sexta-feira, setembro 09, 2011

A economia não é uma ciência exacta

Quem ouvir Vítor Gaspar falar e tiver a sorte de o perceber ( coisa bem difícil pois quase é necessário fazer uma montagem áudio para o ouvir coim um mínimo de clareza) fica com a ideia de que a economia é uma ciência exacta e que o ministro das Finanças é o cientista que tem o único laboratório científico onde foi sintetizada a solução para os problemas da economia portuguesa. Mas isso não é verdade, as suas soluções já deram resultados mas também já se revelaram desastrosas, já foram viáveis graças ao apoio de polícias politicas, como a DINA de Pinochet, e já acabaram em tumultos sociais.

Sempre critiquei a inércia do seu antecessor e discordei sistematicamente da política económica seguida pelo governo de Sócrates, que apoiei e até ao momento Passos Coelho só me deu motivos para não mudar de posição. Não sou adepto de défices excessivos e quando alguém se lembrou de dizer que havia mais vida para além do défice não só não fiquei animado com tão brilhante bitaite como alertei que o problema nem era o défice mas sim o seu resultado, a dívida soberana.

Mesmo com os mercados tranquilos e a capacidade de recorrer a financiamento externo a taxas de juro baixas é necessário assegurar a independência do país em relação aos mercados, para além de se ter que acautelar qualquer situação anormal, como, por exemplo, uma qualquer calamidade natural ou a necessidade de enfrentar uma grave crise internacional. Mas tanto quanto me recordo a direita criticou todos os orçamentos de Sócrates por não serem expansionistas e só começou a falar da dívida soberana quando a crise do sub-prime já se tinha transformado numa crise do euro, nessa altura apareceu António Borges a alertar para o óbvio e Cavaco lembrou-se de que tinha escrito umas coisas há quase uma década.

É evidente que é necessário cortar na despesa tal como é evidente que por mais que os jornalistas da direita o insinuem tal não será suficiente e os aumentos dos impostos são inevitáveis. O problema é que quando Vítor Gaspar cumprir o seu primeiro ano de governo não cortou qualquer despesa e já promoveu três aumentos de impostos, Remeter o corte de despesa para o próximo orçamento com o argumento de que executa um orçamento não é muito honesto pois se não pode gastar para além do orçamentado, também ninguém o obriga a gastar o que estava previsto, até porque não tendo dinheiro é obrigado a fazer o que fez, inventar um desvio colossal que ainda hoje está mal explicado para compensar o descontrolo na despesa com receitas fiscais abusivamente impostas apenas aos que não são ricos.

Poder-se-ia dizer que se trata de uma política económica de mercearia mas isso ofenderia os merceeiros, profissional do retalho que se preze sabe que tem clientes e fornecedores e é deles que depende o negócio. Ao contrário de qualquer merceeiro Vítor Gaspar inora que é ministro das Finanças de uma economia com uma elevada dependência externa, quem o ouve falar é levado a pensar que tudo se resume a aumentar impostos e cortar despesas, que o problema do ensino ou da saúde se limita aos números. Ele governa a economia como se fosse uma roça de cacau onde só há o fazendeiro e os escravos, sendo o mercado inalterável.

Vítor Gaspar parece convencido de que por mais que aumente as taxas os impostos continuarão a aumentar proporcionalmente, indiferentes à quebra da actividade económica, ao aumento da evasão fiscal e da economia paralela. Ignora que Portugal depende das exportações e que muitas empresas exportadoras não só serão penalizadas por uma eventual recessão internacional como serão fortemente atingidas pela recessão interna, despreza os números do aumento do desemprego estrutura que resultará das suas políticas que destruirão sectores tradicionais da economia, não avalia o custo dos recursos humanos que fugirão do país para não se sujeitarem à pilhagem fiscal a que está a ser sujeita a classe média. Para Vítor Gaspar não há empresas, a não ser as que pretende privatizar, não há actividade económica, não á mercado mundial, há apenas contribuintes a quem ele pretende cobrar impostos até que ultrapassados todos os limites os verdadeiros funcionários do fisco serão os polícias de choque.

A receita económica de Vítor Gaspar é absolutamente primária e é a negação da política económica pois revela um total desprezo pelo bem-estar dos cidadãos, ele não mede o seu sucesso pela riqueza que ajuda a criar, apensa está preocupado em conseguir em dois anos aquilo que a maioria dos economistas acharia aconselhável conseguir em quatro. Parece estar mais preocupado em mostrar serviço aos seus chefes quando regressar a Bruxelas do que com os portugueses que elegeram o Governo a que pertence.