sábado, novembro 06, 2010

Pois, ninguém quer o FMI

Se a situação não fosse tão grave até ficaria divertido vendo as “elites” nacionais a rejeitarem o FMI, até parece que estão muito preocupados com as dificuldades dos mais pobres e receiam que as receitas do FMI agravem ainda mais a situação dos mais carenciados. Agitam a antiga imagem de papão do FMI para assustar os portugueses tentando dar a entender que as receitas nacionais resolvem o problema sem que sejam tão duras.

Se eu fosse um líder partidário também recearia a vinda do FMI, os governantes podem gerir a austeridade condicionando as medidas a critérios eleitorais, o mesmo quer o líder do PSD que prefere negociar o OE de forma a que as suas clientelas não sejam atingidas pelas medidas mais duras, enquanto a extrema-esquerda continua a prometer o céu na terra à custa do dinheiro que os grandes capitalistas nos emprestam a juros de mais de 6%.

Se eu fosse banqueiro também não quereria ver o FMI por estas bandas, comprando o dinheiro a 1% ao Banco Central Europeu para o vender ao Estado a mais de 6% ou aos consumidores a 14%, enquanto quase nada se paga pelas poupanças depositadas nos seus cofres, a pior coisa que poderia suceder aos banqueiros era o Estado poder negociar taxas mais baixas fora do sistema financeiro e, em contrapartida, ter de adoptar medidas que acabem com um modelo consumista que coloca toda a economia nas mãos da banca.

Se eu fosse sindicalista profissional à décadas também não quereria que viesse alguém de fora impor modelos de organização económica que pusesse o meu poder em causa. O actual modelo alimenta centenas de sindicalistas profissionais que a troco da paz social nas empresas impõem a estas o pagamento de mordomias e a protecção dos empregados em prejuízo dos desempregados.

A vinda do FMI obrigava a adoptar medidas em função da economia e não de interesses corporativos de estratégias eleitorais, dos interesses da banca ou das grandes cadeias de distribuição, isso seria uma desgraça para os interesses instalados que estão a conduzir a economia portuguesa à bancarrota.

O argumento de que as medidas do FMI seriam mais duras é uma mentira, há anos que os portugueses ou parte deles sofrem medidas de austeridade e todos sabem que no próximo anos terão de sofrer medidas ainda mais duras para compensar o atraso e ineficácia das actuais. O problema não está nas medidas, está na perda de poder daqueles que vivem e enriquecem à custa do empobrecimento do país e dos portugueses.

O problema é que a situação é tão grave e a incompetência é tão generalizada que a vinda do FMI é quase inevitável.