quarta-feira, novembro 17, 2010

Os jovens tigres



Se há algo que caracteriza o actual poder é o domínio de uma nova classe de “jotas” que já não correspondem aos habituais militantes das juventudes partidárias, esses ficam-se pelos gabinetes de assessores dos autarcas e pelas empresas municipais. Nos gabinetes ministeriais impera uma outra classe de “jotas” diria mesmo de jotas mais finos que ascendem ao poder impulsionados pelas raízes de poderosas árvores genealógicas, pelos laços de amizade criados nas universidades, nas consultoras ou nos escritórios de advogados onde estagiaram.

Estes jovens tigres são inexperientes, deslumbrados com o poder e mordomias dos gabinetes ministeriais, num dia andavam a comer sopas, no outro andam de BMW com motorista, num dia ganham mil euros num escritório de advogados onde desempenham as tarefas rotineiras, no outro são distintos adjuntos de secretários de Estado ou chefes de gabinete. Sem experiência, ávidos de poder e com um profundo desprezo pela Administração Pública tem como único objectivo fazer currículo e regressar aos escritórios e consultoras com direito à promoção.

Cheios do poder que vem dos laços familiares, da amizade do ministro ou do secretário de Estado ou da passagem pelo núcleo duro de apoiantes do primeiro-ministro têm um profundo desprezo pela hierarquia da Administração Pública, para eles o que conta não é a competência ou a defesa dos interesses do Estado, é o poder que cada um tem e a capacidade de usar a informação dos serviços para influenciar a opinião pública. Se o povo está descrente procuram-se indicadores de sucesso, se o povo está revoltado fazem-se fusões e saneamentos e exibem-se os culpados, estes jovens tigres são uma versão moderna e liberal dos antigos guardas vermelho da revolução cultural de Mao.

Alguns são bem sucedidos e chegam mesmo a secretários de Estado depois de uma passagem como assessores de Sócrates ou chefes de gabinete do ministro, é o que sucede no ministério das Finanças, cheio de gaiatagem agressiva onde Teixeira dos Santos parece o pai da malta. E pelo que dizem esta é uma realidade comum a muitos gabinetes ministeriais, estão cheio de jovens tigres visionários convencidos de que por serem filhos ou genros de Guilherme Oliveira Martins ou porque por terem tomado o pequeno-almoço com Sócrates são detentores do dom da competência ilimitada e de um poder que não emana de um regime democrático mas sim do facto de pertencerem à corte de um vencedor de eleições.

O risco de levarem o PS a uma derrota humilhante nas próximas legislativas não os incomoda muito, a uma boa parte deles tanto faz que governe o PSD como o PS e quando mudar o governo regressarão às consultoras e escritórios de advogados onde serão promovidos em sinal de gratidão pelas encomendas de falsos estudos que fizeram ou pelas leis simpáticas para os negócios que ajudaram a adoptar. Exibirão nos seus currículos os elevados cargos que desempenharam sem que neles conste a incompetência que promoveram.