sábado, setembro 01, 2012

O preconceito é cena que não me assiste


De repente a direita nascida nas sacristias, conservadora e cobarde tornou-se numa direita modernaça, corajosa, reformadora. O governo e algumas personalidades que o apoiam tentam comportar-se como uma verdadeira vanguarda, o equivalente na direita da vanguarda do proletariado do marxismo-leninismo.
  
Passos Coelho deu o tom, o rapaz cuja vida foi marcada pela coragem, pelo sacrifício, pelo esforço, aliás, qualidades comuns aos amigos que com ele conquistaram o poder, como é o caso do doutoríssmo Relvas. O primeiro-ministro é um homem corajoso, capaz de viver com uma sopa de beldroegas e não percebe a razão de tanta pieguice do povo, daí que nos disse para não sermos piegas. Devemos fazer como ele, tomar banhos de imersão e usar a água para toda a família, comprar asas de frango e servir um janytar de canja, enfim.
  
Outra coisa que não devemos ser é histéricos, se o Relvas tem a brilhante ideia de oferecer a RTP a um grupo de amigos devemos partir do princípio de que o doutoríssimo está velando pelos nossos interesses, o homem até é muito aberto ao estudo e ao conhecimento e enquanto nós andamos na boa vida ele estuda, estuda, estuda que se farta. Se ele diz que oferecer a RTP à Ongoing e/ou à Cofina e ainda lhes pagar algum por fora é a melhor solução então devemos reagir agradecendo a brilhante ideia do doutoríssimo e não sermos hiestéricos, porque isso de opinarmos neste país é e deve ser entendido como histeria.
  
Esta gente está a fazer o melhor pelo país, se o Pires de Lima quer uma reforma é porque é a melhor solução, se o Portas quiser comprar um porta-aviões é porque precisamos mesmo dele, se o Álvaro diz que vamos exportar pastéis de nata para o Nepal é porque vamos mesmo. Devemos acreditar, confiar e acabar com empecilho.
  
É por isso que devemos seguir o conselho da Leonor Beleza e deixarmo-nos de preconceitos.
  
O preconceito é uma cena que nos assiste, a Constituição incomoda, impede o trabalho escravo e proíbe que o Vasconcelos decida o que é serviço público de televisão? Esquece-se a Constituição. O trabalho pago é um obstáculo à competitividade? Acaba-se com o empecilho e restaura-se o trabalho escravo. Os limites ao consumo de álcool impede que a Unicer do Pires de Lima venda mais cerveja? Permite-se que o pessoal ande bêbado que nem um cacho ao volante.
  
Deixemo-nos de preconceitos, o preconceito é uma cena que não nos assiste, neste país não regras, princípios e muito menos preconceitos.