quinta-feira, junho 30, 2011

O fraco rei faz fraca a forte gente

Talvez por estarmos sempre à beira de uma qualquer bancarrota o país não reflecte sobre o grave problema de liderança que atravessa desde há muitos anos e talvez seja a causa de muitos dos nossos males. Temos um Presidente da República que tem orgulho em dizer que tínhamos a fama de sermos um bom aluno aquando do processo de adesão à CEE, temos dirigentes políticos que entre as mordomias autárquicas e a liderança do partido optam pelo comodismo pessoal, temos ex-líderes partidários que aceitam o papel de bruxos de Carnaxide.

O país sofre de uma grave crise de liderança a todos os níveis, a meritocracia deu lugar à burocracia, a ética é coisa em extinção, o único valor perseguido pelas nossas elites é o enriquecimento rápido e fácil. Isto chegou ao ponto de um professor de uma universidade de uma universidade de segunda linha chegar a ministro e descobrir que o problema é a falta de uma bandeirinha ou o tratamento mais ou menos reverencial dos doutores. A falta de grandeza a que este país leva a que conhecidos articulistas cheguem à conclusão de que só por tratarmos o homem por Álvaro devemos concluir que é o almirante que nos levará para lá do Bojador.

Não admira que um país onde os fracos se revelam os mais aptos para vencer seja um país cada vez mais fraco. E o sucesso desta miséria colectiva em que nos afundamos está no facto de termos conseguido levar a presidente da Comissão Europeia um produto acabado da miséria que graça nas nossas elites. Sinal de que como se percebe pela crise financeira que a Europa enfrenta não é um exclusivo nacional.

De que serve dizer que a solução está na competitividade e na exportação se na última campanha eleitoral os empresários que mais se destacaram foram os que enriqueceram em empresas oportunistas que exploraram o crédito fácil e o consumo? Alguém viu um industrial envolvido na exportação a participar numa arruada ou a comentar nas televisões? Em Portugal o sucesso passa por um mercado interno e de preferência em sectores sem grande concorrência, pela evasão fiscal, pelo golpe baixo, pelo favor político. Não há empresas competitivas porque não há concorrência, porque é mais fácil enriquecer com corrupção, com empresas que ou recorrem á evasão fiscal ou à instalação das suas holdings no estrangeiro. Em Portugal a competitividade morreu há muito, foi assassinada pelo oportunismo colectivo de uma elite proxeneta que enriqueceu à custa do empobrecimento de Portugal e dos portugueses.

Não admira que Portugal esteja quase de rastos, como escreveu Camões “um fraco rei faz fraca a forte gente”, foram os fracos “reis” que tivemos que encheram o Estado de incompetentes e corruptos, que transformaram os grandes partidos em organizações duvidosas, que mataram os empresários ambiciosos, que têm delapidado e continuarão a delapidar os escassos recursos de que o país dispõe, que transformaram a nossa justiça na vergonha que é, que montaram um imenso esquema que leva a que quem queira mudar este estado de coisas seja destruído.