terça-feira, abril 03, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Graffiti, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Paço de Arcos [. Cabral]


Jumento do dia


Passos Coelho

Sabe-se agora que quando fala de TGV e de bitolas de linhas o primeiro-ministro de Portugal não sabe do que fala e que escolheu um ministro da Economia que sabe tanto de economia de transportes como de lagares de azeite. Mas se não se pode exigir a um primeiro-ministro que saiba do que quer que seja, até porque as suas qualificações académicas apenas o habilitam a ler os horários da CP e pouco mais,  já se pode exigir-se que antes de abrir a boca tenha o cuidado de não dizer asneira pois as suas figuras tristes não se ficam por Massamá, põem em causa a imagem externa de Portugal.

Renunciar ao TGV para se dizer que em vez disso se opta pelo transporte rápido de mercadorias e que se vai construir uma linha até Badajoz com bitola europeia, desconhecendo-se que em Espanha essa bitola só está disponível a partir da Catalunha é transformar Portugal numa anedota europeia.

Aristides de Sousa Mendes (19-07-1885 / 3-04-1954) 

 
Às vezes sinto vergonha do meu país.

E o importante é...


Será que na reunião em que a CGD aceitou a imposição do governo ficou combinado o aumento dos salários dos seus administradores? Aceitam-se apostas.

«"Mais importante do que os salários é que a Caixa se possa afirmar como uma entidade empresarial, gerida segundo pressupostos de natureza técnica e de negócio, e menos como uma extensão da Administração Pública. O importante é que a CGD possa reganhar a independência que teve no passado". É desta forma que António Nogueira Leite, vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos, reage quando confrontado com o facto de o banco do Estado ser uma das três empresas públicas cujos gestores podem pedir para não ficar sujeitos aos limites salariais impostos pelo Estatuto do Gestor Público (EGP).» [Nogueira Leite, 19-03-2012]

Qual será a bitola intelectual de Passos Coelho?



«Com o abandono da ligação de Portugal à Rede  Transeuropeia de Alta Velocidade, foi anunciado pelo Governo um projecto alternativo, consistindo na construção de uma linha férrea dedicada a mercadorias em bitola Europeia (1435mm), ligando o porto de Sines à fronteira de Badajoz. Considerado como prioridade, este  caminho-de-ferro pretende, segundo o Governo, constituir-se num factor de apoio às exportações, projectando simultaneamente, além-Pirenéus, a área de influência do Terminal XXI. A apresentação de semelhante projecto, sem qualquer estudo prévio tornado público, suscita, à partida, um conjunto de interrogações.
  
Em virtude dos custos associados ao desgaste de infra-estrutura, e à disparidade de marchas de passageiros a 300 km/h relativamente a outras de carga, substancialmente mais lentas, Espanha interdita o trânsito de composições de mercadorias nas  suas linhas de “alta velocidade”, não restando à logística outra alternativa senão utilizar a rede convencional ibérica. Observando- se o mapa ferroviário de Espanha, verifica-se que o ponto mais  próximo de Badajoz onde existem linhas de bitola europeia aptas ao tráfego de mercadorias localiza-se em Barcelona-Morrot ou Irún, respectivamente a 1135 e 1219 km, através da rede ferroviária convencional de bitola ibérica (1668mm), gerida pelo Administrador de Infraestructuras Ferroviárias (ADIF). Como se pretende então que haja  continuidade, em território espanhol, do projecto preconizado pelo Governo português?
  
Mas dê-se de barato a aceitação por parte de Espanha das pretensões do Governo de Portugal, com o país vizinho comportando os custos de colocação de um terceiro carril ao longo de mais de 1100 km de linhas convencionais, entre Badajoz e a Catalunha, ou o País Basco.  Qual seria o retorno de semelhante investimento? Para um Governo português que sempre antagonizou a Alta Velocidade Ferroviária, duvidando da respectiva relação custo-benefício favorável, evidenciada por estudos realizados ao longo de quase duas décadas, afigura-se estranha a defesa de um investimento desprovido de qualquer tipo de suporte técnico e/ou económico conhecido. De igual modo, nada se refere quanto ao destino a dar  ao conjunto de obras realizadas, na expectativa da nova linha convencional de 92 km entre Évora e Caia, as quais incluíram a reabilitação integral e electrificação, entre Bombel/ Vendas Novas e Évora, há menos de um ano, e ainda a ampliação dos feixes  de linhas em Sines — tudo em bitola ibérica. Como  se enquadra este  investimento nas  intenções do Governo?
  
Assume-se que a “bitola europeia” é o “catalisador mágico”, por via do qual o tráfego ferroviário internacional de mercadorias experimentaria uma importância até hoje inexistente em Portugal. Mas não  se procura uma explicação para o facto de, correspondendo o movimento de cargas terrestres entre Portugal e Espanha a 70% do total internacional, o modo ferroviário abarcar apenas 5% desse quantitativo, apesar da bitola da rede convencional em ambos os Estados ibéricos ser a mesma.
  
Assume-se que a eliminação da operação de mudança de eixos, com a duração de uma hora, a que se submetem as composições de mercadorias nas fronteiras pirenaicas, constituiria factor de crescimento de tráfego. Mas não se demonstra qual o Valor do Tempo das mercadorias transportadas. Nem, tão-pouco, se uma redução temporal de uma hora (2,5% do total) em cerca de 40 horas de viagem entre Lisboa ou Sines e Paris, se traduziria em benefício efectivo, justificando o respectivo custo de investimento.
  
Não estaremos assim perante mais uma miragem, a juntar a tantas outras passadas, em  duas décadas perdidas para o investimento ferroviário em  Portugal?» [Manuel Margarido Tão, Ed. impressa do Público]

Lições da avó Prazeres: quem não tem dinheiro não tem vícios


Lição da avó Prazeres: cada um por si, Deus por todos


A vigarice da extinção das freguesias

O país tem a percepção de que é necessária uma reforma profunda do modelo autárquico revendo o número de municípios, a troika exigiu uma redução da despesa nas autarquias através da extinção de algumas, o espertalhão do Miguel Relvas decidiu extinguir as juntas de freguesia, o elo político mais fraco. Para proteger os seus arrisca-se a um levantamento popular.
  
É evidente que não faz sentido que pequenos municípios tenham quatro dezenas de juntas de freguesia, mas a verdade é que a maioria destas juntas quase não gastam dinheiro e o pouco dinheiro que gastam é bem gasto e escrutinado pela população.
  
De que serve Lisboa fundir freguesias se para mudar o gabinete do presidente da autarquia para o Intendente gasta-se tanto como se gasta com muitas freguesias? De que serve extinguir freguesia se a câmara mantém serviços da treta? Onde se pouparia mais, extinguindo freguesias que estão próximas da população ou vendendo património imobiliário desnecessário e mal gerido?
  
Não são as juntas de freguesia que abrem luxuosos gabinete de atendimento, que contratam assessores a peso de ouro, que inventam, empresas municipais para empregar amigos, são as câmaras municipais e muitas delas não fazem sentido. Apenas existem para financiar as máquinas partidárias e é por isso que até os partidos que não costuma estar no governo estão ao lado de Relvas nesta imensa mentira.

Estar ao serviço do governo não é fácil

Pobre Camilo Lourenço, para defender o governo escreve como se estivesse numa prova de ginástica, são cambalhotas atrás de cambalhotas numa tentativa de explicar o inexplicável, mesmo recorrendo à falta de honestidade intelectual:

«O primeiro-ministro admitiu que o desemprego vai continuar a subir em 2012. Estranho seria que dissesse o contrário, até porque ele sabe que os 14,5% do OE rectificativo vão ser superados. Mas por que sobe tanto o desemprego? Por causa da crise económica? Sim, mas isso não explica tudo. A razão principal é a falta de investimento. É verdade que a FBCF cresceu sempre desde 2005 (excepto em 2010 e 2011). Mas isso deveu-se, essencialmente, a investimento público. De duvidosa utilidade... O investimento privado, onde se inclui o estrangeiro (que devia ser o "driver" do nosso desenvolvimento), foi reduzido. 

Foi esta "seca" de investimento privado que agravou as coisas. O leitor dirá que não é assim, que ainda em 2008 o desemprego não passava de 7,25%. É verdade, só que isso deveu-se ao crescimento do emprego no Estado (nessa altura havia mais de 750 mil funcionários públicos).» [Jornal de Negócios]

Desiste Camilo, o desemprego vai aumentar pelas razões óbvias, o empobrecimento forçado dos portugueses leva necessariamente a uma redução brutal do consumo e a uma alteração no comportamento dos consumidores.

 Ao que isto chegou

Não há mal que o Camilo tente iludir a realidade e defendendo o seu querido governo fazendo exercícios de ginástica, o problema é da coluna dele. Mas o Bruno Proença, do DE, vai mais longe, arma-se em coronel na reserva e leva o exercício da censura mais longe do que alguma vez foi, acha que pode mandar calar um vice-presidente do BCE.

O pobre rapaz achou que devia chamar a si o papel de defensor da estratégia da mentira do firme e hirto de Passos Coelho e achou que devia mandar calar Vítor Constâncio. Por este andar ainda vamos ver o Camilo e o Bruno usando a farda da PSP e batendo noutros jornalistas que andem a fotografar o que não convém ao governo que seja fotografado.


Isto não é claustrofobia democrática, é bordoada democrática.
  
 

O grau da recessão

«Os economistas dizem que “as recessões são como os tufões: a sua gravidade vai de 1 a 5, de comum a catástrofe”.


As recessões de tipo comum fazem parte do ciclo económico porque acontecem quando os ‘stocks' de produtos das empresas excedem a procura, obrigando-as a baixar a produção até que os artigos em armazém sejam escoados. A categoria 5 acontece quando a procura diminui muito, os consumidores deixam de comprar e quando as empresas deixam de investir. No seu livro autobiográfico "A Era da Turbulência" (publicado há 5 anos pela Editorial Presença) Alan Greenspan, antigo presidente da Reserva Federal dos EUA, conta que em 1974, quando era assessor do Presidente Ford, participou no processo de aconselhamento do Presidente sobre que medidas tomar face à forte recessão que o país à data sofreu, agravada pela crise petrolífera de então. A questão é que à data - como hoje - não havia modelos económicos de previsão que classifiquem, com rigor suficiente, qual o grau da recessão que se terá de combater. A importância da classificação do grau de recessão que enfrentamos resulta do facto das medidas a tomar serem completamente diferentes.


O grau 5 requer em regra uma redução dos impostos e/ou um aumento maciço do investimento público, muitas vezes com emissão de moeda, crédito fácil e barato.


Se for admitido que o grau é 2 há o risco do programa de ataque à recessão ser considerado inadequado por se revelar demasiado moderado, poder prolongar a recessão e agravar a crise. Mas o presidente Ford tinha que optar e, apesar de pressionado pelo Congresso em sentido contrário, deu instruções para que se elaborasse o mais suave plano que se conseguisse. Acertou, porque passados menos de 2 anos, a economia estava já a crescer e a crise estava controlada.


Esta história passada com Alan Greenspan há quase 40 anos tem plena atualidade em Portugal, numa altura em que a previsão da recessão para 2012 tem vindo a evoluir de - 1,8% do PIB no início, para - 3,4% do PIB com a previsão agora anunciada pelo Banco de Portugal. Havendo um consenso alargado no país de que a nossa recessão não estará ainda no grau 5, e de que todos desejamos que não o atinja, a ausência de modelos económicos de previsão seguros não permite saber quem tem razão relativamente ao pacote de medidas a adotar, área onde - aí sim - há fortes divergências. Mas não seria mau "beber" das experiências passadas que, de algum modo, nos dizem que um remédio tomado muito depressa pode conduzir a que a saúde piore. Agora que os chineses "andam por aí" não seria mau aprender com eles a ser paciente, a saber esperar e dosear o pacote de medidas para que, como o Presidente Ford fez, se consiga reduzir o grau da recessão e não aumentá-lo...porque poderemos estar a ser conduzidos ao grau 5 da recessão sem nos apercebermos!» [DE]

Autor:

Francisco Murteira Nabo.
  
Fim da crise para quem?

«Neste quadro de calamidade social, em contínuo agravamento, e sem fim à vista, que vários dirigentes europeus declararam solenemente o “princípio do fim da crise do euro”
  
Todos os dias, através da comunicação social ou por conhecimento directo, vamos tendo a noção dos efeitos devastadores das políticas de austeridade aplicadas pelo governo e pela troika. O presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos diz ter conhecimento que “há doentes com cancro a faltar a consultas e a tratamentos de rádio e de quimioterapia, devido a dificuldades económicas”. O presidente da Câmara de Solicitadores estima que “cerca de 50 mil funcionários públicos têm os salários penhorados para garantir o pagamento das dívidas”. A venda de candeeiros a petróleo e de sacos de água quente sobe em flexa. Um comerciante, em Oeiras, afirma: “Encomendo aos 150 candeeiros de cada vez e desaparece tudo.” Um inquérito alimentar realizado pela Deco revelou que existem pelo menos 40 mil idosos em Portugal sem dinheiro para comer. O número de casais com ambos os cônjuges desempregados disparou 73,2% em Fevereiro, em comparação com o mesmo mês de 2011. A lista da miséria que se instala é extensa e tudo indica que é apenas a ponta do iceberg porque a pobreza se esconde envergonhada. Na Grécia a situação é ainda pior e a Espanha não lhe fica atrás. A Itália e a França para lá caminham.


É neste quadro de calamidade social, em contínuo agravamento, e sem fim à vista, que vários dirigentes europeus, durante a semana passada, embandeiraram em arco, e declararam solenemente o “princípio do fim da crise do euro”. Por cá, Passos Coelho, em entrevista televisiva, fez eco desse optimismo despropositado: Portugal não precisa de um segundo resgate, nem de mais prazo, nem de mais nada para que em Setembro de 2013 regresse tranquilamente a pedir dinheiro emprestado aos mercados. Isto dito, assim, quando nos aguarde, por este caminho, um segundo resgate. Afinado pelo mesmo diapasão, o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, em Tóquio, com ar solene, disse: “Acredito que esta crise do euro está quase a terminar.” E fundamentou as suas expectativas no acordo para o segundo resgate da Grécia e os planos de austeridade em Espanha e na Itália. Nenhum dos argumentos tem a menor consistência. O acordo para o segundo resgate da Grécia não a livra do desastre anunciado. A recessão, a dívida pública e o desemprego não param de crescer desde o primeiro resgate, sinais de que a receita aplicada se destina a matar o doente. Quanto à Espanha, com uma taxa de desemprego que ultrapassa os 20%, que se irá agravar com as novas medidas de austeridade agora impostas, não se livra de um apoio financeiro externo, de forma aberta ou encapotada, para a recapitalização do sistema bancário. Como tem sido hábito nos últimos dois anos, a reunião dos ministros das Finanças da União Monetária, realizada na sexta-feira, não aqueceu, nem arrefeceu. Inventam siglas (depois do FEEF, veio o ESM), aumentam dotações para a salvação do euro sem saber onde encontrar o dinheiro que as sustente e declararam a sua preocupação com a situação espanhola.


No meio deste vendaval, as declarações optimistas dos dirigentes europeus, incluindo o nosso primeiro-ministro, apenas se destinam a anestesiar o descontentamento generalizado que alastra e a evitar explosões sociais iminentes. No fundo, o anúncio do “fim da crise” e a fixação de datas para o retorno à “normalidade”, querem dizer: “Aguentem mais um pouco, não estraguem o nosso trabalho.” Contudo, a realidade – a pobreza em que milhões de pessoas estão a ser lançadas –, pode vir a contrariar este discurso político. A pujança da greve geral em Espanha, que paralisou as cinturas industriais das principais cidades, indicia que os nossos vizinhos vão passar a estar na berlinda, quer dos “mercados”, quer da contestação social. Dificilmente a União Europeia vai sair incólume desta crise.» [i]

Autor:

Tomás Vasques.
  
Os banqueiros alquimistas

«Ao que parece vários banqueiros portugueses lançaram-se nos últimos meses na difícil tarefa de transformar lixo em ouro. Desde a antiguidade que a tarefa não é fácil, mas como a história financeira pós 2007 revelou com dolorosa veemência, imaginação e engenho nunca faltaram aos financeiros. Neste caso a tentativa é transformar crédito mal parado em activos de longo prazo. E sem perdas 


A técnica passa por atirar dívidas incómodas – especialmente de empresas em dificuldades - para dentro de fundos de investimento, cujas unidades de participação são, por sua vez, detidas pelos próprios bancos. Estes veículos, criados e geridos por empresas de capital de risco, mantêm depois os créditos em carteira por vários anos. É um excelente artifício. 


Os bancos, apesar de continuarem a deter indirectamente os créditos, só terão de reconhecer eventuais perdas no final da vida dos fundos, daqui a vários anos. Além disso, têm conseguido apresentar à troika uma evolução notável na desalavancagem, e ainda atenuar os alarmantes números do mal parado. Os gestores de capital de risco, por seu lado, receberão chorudas comissões ao longo de vários anos, sem risco e quase sem trabalho. É que, em vários destes casos, o que estará em causa será tão somente desenhar veículos para parquear os créditos dos bancos. 


O Banco de Portugal (BdP) e a troika sabem de tudo, garantem que estão em cima do acontecimento e que vão separar os fundos de capital de risco "verdadeiros" dos que servem apenas para iludir a atrasar as necessárias reestruturações na banca. Forçarão também valorizações apropriadas dos créditos vendidos. 


Não é contudo ainda claro como é que essas valorizações ocorrerão e que perdas implicarão. Para os preços praticados até agora, não parece haver interessados entre as empresas estrangeiras de capital de risco. Já por cá, o "negócio da moda", como o descreveu o Diário Económico, tem atraído muitas empresas geridas por primeiras linhas do nosso mundo financeiro, político e empresarial.


Em nome da estabilidade do sistema financeiro, num momento de grandes exigências de capital, a troika e o BdP poderão ser tentados a suavizar as exigências sobre os bancos. Isso quererá também dizer que lhes concederão uma ajuda pouco transparente e nada de mercado. 


Carlos Costa afirmou recentemente que "um banco não é diferente de uma fábrica de automóveis". Mas o Governador sabe bem que há muitas diferenças entre os dois sectores. Entre elas está o facto do sistema financeiro ser muito mais propício ao ilusionismo, querendo-nos demasiadas vezes fazer crer que o lixo é, afinal, ouro.» [Jornal de Negócios]

Autor:

Rui Peres Jorge.

A OPA do corno manso

«As OPA já não são o que eram: os negócios agora só são abertos depois de fechados. A Cimpor será partida entre brasileiros, com o alto patrocínio daquela que mais jurou impedi-lo, a prestimosa Caixa. Foi bem mandada pelo Governo. Os liberais, os ufanos defensores do jogo livre - Passos, Gaspar e Borges -, revelam-se afinal vorazes manipuladores: fecharam eles o negócio com a Camargo. Um bocadinho sonso, este bom aluno.


A OPA da Camargo Corrêa à Cimpor já está decidida. A venda assumida pela CGD e o aparente alinhamento com a Votorantim condicionam os demais accionistas. Os grandes, claro; os pequenos investidores são chicha. Vai-se a Cimpor. Às postas.


O destino está na verdade traçado há mais de dois anos. Quando a brasileira CSN lançou uma OPA, apareceram dois grupos brasileiros: a Camargo, que comprou a participação da Teixeira Duarte e lançou uma OPA encapotada através de uma fusão, o que a CMVM felizmente inviabilizou; e a Votorantim, que comprou à Lafarge e matou tudo com um acordo com a Caixa, de quem se tornou sócia. Nessa altura, aqui foi escrito o que tudo parecia: que a Camargo e a Votorantim tinham avançado sobre a Cimpor para impedir a CSN de se tornar concorrente no mercado brasileiro que ambas dividem; e que a Camargo e a Votorantim mais tarde concluiriam o processo desmantelando a Cimpor. Não foi preciso ser bruxo.


A Cimpor vai à vida. Num lamento português de mais de dez anos, a empresa andou de OPA em OPA até chegar a esta triste divisão, abocanhada por concorrentes. Culpa? Dos seus accionistas, que se enfeudaram numa luta de poder que teve os mesmos vícios da luta de poder do BCP. É natural, as pessoas eram as mesmas: Teixeira Duarte, Manuel Fino, o próprio BCP, a Caixa. Mas a Caixa…


A Caixa é um caso perdido. Foi a Caixa que matou a OPA da CSN, para proteger o Centro de Decisão Nacional, que agora entrega de bandeja. É sempre essa historieta dos centros de decisão que serve de borracha para todos os erros. Mas explique lá a lógica da batata: há dois anos, a Caixa não quis vender a Cimpor na OPA a 6,18 euros por acção (a Teixeira Duarte venderia a 6,5 euros; a Lafarge trocaria activos sob uma avaliação a 6,5 euros); há meses, o banco do Estado disse que só o faria a 6,5 euros. E agora vende a 5,5 euros. Hum… Não faz muito sentido, pois não?


Faz se for traduzido: a Caixa é o cavaleiro branco do Passos Coelho, o testa de ferro de Vítor Gaspar, o carro vassoura de António Borges. Idólatras da "mão invisível", adoptaram um conceito conveniente: a "mão que manda invisivelmente". Foram oportunistas à primeira oportunidade. E assim se fechou um acordo entre Finanças, Camargo e supõe-se que Votorantim. A decisão "do accionista" é um vexame tão grande para a administração da Caixa (que obedece, vende baratinho e até abdica de 200 milhões do contrato que tinha com a Votorantim) que de uma vez por todas se devia assumir que a Caixa não é um banco, é mesmo uma extensão do Ministério das Finanças, um pau mandado do Governo. E acaba-se com a conversa de treta da governança, da independência, do banco de mercado. É mais honesto assumi-lo: quando é preciso, a Caixa é um recreio do Governo.


Vítor Gaspar não é burro, é inteligente. Se fechou o negócio com a Camargo nestes moldes e deu dois berros à Caixa para assiná-lo, é porque há contrapartidas que desconhecemos. Provavelmente, para outras privatizações, como a TAP e a Ana. Depois da privatização da EDP, em que se acordou em segredo manter contratos de subsidiação à produção (afirmando antes que não se faria), o Governo continua a fazer negócios com empresas cotadas e bancos públicos atrás de nebulosas cortinas.


Há dois anos, aqui se chamou à oferta da CSN sobre a Cimpor a OPA do táxi: os quatro accionistas que decidiriam o sucesso da oferta caberiam no mesmo automóvel. Agora é ainda mais simples. É a OPA da mota: o Governo conduz, a Caixa vai no "side-car". A Caixa é o "corno manso" desta história: foi usada, é enganada (deixando cair, já agora, Manuel Fino), e ainda aparece na festa a rir. Confirma-se: Gaspar é o maior. » [Jornal de Negócios]

Autor:

Pedro Santos Guerreiro.
   

Boas notícias para o Gaspar
  
«Nos primeiros dois meses do ano, 207 empresas iniciaram processos de despedimento coletivo, o que pode resultar no despedimento de 2037 pessoas a médio prazo, um número que sobe 116,9 por cento relativamente a 2011, segundo dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.


Em Janeiro, 114 empresas iniciaram processos de despedimento coletivo envolvendo 1139 trabalhadores e, no mês seguinte, foram 93 a querer despedir 898 pessoas. O universo destas 207 empresas inclui um total de 17958 trabalhadores.» [Expresso]
  
«A taxa de desemprego em Portugal agravou-se para novo recorde em Fevereiro, ascendeu aos 15%, indicou hoje o Eurostat.


O número representa um agravamento face aos 14,8% registados em Dezembro e coloca Portugal como o terceiro país da União Europeia com mais desemprego. A contribuir fortemente para estes dados está o desemprego entre os jovens, com menos de 25 anos, que subiu de 35,1% em Janeiro para 35,4% em Fevereiro.» [DE]

Parecer:

A avó Prazeres deve estar orgulhosa do seu rebento.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»
  
Alguém viu o Paulo Portas?

«A Dow Chemical vai encerrar a sua fábrica em Portugal, localizada em Estarreja. A empresa de químicos norte-americana anunciou hoje que pretende fechar a sua unidade portuguesa e outras três localizadas no Brasil, Hungria e Illinois (EUA), como plano para conter custos na ordem dos 250 milhões de dólares por ano.» [DE]

Parecer:

Parece que as mariquices da diplomacia económica não estão a dar grande resultado.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Procure-se pelo Paulo Portas.»
  
Desta vez o professor Marcelo excedeu-se

   
«Os socialistas "lamentam e repudiam" o comentário proferido ontem no Jornal da noite, da TVI, por Marcelo Rebelo de Sousa sobre o secretário-geral do PS, António José Seguro, e acusam que o também militante social-democrata de "faltar à verdade" três vezes.


Perante aquilo que considera uma "tamanha falta de ética ou de profissionalismo", o Secretariado Nacional do PS anunciou em comunicado que vai "formalizar a solicitação do direito de resposta/retificação à TVI (o qual já foi solicitado telefonicamente) e expressa publicamente a sua solidariedade para com o secretário-geral do PS".


Marcelo Rebelo de Sousa disse que a recente revisão de estatutos do PS foi uma "jogada politicamente importante de Seguro" e que a partir de agora é de lamentar que "ganhe a lista que tiver mais votos, como no tempo do salazarismo".» [Expresso]

Parecer:

Não se percebe tanta indignação, todo o país sabe que o que o "professor" diz não passa de baboseiras que a direita gosta de ouvir.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  
A anedota do dia

«“Estes números significam que ainda estamos na inércia da situação anterior “, referiu António Saraiva, à saída do encontro da concertação social com o ministro da Segurança Social e Solidariedade, Pedro Mota Soares. “Receio que se não fizermos nada que altere esta situação, pela falência das empresas, o desemprego vai aumentar”, acrescentou.» [i]

Parecer:

Estar na inércia significa que não se pode fazer o que prevê o acordo, despedir mais facilmente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo aumento do desemprego.»
  
O Gaspar teve mais um momento Teixeira dos Santos

«Portugal chegou ao final de fevereiro com uma taxa de desemprego de 15%, uma subida de 0,2% face a janeiro e a terceira mais elevada da União Europeia, revelou, esta segunda-feira, o Eurostat.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

O OE rectificativo prevê um desemprego de 14,5%, em final de Fevereiro o desemprego já ia em 15%. O Gaspar já não inscreve previsões nos seus documentos, recorre à mentira criativa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se o Gaspar para o Prémio Teixeira dos Santos, atribuído às piores previsões.»
  
Quem se terá safado?

«Às 16h23 a Cimpor avançava 0,77% para cotar nos 4,697 euros, com menos de 350 mil títulos transaccionados. Treze minutos depois, no fecho da sessão, as acções subiam 1,44% para os 5,00 euros, já com 723 mil acções negociadas. A CMVM irá proceder à análise dos negócios efectuados, como acontece sempre que é divulgada informação privilegiada, para aferir se algum investidor teve acesso antecipado à mesma. O Código dos Valores Mobiliários obriga "a oferente, a sociedade visada, os seus accionistas e os titulares de órgãos sociais (...) a guardar segredo sobre a preparação da oferta até ao anúncio.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Seria interessante saber quem comprou acções à pressa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se sentado.»