sábado, novembro 20, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Flor de eucalipto, Estádio Universitário, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Teixeira dos Santos

Depois de ter cortado o vencimento de alguns funcionários públicos para compensar as consequências financeiras da sua gestão incompetente das contas públicas o ministro das Finanças tenta agora transformar esse corte de vencimentos numa estratégia económica, sugerindo que foi o exemplo dado pela Função Pública para a contenção de custos salariais em toda a economia.

Isto é puro oportunismo de um ministro incompetente que é incapaz de controlar as despesas do Estado e trata agora de sanear a sua má imagem à custa dos sacrifícios que impôs aos funcionários públicos.

«A recomendação do ministro da Finanças é para a economia como um todo, incluindo o sector privado.

Na assinatura de dois empréstimos entre Portugal e o Banco Europeu de Investimento (BEI), Teixeira dos Santos sublinhou que a politica de contenção salarial recomendada inclui o sector privado "já que o sector público já deu o exemplo".» [DE]

JORNALISMO TOTALITÁRIO

«Esta semana, o Correio da Manhã e o DN publicaram peças em que se reproduziam excertos daquilo que era apresentado como uma conversa da eurodeputada socialista Edite Estrela com Armando Vara gravada em Junho de 2009 e cuja transcrição, dizia-se, "está" no processo "Face Oculta".

Os excertos reproduzidos diziam respeito a opiniões da eurodeputada sobre os seus colegas de grupo parlamentar que, porque alegadamente insertas num processo criminal entretanto público, foram consideradas por estes dois jornais como constituindo facto de interesse público e portanto publicável. Os jornais não entenderam, perante o teor da dita conversa, fazer algumas perguntas básicas, como: que está isto a fazer num processo criminal? Que relevância tem para a obtenção de prova? É legal manter esta conversa no processo? Chega para ser legal que a escuta tenha sido, após transcrita, validada por um juiz? Se esta escuta não tem qualquer relevância para o processo em causa, que critério presidiu à sua não destruição?

Não, os jornais não perguntaram nada. Ou por outra, este jornal onde escrevo decidiu perguntar aos "visados" pelas opiniões de Edite Estrela que opinião têm das opiniões dela. Alguns escusaram-se. Mas Ana Gomes, por exemplo, achou a coisa de gargalhada. Sim: à inflamada denunciadora da violação dos direitos humanos em Timor, Guantánamo e aviões da CIA em geral, à mulher que ninguém cala - e bem - a propósito do abuso de força pelos Estados, a escuta sem critério e a reprodução mercantil de conversas privadas em Portugal dá uma louca vontade de rir.

A risota de Ana Gomes é o retrato da bonomia com que a generalidade das pessoas assiste à edificação de um totalitarismo que as devia aterrar. Um totalitarismo que estabelece o sistema judicial como centro do poder - um poder insindicado e insindicável, que recusa qualquer questionamento como "interferência" e "pressão" - e o jornalismo como o seu braço armado, reagindo a qualquer crítica com o anátema da censura; um totalitarismo que transforma dois dos mais preciosos garantes da democracia nos seus carrascos. Como todos os totalitarismos, este afirma-se incidindo primeiro num grupo, para depois alargar o seu âmbito. Quem não faz parte do grupo atacado encolhe o ombros: "Não é comigo"; a banalização da perseguição acaba por a naturalizar: "Eles merecem."

Há quem não se ria: no domingo, José Leite Pereira, director do Jornal de Notícias, referia-se à "notícia" do Correio da Manhã como "jornalismo de sarjeta" e "crime". Segunda- -feira, ao receber o Prémio Gazeta de Jornalismo, o repórter da Visão Miguel Carvalho dizia: "Sei que o jornalista não pode mudar o mundo. Mas continuo a pensar que é nosso dever tentar exercer a profissão como se isso fosse possível. E para isso não basta ser livre. É preciso ter coragem." Coragem, então. Precisamos de muita. Antes que o jornalismo, ou isto que tomou o seu nome, mude mesmo o mundo - e não para melhor. » [DN]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

VIDA A MAIS, POLÍTICA A MENOS

«Há excesso de política. Há excesso de conflitos políticos, interpelações políticas, intrigas políticas. A democracia é feita disso, é certo. De múltiplas e livres vozes. Mas a realidade em Portugal não é essa. As vozes são menos diversas e muito menos livres do que parecem. As palavras são muitas, jorram em catadupas, mas dizem todas a mesma coisa. Nesse sentido, não há palavras a mais, como afirma o Presidente, pois faltam muitas outras que não são da ordem da política. Palavras sobre tanta coisa importante condenada à sombra por causa da ocupação totalitária dos intermináveis discursos da política.

Na origem estão os media e a sua lógica implacável. Quem não passa na televisão não existe. Um pouco de história mostra como a adaptação da política aos media começou por ser de desconfiança e resistência para acabar numa entrega total. Hoje a informação confunde-se com a política. Os jornalistas tornaram-se políticos; os partidos agências de informação. Com esta amálgama insalubre, o verdadeiro pântano de que falou um dia um primeiro-ministro em apuros, tudo se tornou campo da política. Veja-se como em Portugal, com exceção do futebol, praticamente não se fala de mais nada. Não são só as capas dos jornais, as rádios ou os telejornais que nos invadem, dia a dia, hora a hora, com as últimas notícias deste mundo muito agitado mas que raramente sai do mesmo lugar. Na sua vastíssima maioria essas notícias são aliás absolutas não-notícias. Declarações que nada adiantam e muito atrasam. Intrigas partidárias, achas para a fogueira, conflitos inócuos. Que arrastam tudo e todos para altercações sem sentido nem destino. Que perturbam atividades e vidas de forma inexorável.

E, no entanto, há muito que a política nacional não produz um pensamento digno de registo. Faltam ideias novas, lá onde abundam as velhas tramoias. O país está suspenso e deprimido com tanto mau augúrio. À direita Portas está claramente "burnout" e Passos Coelho ainda não passou da infância da arte. No PS começam a saltar os "carapaus de corrida" que pensam mais nas suas insípidas carreiras do que no país. À esquerda sonha-se com um passado feito de pesadelos.

Veja-se o caso de Manuel Alegre. Candidato da esquerda, ou melhor dito de parte dela, tornou-se comentador das declarações dos seus rivais e sobretudo das frases soltas de Cavaco Silva. Das suas próprias ideias diz nada, e quando diz alguma coisa é um susto. Que não restem dúvidas, esta candidatura representa o enterro, provavelmente por muito tempo, de qualquer possibilidade de renovação da esquerda em Portugal. Se é isto o que a esquerda tem de melhor para oferecer aos portugueses então estamos conversados.


Mesmo a economia, que em tese devia ter a sua lógica própria, mais não é do que política feita por outros meios. Estes últimos meses demonstram como o tão falado "nervosismo" dos mercados é afinal o mais trágico dos argumentos da política - só superável pela guerra -, capaz de vergar e destruir países inteiros. Os factos falam por si. Até à senhora Merkel a Alemanha era o motor de uma Europa pensada como um todo. Agora a Alemanha pensa-se como uma parte separada do resto. A crise atual resulta, em grande medida, do renascimento do nacionalismo na direita alemã. Ou tiram de lá a senhora depressa ou isto acaba mal para todos.

O mundo está a mudar velozmente. Os velhos eixos quebram-se para dar lugar a outros protagonistas e a realidades sociais, culturais, políticas e económicas sem paralelo. O ocidente está a desaparecer e o oriente a emergir. O conhecimento e a tecnologia estão a fabricar um planeta distinto e a gerar novos modos de existência. A velha política não tem respostas para isto. A nova política ainda não nasceu. O excesso de tagarelice política tem por efeito paradoxal impedir um pensar a política como problemática, como biopolítica, como vivência coletiva. Até porque, bem vistas as coisas, há muito mais vida para além da política. Falta é espaço para ela se exprimir.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Por Leonel Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

HILLARY DEVIA DAT UM "TOMATE" A OBAMA

«O polémico assessor político James Carville, principal responsável pela campanha eleitoral que levou Bill Clinton a conquistar a Casa Branca em 1992, lançou um ataque à falta de coragem de Barack Obama, dizendo que se a secretária de Estado Hillary Clinton "lhe desse um dos seus tomates ele passaria a ter dois".» [CM]

Parecer:

Imaginem se um assessor de Teixeira dos Santos sugerisse que o ministro desse um dos seus a Sócrates.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Coitado do Sócrates, ficava com um tomate de cabelos brancos.»

OBAMA GOZA COM O INGLÊS DE SÓCRATES

«Barack Obama agradeceu a José Sócrates a forma como tem tentado combater a crise económica em Portugal e no mundo e a presença dos soldados portugueses no Afeganistão.

"Queria agradecer ao primeiro-ministro português e aos portugueses por serem os anfitriões. O seu inglês é muito melhor que o meu português", brincou, lembrando que o membro mais popular da Casa Branca é português, referindo-se ao cão de água da família.» [DE]

Parecer:

Esta de relacionar Sócrates com o Bo tem a sua graça

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Obama que tire um curso de português na Universidade Independente.»

171 MIL TÊM VERGONHA DE PEDIR O RENDIMENTO MÍNIMO

«Medo do estigma da pobreza é uma das principais razões que afastam cerca de 171 mil portugueses do rendimento social de inserção (RSI) a que teriam direito. O número de pessoas que está a beneficiar do apoio, em Portugal, ronda os 400 mil, representando 4% da população total. Este valor representa apenas 70% da população que teria direito ao apoio, diz ao i o economista Carlos Farinha Rodrigues, à margem de uma conferência internacional sobre pobreza e exclusão social, ontem em Lisboa. » [i]

Parecer:

O grande problema é saber como se acaba com esta pobreza.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento a Teixeira dos Santos, o senhor Corte.»

CVEO DA RYANAIR RECEBE FMI VESTIDO DE CANGALHEIRO

«Em vez de faltar à festa de inauguração do luxuoso terminal onde a companhia que lidera não terá operações, O’Leary, apareceu vestido a rigor e descreveu-o como “um agradável espaço para receber os técnicos do FMI”.

Isto durante uma entrevista que concedeu vestido de agente funerário, enquanto o primeiro-ministro da Irlanda, Michael O’Leary se preparava para inaugurar o projecto a que muitos já chamam “terminal de chegadas do FMI”.

A ironia está no facto de o Fundo Monetário Internacional, a União Europeia e Banco Central Europeu estarem a analisar as contas do sistema financeiro irlandês e a delinear um plano de ajuda no contexto do Fundo de Estabilização Financeira da UE. Os custos de recapitalização da banca irlandesa poderão levar o défice do país a superar a fasquia dos 30%.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Haja humor.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se o merecido sorriso.»

REDES SOCIAIS PODEM PROVOCAR ASMA

«A ligação ao Facebook foi a causa de sucessivos ataques de asma de um jovem italiano de 18 anos. A esta conclusão chegou uma equipa médica do Hospital A. Cardarelli, em Nápoles, Itália. Segundo alertou, a ligação às redes sociais pode ser uma nova fonte de stresse psicológico.

O estudo foi elaborado por uma equipa de cinco médicos italianos do Hospital A. Cardarelli, em Nápoles, Itália.

Tudo começou quando a namorada de um jovem de 18 anos terminou a relação com ele e decidiu eliminá-lo da sua página no Facebook. A situação deixou o jovem deprimido. Mais triste ficou quando soube que, após tê-lo eliminado da sua página na rede social, aceitou como amigos muitos outros rapazes.

Acto contínuo, o jovem criou um outro perfil e, disfarçado dessa forma, conseguiu que a ex-namorada o aceitasse de novo no Facebook. A verdade é que, sempre que o jovem entrava na página da sua "ex", manifestava uma respiração entrecortada.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Terá sido do Facebook ou da estupidez do rapaz?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a habitual gargalhada.»

ONDE ESTÁ A "LISTA PINOTA"

«A "Lista Pinota" desapareceu ou nunca existiu. O documento que supostamente incluía, entre outros, os nomes de diversos políticos, juízes e polícias que recorriam aos préstimos de prostitutas e homossexuais que seriam "angariados" pelo repórter de imagem da RTP que lhe dá nome não está na posse dos procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e também não aparece no computador onde supostamente estaria guardado. A investigação da PSP, que desencadeou o caso, passou agora a ser suspeita.

No DCIAP existiu a vontade de chamar a depor as pessoas que, alegadamente, estavam incluídas na "Lista Pinota". Esses testemunhos poderiam servir para incriminar o suspeito. Só que, quando recentemente se ultimaram os procedimentos para começar a chamar as pessoas constantes no documento, este não foi encontrado. Nem em papel nem em suporte informático. Agora, a principal suspeita recai mesmo sobre alguns intervenientes nos trabalhos policiais. O procurador responsável pelo caso quer saber se alguém da polícia apagou (destruiu) os registos ou se, por outro lado, os mesmos nunca existiram. Um ou outro caso, a confirmarem-se, configuram sempre um crime.» [Público]

Parecer:

Uma lista muito inconveniente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao MP se já procuraram na mesa da Felícia Cabrita, no semanário SOL.»

THORSTEN JANKOWSKI