sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


 
Gaiola, Castelo de São Jorge, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Ao sol de Inverno [A. Cabral]
  
Jumento do dia


Miguel Frasquilho, funcionário do BES

Miguel Frasquilho já nos habituou a ser o feijão fradinho da análise económica, no BES tem um discurso enquanto na política tem outro. A previsão de que em 2013 haverá crescimento económico em Portugal é, no mínimo hilariante, um aluno do ensino básico chegaria mais ou menos à mesma conclusão que Frasquilho.

«"É evidente que tivemos uma revisão em baixa para o conjunto do ano de 2012, mas esta trajectória ascendente, continuamente, ao longo do ano de 2012 deixa-nos a esperança de que de facto estas políticas, estas opções, este ajustamento, que tínhamos sempre de realizar, vão ter consequências positivas e elas podem ser positivas já no início de 2013", disse o deputado social-democrata Miguel Frasquilho.
  
O vice-presidente da bancada do PSD, que falava aos jornalistas no Parlamento sobre as previsões económicas da Comissão Europeia para 2012, disse querer "deixar esta janela de esperança e encorajamento à população portuguesa, porque é sinal que os sacrifícios que estão a ser pedidos vão no sentido certo e vão ter resultados a muito curto prazo".» [DE]
    
 

TÍTULO 10

«Perguntaram a Joaquim Evangelista, sindicalista do futebol, sobre racismo. Erraram na pessoa, foi como pedirem para eu testemunhar sobre dores de parto. Um dia, um presidente de clube, arrogante, disse que os futebolistas hoje em dia já sabem comer de faca e garfo. Não sei como se portam à mesa mas no campo e à vista de todos, sei - e há muito. Garoto e de passagem por Matosinhos, fui ver um treino do Leixões. Entre dois guardas-fiscais, apareceu um jovem negro. Era são-tomense, apanhado clandestino num navio. Viera à Metrópole tentar a sorte de futebolista. O seu treino no pelado do velho campo de Santana foi penoso. "Estavas habituado ao relvado, oh tição?", gozavam da bancada os filhos dos pescadores. Mas, no campo, os colegas de treino olhavam-no como colega. Tinha jeito ou não?, era o que lhes interessava. Esfomeado e nervoso, o jovem disparatava com os pés mas nem uma só vez vi um sorriso trocista entre os jogadores. Por essa altura, havia no Benfica um capitão negro a quem os colegas brancos se dirigiam assim: "Posso marcar o livre, senhor Coluna?" Muito tempo de abraços depois dos golos, de respeito entre iguais, dá nisso: iguais. Os futebolistas portugueses têm essa Universidade há décadas. Mas eu gostaria de mais. Ver um futebolista, sei lá, um João Moutinho, correr para o adversário Balotelli e abraçá-lo quando as claques de analfabetos macaqueiam. Quem é culto tem obrigação de ensinar os pobres diabos.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
O Acordo 20 anos depois

«Dedicado a Vasco Graça Moura e a todos os opositores do Acordo Ortográfico
  
A minha adesão pessoal ao Acordo Ortográfico (AO) tem a ver simultaneamente com confiança e humildade. Confio na sabedoria de quem o fez (não na sua infalibilidade) e sou suficientemente humilde para reconhecer que muitos aspetos que dizem respeito à etimologia e à fonética, tais como outros menos relevantes para este caso, me escapam. Além da confiança e respeito por nomes como Lindley Cintra ou António Houaiss, de que não vejo muita gente comungar, mas antes desprezar, dediquei eu próprio algum tempo ao assunto. E, uma vez que faço da escrita a minha profissão há mais de 30 anos, penso ter algo a dizer.
Rodrigues Lapa, que foi um mestre da língua portuguesa, filólogo distinto, sustinha que as mudanças de ortografia eram sempre violentas. Esta asserção é hoje inteiramente justificada pela quantidade de pessoas que apenas se opõem ao Acordo 'porque sim' - sem quaisquer argumentos.
A verdade é que ninguém se conforma, depois de ter sido obrigado a pôr um p em ótimo, agora lhe dizerem que afinal esse p (no qual nunca encontrou utilidade) não faz falta. Há quem argumente com esse pai tirano, o latim, e com a etimologia da palavra optimus. A palavra sem o p perderá a identidade. Alguns enxofram-se e dizem que lhes matamos o português! Mas qual português, Santo Deus (ou melhor diria Sancto Deus?). O português do assucar ou do açúcar? O de Viseu ou Vizeu?
Philosophia, pharmacia ou phleugma também terão perdido essa identidade (para filosofia, farmácia e fleuma)? Ora, o facto de o phi grego deixar de se distinguir do f na grafia não me parece ter provocado dano ao idioma. Mas há, insistem, o problema do fechamento das vogais. Ou seja, a mania portuguesa (que não brasileira, angolana ou moçambicana) de comer as vogais. Este argumento é o que afirma que passaremos a dizer aspêto em vez de aspéto, uma vez que a retirada do c fecha a vogal. Pode parecer um argumento poderoso, mas não é. Não dizemos Mêlo desde que o apelido deixou de se escrever Mello (Vasconcellos ou Sampayo também se dizem do mesmo modo).
Reparem - e repare o excelente poeta e tradutor, a quem o texto é dedicado - que a forma de acentuar nada ou pouco tem a ver com o modo de escrever, mas sim com o modo de ouvir. Logo ele, que nasceu na Foz do Douro, bastava-lhe andar até à Ribeira para ouvir dizer Puârto e muitas outras coisas que foram morrendo com a voragem unificadora fonética da televisão. No norte dizia-se baca sendo a palavra com v; e o macho da baca era o voi apesar de lá estar um b. Mais estranho: em Lisboa sempre se disse contiúdo apesar do e, ao contrário de Coimbra e Porto onde se diz contêúdo. Em Lisboa, ôito, dezóito, vinte e ôito; no Porto, óito, dezôito e vinte e óito. E sempre se escreveu da mesma forma... Aliás, segundo a professora Maria Helena da Rocha Pereira, o fechamento das vogais pré-tónicas começou em Portugal em finais do século XVII ou princípios do século XVIII - ainda não havia acordos nenhuns.
Agora, se me perguntarem por que razão em 1911 pae passou a pai e mãi passou a mãe (como até hoje se escreve) não sei dizer, do mesmo modo que me irrita o espetador no acordo atual. Mas a propósito daqueles que juram que 'espetador' não distingue o que assiste a um espetáculo de um picador de gelo, refiro a frase: senti os pelos eriçarem-se pelos braços. E eis que toda a gente compreende onde está o quê. Ainda sobre confusões e fechamentos e aberturas de vogais, vejam a frase: 'Gosto particularmente do teu gosto' - quando a leem dizem (pelo menos os cultos, como o presidente do CCB) gósto e gôsto instintivamente. Como em 'Faz força e força aquela porta' sabem que primeiro é fôrça e depois fórça.
Permitam-me, ainda, referir que, durante a minha vida, sòzinho ou sòmente perderam o acento. Pois bem, nunca notei qualquer inflexão (para suzinho ou sumente) no modo de pronunciar aquelas e muitas outras palavras (advérbios de modo e diminutivos) a que aconteceu o mesmo.
Há ainda os que afirmam não gostar do acordo por razões estéticas. É aceitável. Mas a ortografia, sendo uma representação, não pode agradar a todos, e menos ainda reproduzir a pluralidade (e até pessoalidade) de pronúncias e modos de dizer. Exigi-lo seria como pedir a um pintor que pintasse o céu não como ele o vê, mas como cada um de nós, pessoalmente, o vê. Tarefa impossível.
Posto isto, o AO é importante porque aproxima da fonética uma série de palavras. E fá-lo, pela primeira vez, em função de um idioma que, sendo português, é também propriedade, matriz e identidade de outros povos e de outras latitudes. Cedemos? Não sei, nem me importa. Não quero uma língua para me distinguir do Brasil. Prefiro uma que me aproxime. E quem diz Brasil, que tem 200 milhões de falantes, diz naturalmente Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Timor.
Respeito o argumento de que a língua deve evoluir por ela, sem intervenção governamental. Creio, no entanto, que deve haver uma única e determinada ortografia nos manuais escolares e nos documentos. Ainda que cada escritor (como cada editora ou jornal) prefira o seu modo de escrever (Pessoa nunca respeitou o acordo de 1911), a ortografia escolar e oficial não pode ser espontânea nem à vontade do freguês. Acrescento que, curiosamente, nenhum de nós (ou quase) lê Pessoa (nem Eça, nem Camilo, nem sequer Aquilino ou Nemésio) na ortografia que os autores escolheram, assim como, apesar de usarmos a língua de Camões, há muito que não grafamos as palavras como ele ("Armas & os barões" ou "Occidental praya"). Quero com isto dizer que um jornal, uma editora, um escritor ou um Centro Cultural de Belém que não adira ao AO, ver-se-á, a breve prazo, a braços com uma escrita anacrónica... E um dia, tal como Pessoa ou Camões, será lido com a ortografia que então estiver em vigor.
Eis porque fui um dos entusiastas, na altura como diretor do Expresso, da utilização do AO nas publicações do Grupo Impresa. Eis porque não aceito que uma lei discutida durante mais de 20 anos seja constantemente colocada em causa. Ou que os opositores do AO esqueçam sistematicamente que a forma como escrevem resulta também de um AO imposto por lei.
Não vale a pena pensarmos que cada geração tem a pureza da grafia. O que pensar de Marco Túlio Tiro que, para poder transcrever os discursos de Cícero, abreviou diversas palavras com sinalética que até hoje usamos (etc., v.g., e.g.). Talvez o mesmo que muitos pensam das abreviaturas feitas pelos jovens nos telemóveis e redes sociais. E, no entanto, é a grafia que tem de estar ao serviço da comunicação - não o contrário.
Acirrar ânimos, insultar adversários, fazer juras solenes em torno de uma simples representação do nosso idioma faz-me lembrar aquele padre tio de Brás Cubas que o genial Machado de Assis (e não por acaso cito um autor brasileiro que devia ser mais lido em Portugal) descreve assim: "Não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia do que do altar. Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos mandamentos". (E aqui, a palavra infração segue o modo como ele a escreveu... em 1881).
Defender que o fim das consoantes mudas altera o modo de acentuar as palavras é desconhecer que dizemos as palavras tal e qual as ouvimos dizer e não como as vemos grafadas. Só assim se explica a forma diferente de dizer inúmeras palavras, (como conteúdo, dezoito) a troca dos vês pelos bês ou a diferença entre lixo e fixo

Não lemos os autores portugueses com a ortografia que eles escolheram. De Camões a Pessoa, de Bernardim Ribeiro a Eça, todos são vulgarmente lidos na ortografia atualmente em vigor (e que vem essencialmente de 1911). A guerra em torno do Acordo é inútil, anacrónica e, sobretudo, nada tem a ver com uma mítica pureza da língua que é algo que nunca existiu» [Expresso]
Autor:
Henrique Monteiro.
     

Passos cria emprego por decreto

«O Governo quer aumentar em 50% o número de colocações de trabalhadores desempregados até 2013, ou seja dar trabalho a mais três mil pessoas por mês, segundo uma resolução aprovada esta quinta-feira no Conselho de Ministros.» [CM]

Parecer:

Parece que o governo não percebe que o desemprego é algo demasiado sério para em pela crise de destruição de empregos o usar para efeitos de propaganda. Ainda por cima num dia cria sopas do pobres em todas a esquinas e no dia seguinte brinca com os desempregados, potenciais clientes da sopa dos pobres.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se a postura desta gaiatagem governamental.»
  
Só 3,3%?

«A Comissão Europeia reviu em baixa as suas previsões para a evolução da economia portuguesa, e espera agora que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal diminua 3,3 por cento em 2012.» [DN]

Parecer:

Esta Comissão vende optimismo, de qualquer das formas este valor é 0,5% superior ao considerado na elaboração do OE para este ano.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Gasparoika quando é que admite a sua incompetência na elaboração do OE para 2012.»
  
Chinesas exigem mais casas de banho

«O movimento chama-se "Ocupar Casas de Banho de Homens", numa alusão ao "Movimento Ocupar Wall Street", que agitou Nova Iorque em 2011 e que teve grande destaque na imprensa oficial chinesa.» [DN]
  
Ganda Relvas!

«O Governo não irá conceder, no próximo ano, tolerância de ponto no Carnaval, anunciou na quarta-feira à noite o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, em entrevista à TVI24.
  
"Naturalmente que a decisão deste ano no próximo ano se repetirá", afirmou, justificando que "não passa pela cabeça de ninguém que um Governo que tem coerência, uma linha orientadora e um dominador comum andasse a saltitar de ano para ano".» [Expresso]

Parecer:

Portugal devia estar grato a Deus por ter um ministro como o Relvas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Temos pena!

«Três administradores da Caixa Geral de Depósitos poderão ficar sujeitos aos limites salariais impostos pelo estatuto do gestor público, apesar de o banco do Estado ser uma das entidades que vão ficar de fora da aplicação daqueles tectos. Uma situação que, a confirmar-se, implicará que o presidente não executivo da CGD, Fernando Faria de Oliveira, e os administradores executivos, António Nogueira Leite e Nuno Fernandes Thomaz, passem a receber um salário inferior ao do primeiro-ministro, ao contrário dos restantes membros do conselho. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

Que grande chatice, nem vamos conseguir dormir.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso e aguarde-se a alteração oportuna da lei.»
  
 E o DR tem páginas suficientes?

«Os centros de emprego deverão aumentar a colocação de desempregados em 50%, o que implica mais três mil colocações por mês. Por outro lado, as ofertas de emprego captadas também deverão subir 20% até 2013. As metas já tinham sido discutidas antes com os parceiros sociais e foram ontem confirmadas pelo ministro da Economia. Álvaro Santos Pereira falava no final do Conselho de Ministros que aprovou várias alterações ao funcionamento dos centros de emprego.» [Diário Económico]

Parecer:

Até agora os únicos empregos que o Álvaro criou foram os seus assessores e adjuntos mais a menina jornalista que foi fazer turismo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pobre Álvaro.»
  
 A incompetência do Álvaro

«A situação portuguesa, segundo a Comissão Europeia, deve-se principalmente "à segmentação do mercado de trabalho, ao baixo nível das qualificações ou a uma grande percentagem de desemprego de longa duração entre os mais jovens".

A equipa enviada por Bruxelas irá trabalhar em estreita colaboração com peritos nacionais para avaliar como podem ser usados no combate ao desemprego entre os jovens os 14% de fundos estruturais europeus que estão por atribuir.» [DE]

Parecer:

O tal doutor cheio de ideias, desde o cluster do pastel de nata até à Florida do Algarve, na hora de preparar medidas revela-se um incompetente, ofende o Estado português e pede ajuda a Bruxelas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»


 Japan Earthquake: Before and After [The Atlantic]