sábado, fevereiro 05, 2011

Que país queremos ser?

Há poucos dias, a propósito das indemnizações a título de despedimento, a ministra do Trabalho justificou as suas propostas com a lei espanhola, propondo-nos a mesma bitola. Só que se esqueceu de dizer que se está em causa o encerramento de uma empresa e isso é importante para medir a atracção do investimento estrangeiro então aplicando o mesmo número de meses as indemnizações pagas em Espanha serão o dobro ou o triplo das pagas em Portugal. Ora, se um investidor opta por Espanha e na hora de encerrar a empresa paga muito mais do que em Portugal, então não é por causa da lei portuguesa sobre a matéria que o país não é competitivo.

Mas o mais grave desta posição não está no conteúdo da medida mas na lógica que levou à sua adopção, não se fizeram as contas nem se discutiu a justiça, propôs-se porque muito simplesmente é assim em Espanha. Esta forma de fazer política em que se deixa de se pensar no futuro do país para se aplicar à economia o “Copy and Paste” dos computadores é que é questionável.

Nas indemnizações copiamos os espanhóis, nas reformas os alemães, nos salários os chineses, nos cortes de vencimentos no Estado os irlandeses, na taxa do IVA os ingleses, nas escolas os franceses, na roupa os americanos, no número de deputados os belgas, e na falta de propostas segue-se a sugestão do FMI, da OCDE ou de um qualquer funcionário anónimo da Comissão.

Há algo de errado quando o país discute os programas eleitorais durante as campanhas eleitorais para depois serem confrontados com medidas que ninguém discutiu e sobre as quais não foram chamados a pronunciarem-se, apenas com o argumento inabalável de que é assim que se faz ali ou acolá. Já não precisamos que os franceses ou os espanhóis nos invadam, antecipamo-nos e fazemos como eles.

E estranho que num país onde muita gente fica excitada quando se fala em soberania nacional se prescinda dessa soberania da forma menos digna. É humilhante que o país se assuma como uma nação de políticos idiotas que são incapazes de apresentar uma ideia, uma projecto, um modelo para o país e se limitam a copiar o que vêm nos estrangeiro, como se um povo que encontrou os caminhos do mundo seja agora incapaz de encontrar o caminho para o seu próprio futuro, passando a si próprio um atestado de incapacidade.

Agora que se fala da redução do número de deputados no parlamento talvez faça mais sentido discutir as suas aptidões profissionais. Se tudo o que o país decide é copiado no estrangeiro em vez de discutir o número faz mais sentido questionar se não haveria vantagem de exigir aos candidatos o conhecimento de línguas estrangeiras. Assim os que são mais partidários de imitar os chineses votariam na lista de deputados onde houvessem candidatos que soubessem ler e escrever em mandarim, os que apreciam a Alemanha votariam em deputados versados em Alemão. O país só teria a ganhar, até porque alguns dos nossos deputados nem sabem muito português e quanto a línguas ficam-se pelo portanhol.

E em vez de termos um parlamento a discutir politiqueira comum teríamos uns duzentos tradutores fazendo as suas propostas legislativas quando encontrassem algo de interessante noutro país.