sexta-feira, setembro 24, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Papa-moscas-cinzento na Quinta das Conchas, Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Trânsito condicionado (imagem de A. Cabral)

JUMENTO DO DIA

João Marcelino, director do DN

Já é habitual que os líderes políticos quando estão na oposição sofram do síndroma da ponte de Entre-os-Rios e rezem para que aconteça algo de mau ao país, que os banqueiros delirem com os juros que Portugal paga pela sua dívida pois pagar juros de depósitos a prazo a 3% e emprestar em segurança ao Estado a mais de 6% é um negócio da China. Mas algo está mal quando um jornal supostamente sério produz notícias falsas para fazer fretes políticos não se sabe bem a quem, ou talvez não.

São tantas as vozes a querer lançar a dúvida sobre a credibilidade do país que começo a concordar com quem diz que anda por aí gente interessada na vinda do FMI.

O DN sabia que ao dizer que o comissário europeu vinha a Portugal fiscalizar o orçamento estava a mentir, mas apesar do desmentido formal da Comissão Europeia ao jornalista este insistiu na manchete falsa.

Depois de manter a mentira na manchete o jornal volta ao tema na edição online mas não tem a coragem de assumir o erro, limita-se a informar que :

«O Diário de Notícias publica hoje que a Comissão Europeia vai enviar uma equipa chefiada pelo comissário Janusz Lewandoski para "passar a pente fino as contas públicas portuguesas, tal como fez com a Irlanda"» [DN]

Quanto a desmentido ou pedido de desculpas aos leitores nada, a mensagem mentirosa passou e era esse o objectivo do jornalista e do jornal. o mais curioso deste acto de jornalismo sujo é que entre as "fontes parlamentares" que deram a matéria para a manchete e a Comissão Europeia o jornalista do DN preferiu a mentira das suas fontes parlamentares. Pois, num dia Passos Coelho começa a lançar dúvidas sobre as contas públicas e no outro o zeloso jornalista do DN fica a saber graças às suas credíveis "fontes parlamentares" que o comissário europeu vem verificar as fontes.

Onde está o respeito do DN pelos seus leitores? Não só o jornal demonstra falta de respeito por quem (ainda) o lê como, pior ainda, acha que os seus leitores são idiotas ao ponto de nenhum deles ser capaz de desmontar a falsidade inventada pelos seus jornalistas. Terá havido mesmo alguma fonte parlamentar? Sou capaz de duvidar, quem mente premeditadamente até pode inventar fontes. Isto é, a credibilidade do DN está muito abaixo da das contas públicas.

GOOGLE TRANSPARENCY REPORT

Com o objectivo de combater a censura o Google lançou uma nova ferramenta, o 'Google Transparency Report' onde se dá a conhecer o número de pedidos de informação ou de bloqueio de sites formulados pelos governos de todo o mundo e o números destes pedidos que foram atendidos.

No caso de Portugal o número de pedidos formulados ao Google entre Janeiro e Junho deste ano foi de 73, um número apreciável se o compararmos com Israel, um país em guerra e que enfrenta diariamente o terrorismo que fez apenas 30 pedidos. Espanha, outro país que enfrenta o fenómeno do terrorismo formulou 372 pedidos, um número que depois de corrigido pela diferença de utilização da internet será certamente um número inferior ao de Portugal.

Destes pedidos formulados pelas autoridades portuguesas menos de 10 deram lugar à remoção total ou parcial de conteúdos, isto é, o Google entendeu que não havia fundamentos jurídicos ou que a natureza dos conteúdos justificassem a censura. Quem formulou estes pedidos? Entidades governamentais, polícias, Ministério Público?

Quem foram os portugueses que alguém tentou silenciar, que conteúdos estão em causa, quem os tentou silenciar? Infelizmente não sabemos.

É uma pena que num parlamento onde anda tanta gente com sintomas de asfixia ou de intoxicação, onde se fazem comissões parlamentares de inquérito para apurar as causas da baixa médica da Manuela Moura Guedes, ninguém se incomoda muito com a qualidade da democracia na perspectiva do cidadão comum, daqueles que não têm tempo de antena nas televisões, que não lideram partidos e que apenas acham que podem fazer uso da sua liberdade.

O CONSULTÓRIO

De um visitante d'O Jumento recebi a imagem da placa do "consultório" de um deputado e o comentário que reproduzo:

«Quando passar numa das principais artérias da cidade de Lamego, não vai precisar de muita atenção para esbarrar numa original placa. Não se trata de um escritório de advogado, ou um consultório médico, nem mesmo de um gabinete de contabilidade, mas sim da novíssima profissão liberal de, imagine lá... deputado!! A mediocridade não enxerga além de si mesma, já dizia Doyle e, antigamente este tipo de pessoas recebiam apropriado adjectivo mas hoje, ainda que tal aconteça pouco lhes importa... já perderam a noção do ridículo e a vergonha!». [in "Viseu, Senhora da Beira"]

Bem, até se compreende que um deputado dedicado às populações que o elegeram tenha um espaço para eleger oe eleitores. Um dia destes vamos ver muitas placas destas, até é provável que alguns deputados, principalmente os das grandes cidades, a especializarem-se. Vamos ver placas do género "deputado fulano tal, especializado e lutar pela privatização da saúde", as áreas de especialização não vão faltar, "especialista em pedir mais polícias", "em defender os professores", "em protestar contra encerramento de maternidades", etc.

QUEM MATOU O JAIME DO Ó, CONHECIDO EM PROENÇA-A-VELHA PELO 'JAIME GALINHA'?

Não foi o primeiro a tentar abusar de um burro, anda por a'i' um conhecido jornalista que tentou fazer o mesmo.

VÃO OU NÃO VÃO?

«De qualquer modo é um tema aliciante, e como estas crónicas são lidas por muitos leitores no formato ‘online', desafio esses leitores a fazerem as suas apostas. Isto é: o défice orçamental de Portugal vai ficar acima dos 7,3% ou fica igual ou abaixo disso? Quanto é que apostavam hoje para receber €100 no final do ano se ganhassem a aposta do lado do Governo? E quanto é que pagavam hoje para receber €100 no final do ano se ganhassem a aposta pelo lado da oposição?» [DE]

Parecer:

Esperava mais de um professor de economia e presidente do ISEG do que um desafios aos leitores para que façam apostas em relação ao défice de 2010. Num contexto de ataques especulativos João Duque sabe muito bem que com estas coisas não se brinca.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Arquive-se.»

GENTE FINA É OUTRA COISA

«É mais uma farpa a alimentar o folhetim sobre a demissão de Manuel Maria Carrilho. O embaixador português na UNESCO disse ontem que a decisão para que cessasse funções em Paris foi tomada ao mais alto nível: "É natural. A nomeação, como a demissão, de um embaixador político, como é o meu caso, é uma decisão do primeiro-ministro", explicou à Lusa.

A polémica estalou segunda- -feira quando a Lusa noticiou que Carrilho iria abandonar o cargo junto da organização para a Educação da ONU na "rotação de Outono" de diplomatas. No dia seguinte, o ex-ministro socialista e o actual ministro dos Negócios Estrangeiros envolveram-se numa troca de desmentidos. » [DN]

Parecer:

E Carrilho é tão cremoso que não poderia ser demitido por ninguém abaixo do primeiro-ministro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

CHEGOU O SIMPLEGIS

«Setenta e quatros anos depois de aprovado, o Código Administrativo de António de Oliveira Salazar vai passar à história. O Conselho de Ministros aprecia hoje uma proposta para revogar essa e outras 432 leis que não se aplicam mais. A medida é o primeiro passo do Simplegis, um programa de simplificação legislativa.

O Código Administrativo de 1936 era composto por cerca de 600 artigos, mas de acordo com o Governo apenas dez ainda se mantêm em vigor. A intenção do Executivo é inscrever essas normas noutros diplomas, retirando os obstáculos à revogação do código.» [DN]

Parecer:

A verdade é que depois de tanta revisão o código pouco tinha que ver com o original.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»

O DICIONÁRIO AZUL TEM PALAVRÕES

«As escolas que recomendaram a compra de um dicionário com palavrões aos alunos do 1.º ciclo admitem ter-se tratado de um "lapso" na indicação da cor da capa da obra da Porto Editora. Escolheram a capa azul, com a designação de Dicionário de Língua Portuguesa, mas deveriam antes ter sugerido o Dicionário Básico de Língua Portuguesa cor de laranja, que a editora garante ter elaborado "especificamente" para o 1.° e 2.º ciclos do básico. Apesar disso, as crianças dos seis aos dez anos vão continuar a usá-lo.» [DN]

Parecer:

Boa desculpa!

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

CENTO E QUANTOS?

«Mais de uma centena de polícias encontrava-se às 18h00 no Terreiro do Paço para dar início a uma concentração pelo descongelamento das promoções na Polícia de Segurança Pública (PSP).

"Determinados e unidos, lutamos por direitos - distrital de Coimbra", lê-se num dos cartazes colocados junto à estátua de D. José por sindicalistas da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), que convocou o protesto, a que aderiram outras estruturas sindicais.» [Expresso]

Parecer:

São menos polícias do que num dia de semana anda na caça à multa na Baixa de Lisboa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso amarelo.»

DEPOIS DA INTOXICAÇÃO PASSOS COELHO TEME SER ENVENENADO

«O líder do PSD afirmou hoje em Arouca que não aceita "presentes envenenados do Governo" e respondeu ao Governo dizendo que "o que o País não precisa neste momento é que se comece a falar de mais impostos".Pedro Passos Coelho, falando após o anúncio do ministro Pedro Silva Pereira no final do Conselho de Ministros de que o PSD recusou negociar previamente a viabilização do Orçamento do Estado para 2011, lamentou os termos em que o governo anunciou o resultado da conversa entre ele e o primeiro ministro e frisou que não aceita a vinculação do PSD a um novo aumento de impostos para além dos já previamente acordados.» [i]

Parecer:

Parece que Pedro Passos Coelho tem a fobia dos venenos e intoxicações.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Passos Coelho qual é o presente.»

NO 'ALBERGUE ESPANHOL'

O post "Redes sociais: dos alfinetes e dos elefantes", da responsabilidade de Francisco Moreira de Sá:

«As Redes Sociais atingiram um ponto tal que hoje é impossível ser indiferente à sua influência e importância enquanto ferramenta de comunicação de massas. As Empresas, as Instituições Públicas e os Particulares utilizam-nas para os mais variados fins.
De quando em vez alguém se lembra de proibir ou limitar o acesso a estas ferramentas. A desculpa é sempre a mesma: os trabalhadores não trabalham pois andam entretidos nas redes sociais. Ontem não trabalhavam por causa do cigarrito ou da casa de banho ou do telemóvel ou por serem judeus, quiçá pretos, maybe ciganos e de certeza gays!
Nestas alturas lembro-me sempre do filme “Je vous salue, Marie” e da fantochada contra o dito via brigada dos bons costumes. Resultado, um filme fracote tornou-se um mega sucesso de bilheteira. Proibir o acesso às redes sociais, ao mais puro estilo Kim Il Sung, não é apenas uma estupidez, é um rematado disparate – se não entra pela porta, entra pela janela e aqui a janela tanto pode ser o telemóvel como o iPad ou um mero atalho digital criado para contornar a proibição.

(...)»

A MENINA DANÇA?

As hostes de Passos Coelho estão inspiradas, é o que se pode concluir da justificação dada por Vasco Campilho, um coelhista militante, para a recusa do PSD de negociar o orçamento:

«O ministro Silva Pereira veio-se queixar de que o Governo levou uma tampa do PSD. Pudera! É que o convite para “negociar previamente o Orçamento” é o equivalente político a convidar uma moça a ir directamente para o quarto sem sequer lhe fazer a corte. O ministro sabe bem que, aconteça o que acontecer dentro do quarto, à saída é sempre a moça que fica mal vista. Poupe-nos o ministro Silva Pereira à sua cara compungida de rapazote bem-comportado: é evidente que à proposta indecente do Governo o PSD só podia dizer não. Se o Governo quer ter parceiros de boa-fé, faça o que lhe compete, apresente uma proposta orçamental em termos e aceite debatê-la aonde ela deve ser debatida – no Parlamento. O resto são truques de Casanova estafado.» [vascocampilho.net]

Deixem-me tentar perceber qual a posição do PSD, quanto à dança tudo bem mas antes de decidir se dança Pedro Passos Coelho exige que a menina seja virgem e apresente provas disso, que tenha boa perna, que saiba dançar e, se possível, que dance sozinha enquanto ele decide se dança ou se o melhor é esperar pelo próximo baile.

Enfim, o ridículo chegou ao orçamento, estes rapazes andam tão endiabrados com o poder que têm graças a uma minoria de deputados que se esquecem que um dia destes vão a eleições.

THORSTEN