segunda-feira, março 21, 2011

A decadência

Um dos sinais mais evidentes da decadência política do país é o facto de há muitos não estarmos a escolher as melhores políticas, os melhores líderes partidários ou os melhores governantes. Veja-se o que aconteceu nas últimas presidenciais, para um cargo onde se espera estar alguém de dimensão política o principal candidato exibiu como grandes credenciais uns conhecimentos de economia e mesmo com o candidato a auto definir-se como um “mísero professor” para explicar que não sabia nada de acções e mesmo assim ganhou uma fortuna, os portugueses escolheram-no.

Não tenho memória a assistir a um debate em torno de soluções para o país, a regra não é procurar políticas que promovam o desenvolvimento mas sim escolher entre a menos má. Veja-se o que está a suceder neste momento, em vez de se discutir que políticas nos permitem resolver o problema da dívida soberana, os partidos usam os riscos que essa dívida representa para o país para definirem as suas estratégias de poder, não está em causa o interesse dos cidadãos e se for necessário conduzir o país à bancarrota para manter ou alcançar o poder nenhum dos líderes partidários hesitará em fazê-lo.

Os líderes partidários são escolhidos entre aqueles que ainda estão dispostos a liderar um partido e de entre estes escolhe-se o menos mau quando se julga estar próximo do poder e o mau quando essa hipótese está afastada. Mas como as lideranças políticas são fracas a hipótese de se ter como primeiro-ministro um político em quem não se continuava mas foi útil para uma travessia no deserto, são muito grandes. Em vez de escolhermos entre os melhores estamos a escolher entre os piores, gente sem ideias, pouco escrupulosa e sem dimensão, mas os partidos que os elegem idolatram-nos porque os seus militantes enriquecem com os cargos do Estado, a oposição rejubila na esperança de serem mais fáceis de derrubar e os eleitores não têm outro remédio, muitos abstêm-se, mas uma boa parte acaba por cumprir o se dever cívico de votar e desta forma legitimar governantes que nunca o deveriam ter sido.

Em tempos comentei aqui que o país enfrentava desde há alguns anos fracas colheitas de político, há muito que não se consegue um vintage e muitos dos nossos políticos são o equivalente a vinho a martelo. Mas a situação tende-se a agravar, como se o mundo da política tivesse sido atingido pela filoxera e uma boa parte dos políticos já nem sequer são fruto de uma má colheita, são obtidos com uva apanhada em vinhas abandonadas ou já vindimadas.