terça-feira, setembro 13, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Leme de uma fragata do Tejo, Seixal
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Procissão da N. S. das Dores, Monte Gordo [A. Moura]
  
Jumento do dia


Passos Coelho

Perante os dados relativos aos consumos energéticos das novas escolas o primeiro-ministro defendeu uma "solução sistémica", não se percebe muito bem o que a palavra sistémica significará mas mais adiante explicou, que façam como as famílias, que poupem. O primeiro-ministro deverá certamente estar a referir-se às famílias que são obrigadas a bater o dente se quiserem ter uma canja na mesa, pois famílias como a do proletário Amorim não deverão poupar tanto como Passos Coelho imagina.
 
O problema é que uma escola minimamente iluminada e com uma temperatura ambiente suportável gasta mais energia do que as velhas intalações. Mas isso Passos Coelho ignora, como ignora que os gabinetes governamentais consomem muito mais energia do que qualquer escola. O que quererá dizer com solução sistémica? Será obrigar os governantes e dirigentes do Estado a baterem o dente como os alunos de uitas escolas deste país ou as tais famílias referidas por Passos Coelho?
 
«O primeiro-ministro admitiu, esta segunda-feira, a necessidade de encontrar uma "resposta estrutural" para as escolas que tiveram aumentos de consumos energéticos anormais na sequência de "erros de concepção" de projectos, por considerar não ser possível criar um IVA diferenciado.

Em declarações em Viseu, onde inaugurou dois centros escolares, Passos Coelho disse que, "por erros de concepção, houve várias escolas, sobretudo desta nova vaga, que foram reabilitadas ou feitas de novo ao nível da Parque Escolar", que levaram ao "aumento dos encargos com consumos eléctricos muito para além daquilo que é normal" nas escolas.» [JN]
    
 

 Mubarak prefere Lacoste, Kadhafi prefere Adidas
 
«Que se saiba, a Lacoste ainda não se insurgiu contra Mubarak por ter ido no dia 5 de crocodilo ao peito para a terceira sessão do seu julgamento no Cairo. Pelos vistos, a empresa francesa distingue bem um ditador árabe derrubado de um terrorista norueguês. Só assim se explica o actual silêncio comparado com a irritação por Breivik ter sido fotografado num carro policial usando uma blusa vermelha da célebre marca. E, ao que parece, Breivik fará questão de repetir o vestuário sempre que for chamado a ajudar a justiça: foi filmado com a blusa aquando da reconstituição do massacre de 22 de Julho em Utoya.

Percebe-se a preocupação da Lacoste. É questão de imagem. Ninguém que gaste quase cem euros para ter um pólo quer ser associado ao assassino de 77 pessoas.

Aliás, o jornal norueguês Daglabet escreveu que a polícia terá recebido uma solicitação da marca fundada pelo tenista René Lacoste em 1933 para que Breivik fosse impedido de usar o seu pólo preferido. Este simbolizaria "um europeu educado e conservador", como o próprio terrorista islamófobo escreveu no seu manifesto.

Não é inédito que uma marca se sinta incomodada com certos fãs. Ainda em Agosto, a Abercrombie & Fitch ofereceu dinheiro aos actores de uma série da MTV para que deixassem de usar a sua roupa. Nascida no século XIX em Nova Iorque, a empresa reinventou-se nos últimos anos, apostando no glamour. Por isso, os directores de marketing ficaram horrorizados quando perceberam que Mike "The Situation" Sorrentino, com o seu fio exibido sobre o peito nu, se vestia na loja da Quinta Avenida. Por ironia, a Reebok contratou o elenco de Jersey Shore para promover uns ténis, associando-se à popularidade de "The Situation".

Talvez a Lacoste e a Abercrombie & Fitch devessem seguir antes o exemplo da Adidas, fiel ao velho princípio da publicidade "falem de mim, mesmo que mal, mas falem". Um dia é o venezuelano Chávez que aparece na varanda do palácio presidencial de camisa da Adidas, no outro é o cubano Fidel de fato- -de-treino da marca alemã a servir de pijama de convalescente. E na semana passada foi a vez de vídeos familiares de Kadhafi mostrarem o ditador líbio de casaco da Adidas a segurar um neto (?) ao colo.

Apesar de mais novinha que as marcas francesa e americana (Adolf "Adi" Dassler fundou-a em 1949), a empresa alemã sabe tirar proveito dos admiradores, mesmo os de má reputação. Não é ela que gosta deles, eles é que gostam dela.

E se os líbios viraram costas a Kadhafi, já a selecção de futebol veste sem problemas Adidas. Bastou que o novo equipamento tivesse a bandeira rebelde bordada.» [DN]

Autor:

Leoníodeo Paulo Ferreira.
   
 "Países pecadores"

«O meu amor pela língua alemã, berço, dir-se-ia "natural", de pensamento filosófico, e pelos poetas de língua alemã, e pela música "de língua alemã" (pois à linguagem da música talvez não seja indiferente o Ser da própria língua), fazem-me recalcar aspectos mais sombrios da cultura (isto é, da língua) alemã que, como vulcões adormecidos, não raro se manifestam sob a forma de barbárie.

Celan, que perdeu pais, família e amigos nos campos de extermínio (onde ele próprio sofreu durante anos, sujeito a todo o tipo de violências) , optou - mesmo dominando outras línguas, designadamente o yidiche, mas também o romeno, o russo, o francês, o inglês, até o português - por escrever a sua poesia atravessando desesperadamente a "escuridão assassina" da língua dos torcionários e procurando encontrar nela a perdida luz da língua de sua mãe.

É nas vertentes mais obscuras e sinistras da língua alemã que bebe a língua que fala o comissário europeu para a Energia, o alemão (do partido de Merkel) Guenther Oettinger que, em entrevista ao "Bild", propôs um "castigo" para os países com défice excessivo: a colocação das "bandeiras dos países pecadores a meia haste nas fachadas dos edifícios comunitários". "Países pecadores": a religião da usura evoca hoje perigosamente pecados mortais (que só Oettinger parece ter esquecido) da Alemanha pelos quais a sua bandeira haveria que ficar a meia haste durante muitos séculos.» [JN]

Autor:

Manuel António Pina