terça-feira, janeiro 04, 2011

Os "deuses" do Terreiro do Paço devem estar loucos

Imagine que é administrador de uma empresa com graves dificuldades de tesouraria, face ao risco de não dispor de meios para pagar as encomendas aos fornecedores e os ordenados dos trabalhadores qual seria a sua opção? Mobilizava a equipa de vendas para vender o mais possível ou optaria por tirar os vendedores “da rua” e nos meses seguintes se dedicava à reestruturação do sector da vendas?

Imagine que é médico de um serviço de urgência e que deu entrada um doente com um ataque cardíaco, quando começou a tratar o doente o medito reparou que este tina uma unha encravada, o que faria na sua posição? Tratava-lhe do coração ou optava por se -tratar da unha?

Imagine que é ministro das Finanças, que brevemente tem de ir ao mercado arranjar mil milhões de euros e que se a execução fiscal nos próximos meses lhe corresse mal dificilmente encontraria quem estivesse disposto a emprestar-lhe dinheiro conduzindo o país à bancarrota, o que faria nesta situação? Daria prioridade à cobrança de impostos ou para poupar dois milhões de euros decidia reestruturar o fisco, deixar de nomear dirigentes e desestabilizar toda a Administração Fiscal.

Teixeira dos Santos não é gestor de empresas pelo que a empresa não iria à falência, não é médico e o doente cardíaco não morreria na urgência, mas é ministro das Finanças e para dar um exemplo de franciscano na gestão da máquina fiscal corre um sério risco de levar o país à bancarrota. A administração fiscal ficou paralisada por um projecto de reestruturação que começou pela extinção das Alfândegas e acabou numa reestruturação de toda a máquina fiscal.

Alguém se lembrou de soprar ao ouvido do ministro que devia extinguir as alfândegas como exemplo de poupança, o problema é que esse alguém não sabia o que são as alfândegas e, pelo que se está a ver, o ministro não sabe o que é a DGCI. Mas o culta da personalidade leva a que a palavra dos nossos ministros seja para cumprir, podem falhar todas as previsões mas acertam em todas as suas decisões, e como nas alfândegas pouco havia a poupar e dificilmente seriam integráveis numa organização de natureza diferente passaram da extinção da DGAIEC para a reestruturação da máquina fiscal.

Este grande passo em frente dado pelos gaiatos do ministério das Finanças lembra o grande salto em frente dado pela China no tempo de Mao, para transformarem o país num grande produtor de aço derreteram as alfaias agrícolas, no ano seguinte a China estava cheia de sucata e os chineses morreram à fome aos milhões porque ficaram impossibilitados de produzir alimentos por falta de ferramentas.

Talvez daqui a umas semanas Teixeira dos Santos possa provar que reduziu as chefias do fisco e que poupou um ou dois milhões de euros, mas no dia seguinte é provável que tenha de recorrer ao FMI pois uma máquina fiscal, paralisada, desorganizada e desorientada deixou de cobrar centenas de milhões de euros.

Num ano em que a grande prioridade do país é cobrar impostos só mesmo débeis mentais se lembrariam de lançar a máquina fiscal na desorganização e na incerteza. Talvez por se tratar de uma acto provocado por uma situação de doença mental os responsáveis não serão punidos criminalmente, mas não o deixarão de ser nas próximas eleições legislativas. Com um país não se brinca e em vez de terem levado os gaiatos para o Terreiro do Paço deviam ter-lhes oferecido uns Legos para se entreterem onde estavam.