quinta-feira, abril 14, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




FOTO JUMENTO


Flor da Quinta das Conchas, Lisboa

IMAGEM DO DIA
  

[Francesco Malavolta/Agence France-Presse/Getty Images]

«CHOPPY WATERS: Rescuers helped migrants fleeing northern Africa after their boat went off course and ran aground as they tried to enter the port of Pantelleria, an island off the southern coast of Italy, Wednesday. Officials said two women drowned out of the 250 migrants aboard.» [The Wall Street Journal]
 
JUMENTO DO DIA


Pedro Passos Coelho

Já uma vez ouvimos Pedro Passos Coelho pedir desculpas aos portugueses, numa manobra populista o líder do PSD tentava fazer-se de vítima ao ser obrigado a apoiar medidas de austeridade. Mais razões tinha agora Passos Coelho para pedir desculpas aos portugueses por os ter enganado e conduzido o país para uma grave crise política que foi de encontro ao interesse dos especuladores.
  
Em vez disso Passos Coelho tenta de forma subtil convencer-nos da inutilidade do PEC IV. Agora é tarde, a crise está lançada, o país foi forçado a pedir ajuda e vão haver eleições tal como era desejo de um líder que acha que o país é uma associação de estudantes.
  
«"O País já percebeu que as dívidas das empresas públicas que hoje não conseguem também pagar os seus empréstimos, e que até em causa está o pagamento de salários dos próximos meses, não se devem ao chumbo do PEC. Deveu-se ao facto de nos últimos seis anos se terem acumulado prejuízos sem qualquer competência ou responsabilidade assumida pelo Governo”, sublinhou hoje Passos Coelho á saída da reunião com José Sócrates.

  
“O País também sabe”, continuou o responsável, “que desde há dois anos a esta parte o “rating” da República caiu dez vezes e que as taxas de juro consideradas pelo ministro das Finanças como insustentáveis vêm há muito tempo a ser praticadas pelo Estado português desde Outubro do ano passado”.
  
“O que significa portanto que o Governo sabia, quando negociou o PEC IV, que não dispunha de dinheiro para poder cumprir com as obrigações externas. O que significa portanto que o PEC só não chegava”, afirmou Passos Coelho, acrescentando que “a situação de partida era ainda pior do que a apresentada a Bruxelas”.» [Jornal de Negócios]

 A DÚVIDA DO DIA

De certeza que Cavaco Silva não teve conhecimento prévio do PEC IV?

 ATÉ TU SANTANA LOPES?



 

 O LOBO E O CORDEIRO. UMA HISTÓRIA TRISTE

«Passos Coelho, efectivamente, mentiu ao país durante um mês. "Omitiu deliberadamente" o encontro a sós com José Sócrates na véspera da apresentação do PEC IV e transformou-o num "telefonema do primeiro-ministro" para sustentar a inflexibilidade negocial de Sócrates e o desejo do primeiro-ministro de provocar uma crise política.
  
Como José Sócrates se esteve nas tintas para o Presidente da República, não custava nada à opinião pública acreditar na verosimilhança da versão do líder do PSD - um telefonema breve para despachar um assunto sem despacho possível.
  
Porque mentiu Passos Coelho? Por orgulho ferido, simplesmente. Não queria voltar atrás, em público, na sua promessa grandiloquente de nunca mais se reunir a sós com o primeiro-ministro.
  
Mas correu tudo mal. Passos Coelho foi apanhado em duas mentiras (ou inverdades, a palavra de preferência dos políticos) em sequência. Primeiro voltou atrás na promessa de nunca mais se reunir a sós. Depois de se desdizer nisto, inventou um telefonema em substituição de um encontro. Foi penoso ver Passos Coelho na TVI explicar que houve de facto um telefonema - para marcar o encontro, claro.
  
Há qualquer coisa de tocante na ingenuidade de Passos Coelho, embora isso provavelmente não lhe renda grande coisa: como é que imaginou que o encontro com Sócrates permaneceria secreto? Se as coisas tinham corrido tão bem antes - ao ponto de fazer aquela jura desajustada de "nunca mais a sós" -, porque imaginou que Sócrates cumpriria a jura secreta? É quase comovente. Numa luta entre o lobo e o cordeiro, ganha sempre o lobo - o risco de esta metáfora se tornar significativa à medida que a campanha avançar é muito grande para as ambições eleitorais do PSD.
  
Mas a "omissão deliberada" de Passos Coelho vem trazer alguma luz sobre os acontecimentos que levaram à demissão do governo. Apesar de tudo, e ao contrário das aparências que o gesto do "telefonema" parecia manter, Sócrates tentou mesmo negociar com Passos. E saiu do famoso encontro convencido de que poderia haver alguma abertura para que o PSD desse o aval ao plano de austeridade exigido por Bruxelas. De resto, as palavras cautelosas de Miguel Relvas, o secretário-geral do PSD, na manhã seguinte, confirmam a hesitação do PSD. Numa conferência de imprensa na sede do partido, Relvas mostrou abertura a viabilizar as exigências de Bruxelas. Só depois de o resto da direcção ter sido ouvida - e nomeadamente depois de Marco António ter feito a famosa ameaça de que ou haveria eleições no país ou haveria no PSD - é que a decisão de chumbar o PEC IV se tornou irreversível.
  
Os portugueses podem estar com Sócrates pelos cabelos, mas as hesitações, as omissões e as confusões de Passos Coelho não servem de grande bálsamo. Ontem quem esteve a ganhar foi Portas, que se pôs acima deste insuportável ruído.» [i]

Autor:

Ana Sá Lopes.
 PRIMEIRO CONTACTO TÉCNICO DO FMI

«Hotel Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe? E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares. Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel. Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum. Se fosse comigo era tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro... Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho. » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.




 OLIVEIRA E COSTA FOI MUITO GENEROSO PARA OS SILVA

«Uma testemunha revelou hoje em tribunal que o ex-presidente do BPN vendeu, em 2001, a Cavaco Silva e à sua filha 250 mil ações da Sociedade Lusa de Negócios, a um euro cada, quando antes as adquiriu a 2,10 euros cada à offshore Merfield.
  
Respondendo a perguntas dos juízes do julgamento do caso BPN, o inspetor tributário Paulo Jorge Silva disse "não ter explicação" para o facto de o principal arguido, José Oliveira Costa, ter perdido 1,10 euros em cada ação que vendeu a Aníbal Cavaco Silva e à filha do atual Presidente da República, Patrícia Cavaco Silva Montez.» [i]

Parecer:

Os amigos são para as ocasiões.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Elogie-se Oliveira e Costa pela sua generosidade.»

 PORTUGAL NÃO PRECISAVA DE AJUDA EXTERNA

«Portugal não precisava deste resgate. Foi sobretudo a especulação que precipitou o País para o pedido de ajuda externa. O culpado não foi o governo, mas sim a pressão das agências de “rating”. É esta a opinião de Robert Fishman, professor de Sociologia na Universidade de Notre Dame, num artigo hoje publicado no jornal “The New York Times”.
  
Na opinião de Fishman - que escreveu, em conjunto com Anthony Messina, o livro intitulado “The Year of the Euro: the cultural, social and political import of Europe’s common currency” -, a solicitação de ajuda externa à UE e ao FMI por parte de Portugal deverá constituir um aviso para as democracias de todo o mundo.
  
A crise que teve início no ano passado, com os resgates da Grécia e da Irlanda, agravou-se, constata o professor. “No entanto, este terceiro pedido nacional de ajuda não tem realmente a ver com dívida. Portugal teve um forte desempenho económico na década de 90 e estava a gerir a sua retoma, depois da recessão global, melhor do que vários outros países da Europa, mas sofreu uma pressão injusta e arbitrária por parte dos detentores de obrigações, especulações e analistas de “rating” da dívida que, por razões ideológicas ou de tacanhez, conseguiram levar à queda de um governo democraticamente eleito e levaram, potencialmente, a que o próximo governo esteja de mãos atadas”, salienta Robert Fishman no seu artigo de opinião publicado no jornal norte-americano.
  
O sociólogo adverte que “estas forças do mercado, se não forem reguladas, ameaçam eclipsar a capacidade de os governos democráticos – talvez até mesmo o norte-americano – fazerem as suas próprias escolhas em matéria de impostos e despesa pública”.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Pois, mas Cavaco Silva precisava de uma crise política para ajudar os especuladores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»

 PASSOS COELHO ARMA-SE EM BUFO

«O líder do PSD vai divulgar as perguntas que colocou ao primeiro-ministro, sobre o estado das contas públicas, à 'Troika' que está em Portugal a preparar o plano de ajuda financeira.
 
Os técnicos do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do FMI vão receber uma tradução destas questões que Pedro Passos Coelho quer respondidas pelo Governo sobre a real situação das contas do Estado, incluindo parcerias público-privadas (PPP) e concessões. » [DN]

Parecer:

Precisa desesperadamente de argumentos que o ajudem a evitar a desgraça eleitoral.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo dia 5 de Junho.»

 MARCELO DIZ QUE PSD ESTÁ A CAIR NUMA ARMADILHA

«O social-democrata Marcelo Rebelo de Sousa lamentou hoje que continuem as "zangas" entre partidos sobre questões que não interessam aos portugueses, considerando que o PS está a "picar" o líder do PSD, que tem "caído na armadilha".
  
Em declarações aos jornalistas à margem da apresentação do livro "YOUCAT- Catecismo Jovem da Igreja Católica", Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre as negociações entre o Governo e os partidos relativas ao pacote de ajuda externa, considerando que "o fundamental" é fechar rapidamente um acordo.» [DN]

Parecer:

O que não abona nada a favor da inteligência de Pedro Passos Coelho.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

 OTELO ARREPENDEU-SE DO 25 DE ABRIL

«Otelo Saraiva de Carvalho ouve todos os dias populares dizerem-lhe que o que faz falta é uma nova revolução, mas, 37 anos depois, garante que, se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o 25 de abril.» [DN]

Parecer:

Tem alguma razão, o país ficou cheio de parvoíces de Abril.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso condescendente.»

 PSD INCOMODADO COM NOBRE

«A proposta da direcção social-democrata de avançar com o nome de Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República gerou mal-estar dentro do PSD.
  
Desde domingo - dia em que foi anunciada a sua inclusão nas listas e apresentação como candidato a segunda figura do Estado - que o assunto é polémico entre as hostes.

A maioria dos críticos prefere manter, por agora, o anonimato. Ou porque não querem fragilizar o combate eleitoral, ou porque preferem esperar pelo Conselho Nacional de domingo. Mas já há quem tenha questionado a opção. Pacheco Pereira, por exemplo. Durante a pré-campanha para as presidenciais, a 27 de Dezembro, criticara a "postura" de Fernando Nobre no seu blogue Abrupto por lhe adivinhar "uma mistura de vaidade e aproveitamento biográfico sem pudor, populismo e ignorância". Acusou-o de fazer "política do pior". Ao PÚBLICO disse ontem que o retrato que faz de Nobre não mudou: "As minhas opiniões são as mesmas, não deixei de as ter."» [Público]

Parecer:

Depois do dia 5 de Junho é que vai ser o bonito.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»
  


 IRENKA (MODELO)