clientelismo político. Mas agora que a factura do contrato do euro aparece - engordada pela irresponsabilidade gastadora de vários governos e pela incapacidade do Parlamento -, Alegre e a esquerda esquivam-se. Ficamos elucidados. » [i]

Parecer:

Por Bruno Faria Lopes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

À PROCURA DE NOVOS PARADIGMAS

«Sou particularmente sensível ao fenómeno do desemprego. Por duas vezes passei por essa situação, qual delas a mais dolorosa.

A primeira vez com 26 anos; a segunda, com 55. Ambas por motivos políticos. Tinha três filhos e, ao todo, sete pessoas a meu cargo. Deitei mão a tudo: escrevi discursos para empresários, para políticos e, até, de apresentação de um ano lectivo. Traduzi livros em quinze dias. Utilizava máquina de escrever e o ruído que ela fazia, pela noite fora, até madrugada, incomodava a minha mulher e os meus filhos, muito pequenos. Para não perturbar os seus sonos, por vezes fechei-me na casa de banho. Certa ocasião, o meu cansaço era tanto que adormeci.

Nada da minha história é importante. Serve para lhes dizer que é muito difícil, quase impossível, que eu desista das dificuldades, quaisquer que elas sejam. A minha resistência é, afinal, a resistência de qualquer homem normal. Creio. O desemprego comove-me. Sei o que se passa nessa horrível situação. Chegam a evitar-nos, quando nos vêem, talvez receando que lhes possamos pedir dinheiro. Camilo Castelo Branco escarmentou-os muito bem: "Amigos, cento e dez ou talvez mais / eu tive um dia; / porém, ceguei, e desses cento e dez impávidos sacanas / só um ficou." É uma experiência extrema, no interior da qual a solidariedade parece arredia. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Baptista-Bastos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

HÁ TESTEMUNHAS A MAIS NOS JULGAMENTOS?

«O Conselho Superior da Magistratura (CSM), órgão de gestão e disciplina dos juízes, vai avançar com propostas de alteração do Código do Processo Penal (CPP), no que diz respeito à fase de julgamento de um processo. Os juízes, tendo como pano de fundo o processo da Casa Pia, estão preocupados com as possibilidades abertas pela actual de arrastar um julgamento, nomeadamente quanto ao número de testemunhas.

Em declarações ao DN, o juiz-conselheiro Bravo Serra, vice-presidente do CSM, confirmou que o órgão irá apresentar ao poder político um conjunto de propostas para alterar alguns aspectos do CPP em matéria de julgamentos. "O conselho entende que, encerrada esta fase do processo da Casa Pia [julgamento] há ilações que se podem tirar. Para que estas situações não se voltem a repetir", explicou Bravo Serra, referindo-se à morosidade da fase do julgamento. Que, recorde-se, começou em Novembro de 2004, terminando esta semana (segunda-feira) com o depósito do acórdão na secretaria do tribunal.» [DN]

Parecer:

Se o MP avançou com centenas de acusações era evidente que iriam haver centenas de testemunhas e, como se viu, quase todas essas centenas de acusações caíram por terra.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao CSM se não acha que também foram feitas acusações a mais.»

BUSCAS NA LISCONTI

«A Policia Judiciária está a fazer buscas na Liscont, empresa do grupo Mota-Engil, conhecida através do polémico ' Caso dos Contentores'. As buscas estão a ser feitas no âmbito de um inquérito que corre na 9ª secção do DIAP de Lisboa e tem a ver com eventuais suspeitas de favorecimento na renovação do contrato de exploração do terminal de Alcântara, em Lisboa.

O Ministério Público avançou com uma investigação à prorrogação do contrato de exploração do Terminal de contentores de Alcântara, concedida à Liscont pelo Ministério das Obras Públicas de Mário Lino em 2008, alargando período de exploração por mais 27 anos. A investigação foi aberta na sequência de uma auditoria do Tribunal de Contas. Recentemente, o Tribunal Administrativo de Lisboa decretou a nulidade do contrato.» [DN]

Parecer:

Digo o mesmo que disse ontem em relação Às investigações a uma empresa do grupo SLN, que a investigação deve seguir o seu curso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pela conclusão da investigação.»

DEFICIENTES DISCRIMINADOS

«Mais de 400 euros por mês. Era quanto Bruno, 31 anos, pagava todos os meses pelo seguro de vida que precisava por causa do crédito à habitação. O agravamento da apólice era de 1000%, devido à sua deficiência, e superava largamente a bonificação a que tinha direito no crédito. Por isso, acabou por queixar-se à Deco. É por continuar a receber queixas destas que a Provedoria da Justiça alerta para a discriminação de que são alvo os deficientes nos seguros para compra de casa.

O que está em causa, explica Miguel Coelho, responsável pela área dos assuntos judiciários na Provedoria, é o facto de a bonificação a que as pessoas com deficiência ou risco de saúde (por causa de doenças crónicas) têm direito quando fazem um crédito ser completamente "desvirtuada" por terem de pagar seguros de vida agravados por essa mesma incapacidade.» [DN]

Parecer:

Quatrocentos euros por um seguro de vida para aceder a um crédito à habitação que fica hipotecada enquanto a dívida não for paga não é apenas discriminação, é um roubo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Questionem-se os bancos e companhias de seguro para que demonstrem os prejuízos que sofreram com créditos à habitação concedidos a deficientes.»

DANIEL DOYEEN

VW