terça-feira, maio 29, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Guincho-comum [Larus ridibundus], Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Golfinhos no Tejo [A. Cabral]
    
Jumento do dia


Cavaco Silva

Como é habitual Cavaco Silva foi dar uma volta à Ásia fazer o que faz quando vai a Boliqueime, falar bem da sua própria pessoa. Como conclusão da visita a Singapura chegou à brilhante conclusão de que para exportar é preciso sair dos sofás de Lisboa. Longe vão os tempos em que o país teve um primeiro-ministro que correu mundo para promover as nossas exportações, com os resultados que agora estamos a assistir e outros fazem seus. Esse primeiro-ministro costumava queixar-se de que outros não o ajudavam a puxar pelo país.

«Em declarações aos jornalistas, Cavaco Silva fez um balanço da visita oficial de um dia e meio que realizou a Singapura, que considerou "a verdadeira porta de penetração" nos mercados da Ásia.

"Se queremos chegar a estes mercados, não podemos ficar nos sofás, nas cadeiras de Lisboa, temos de vir ao terreno que é o mesmo que os outros países fazem", defendeu.» [CM]

Merkel acha que Berlim fica na Rússia


 Como a banca enriquece com a dívida dos Estados


Relvas patético

Atrapalhado e muito provavelmente a lutar desesperadamente por se manter em ministro Miguel Relvas aproveitou-se do acordo financeiro com as autarquias locais para chamar a si a conferência de imprensa no final do conselho de ministros transformando-a numa comunicação oficial ao país em hora de telejornal. Patético.
  
Minutos depois os jornais amigos davam conta a comunicação de Relvas nas suas edições online. Será que acham que vão salvar o cadáver político do enterro mais do que anunciado?
   
 

Obrigado, Relvas

«O Governo britânico já fez saber que se a Zona Euro implodir, e no meio das ondas de choque daí decorrentes, os controles de fronteira vão apertar para os viajantes provenientes da periferia europeia. Cada vez que um grego ou um português aterrarem em Londres, serão olhados como potenciais refugiados económicos. A diretora do FMI, Christine Lagarde, escolheu esta altura crítica em que a Grécia está à beira de uma catástrofe com repercussão global para puxar as orelhas aos gregos, acusando-os de não pagarem impostos, e dando razão aos 79% de alemães que, de acordo, com uma sondagem, querem ver Atenas o mais longe possível. Como cereja em cima do bolo, num relatório recente do banco central alemão (Bundesbank), dirigido por uma espécie de banqueiro anarquista chamado Jens Weidmann, chegava-se à tranquila conclusão de que a saída da Grécia da Zona Euro terá custos aceitáveis e que pior seria quebrar as regras da austeridade perpétua. Com gente tão inteligente e sensata à frente das instituições que decidem o nosso futuro coletivo, tudo indica que o próximo mês de junho ficará para a história como mais um dos meses quentes da história europeia. Ao lado de agosto de 1914 ou de setembro de 1939...Felizmente, que temos em Portugal o "caso Relvas", para nos devolver à dimensão da pequena escala. Pessoas sem qualquer vocação para a coisa pública, que chegam à frente de ministérios, são habituais em Portugal. Numa altura em que nada do que é decisivo para o nosso futuro passa por Lisboa, o ministro Relvas deveria ser publicamente elogiado por confortar psicologicamente os portugueses com coisas mediocremente comezinhas e familiares. É um inegável serviço prestado à saúde pública, nestes tempos difíceis.» [DN]

Autor:

Viriato Soromenho-Marques.
  
A tática é provocar?

«A patroa do FMI, Christine Lagarde, que ganha 380 mil euros/ano livres de impostos, mandou os gregos pagar os impostos. Interrogada sobre os pais gregos não poderem dar aos filhos o que davam antes, Lagarde - que nas páginas de moda do mesmo jornal que a entrevistava era considerada com a rainha Rania da Jordânia das mulheres que melhor se veste - disse que era altura de eles pagarem e não de esperarem simpatia. E disse que essa simpatia ela reservava para as crianças do Níger que na escola dividem um banco por três. Arrogância contra os gregos, pois. No entanto, apesar dos seus 380 mil euros livres de impostos e saia casaco de marca Austin Reed, Lagarde tem razão. Os gregos, ricos (bancos, armadores e Igreja Ortodoxa) e pobres (com ordenado mínimo superior 40 por cento ao português), entre os europeus que se endividaram são os que menos põem as contas em dia. E, sobretudo, votam de forma irresponsável. Sei que é preciso definir esse "irresponsável", lá vai: votam nos que querendo ficar no euro, não se dão as condições, coligando-se, para ficar. Evidentemente, os gregos ficaram humilhados com as palavras de Lagarde. É isso que me preocupa: a patroa do FMI não foi política. Ora, tendo ela sido na juventude membro da equipa francesa de natação sincronizada, receio que Lagarde tivesse dito o que queria e combinada com muitos. A hora é, talvez, de provocar os gregos, fazê-los votar em extremistas e pôr a Grécia na rua.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
Retrato de família, com Lagarde ao fundo

«A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, numa entrevista ao “Guardian”, declarou, mais vírgula, menos vírgula, que se está a borrifar para as crianças gregas que passam fome. E, como se fosse a Madre Teresa de Calcutá, como se tivesse passado a vida nas florestas africanas a fazer voluntariado ou como se entregasse a sua abastada remuneração a obras de caridade, continuou, com desfaçatez: “Penso mais nas crianças de uma escola numa pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três.” E concluiu com “chave de ouro”: os pais das crianças gregas que paguem os seus impostos.
  
A demagogia destas declarações é muito mais chocante do que o comportamento sexual do seu antecessor. A bem remunerada burocrata Lagarde fala dos gregos, do povo grego, como quem fala de um bando de salteadores, o que revela, também, para além da demagogia, a arrogância das instituições financeiras que sugam, em juros, o trabalho alheio e, em vez de se envergonharem da usura, benzem--se como se fossem filantropos.
  
Depois de ter proposto uma “saída ordenada” da Grécia do euro e da União Europeia, estas declarações de Christine Lagarde significam, também, que, após a vitória de Holande, em França, e da ascensão eleitoral da extrema- -esquerda, na Grécia, o que trouxe para cima da mesa a discussão de novas questões sobre o futuro da União Europeia, o FMI deixa claro que, nessa contenda, está inequivocamente ao lado da senhora Merkel e da visão alemã da Europa. Limpa, assim, de uma vez por todas, algumas declarações anteriores da directora-geral do FMI, nas quais insinuou que a Grécia precisava de “mais tempo e mais dinheiro” para poder resolver a sua situação. Mas, para entender melhor o que está em causa, nesta União Europeia governada pelos interesses alemães, na sexta-feira, o “Der Spiegel” tornou público dois documentos internos do governo alemão, produzidos pelo Ministério da Economia, nos quais se propõe que os países meridionais em dificuldade, e citam a Grécia e Portugal (a que a Espanha não deve escapar), só se livram do inferno em que se afundam se seguirem o “modelo chinês”, constituindo “zonas económicas especiais” dentro da Europa.
  
Estas “zonas” poderão atrair investimento estrangeiro, e resolver os seus problemas de deficit orçamental e dívida externa, se aliviarem substancialmente a carga fiscal para as empresas e se eliminarem grande parte do que resta da legislação protectora do trabalho (nomeadamente o fim da contratação colectiva do trabalho, a facilitação do despedimento, o aumento da idade de reforma, etc.), e se suspenderem a legislação de defesa do ambiente. A senhora Lagarde não está preocupada com o sofrimento de ninguém. Se estivesse, a instituição que representa podia aliviar o sofrimento das crianças africanas. Mas, como não tem garantias do retorno do dinheiro a emprestar (com os respectivos juros usurários), por parte dos governantes do Niger e de outros países africanos, fica com o dinheiro no cofre. Porque não quer correr riscos. Os riscos, para o FMI, estão só do lado dos devedores.
   
Em boa verdade, Christine Lagarde e a senhora Merkel não estão minimamente interessadas em aliviar o sofrimento de ninguém, antes pelo contrário. O que elas querem, em nome dos “senhores do dinheiro”, é que as crianças gregas e as portuguesas sofram como as crianças africanas. Foi-nos conferida a vil tristeza de testemunhar este aviltamento da Europa e da condição humana. Como pressagiou Fernando Pessoa: depois do período do dinheiro, “cairemos por fim em outro de autoridade, até que, no extremo, a nova barbárie, outra vez a força, nos tome e leve”.» [i]

Autor:

Tomás Vasques.
    

A anedota do dia

«A pressão política sobre o braço-direito do primeiro-ministro não acalmou. A oposição pede esclarecimentos extra no parlamento e o incómodo existe mesmo dentro do PSD. Em causa estão eventuais contradições de Miguel Relvas sobre a relação que mantinha com Jorge Silva Carvalho. Em declarações ao i o ministro Adjunto sacode a pressão: “Vou sair mais forte” deste caso.» [i]

Parecer:

Anedótico e patético.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Relvas se vai subir na hierarquia do governo.»
  
Gente que deve agradecer a Passos a felicidade de mudar de vida

«O tráfico de seres humanos para exploração laboral tem aumentado em Portugal, e para conhecer essa realidade, que se acentua com a crise internacional, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra iniciou uma investigação.
  
A constatação de que o tráfico laboral em Portugal poderia ser "um fenómeno preocupante" surgiu dos estudos que o CES tem vindo a desenvolver sobre o tráfego de seres humanos para exploração sexual, revelou à agência Lusa Madalena Duarte, uma das investigadoras destas temáticas.» [JN]

Parecer:

Que sorte que os portugueses têm!

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mandem-se os parabéns a Passos Coelho e ao ajustador Gasparoika.»