quinta-feira, novembro 29, 2012

Umas no cravo e outras na ferradura

 
 
   Foto Jumento
 
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Estátua na Rua Augusta, Lisboa
   
Imagens dos visitantes d'O Jumento
 
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Aldeia de Monsanto [A. Cabral]   
   
Jumento do dia
  
Alberto da Ponte, o "Relvas" da RTP
 
Como cidadão fico muito tranquilo ao saber que a RTP fez um inquérito em que concluiu que o ex-director de informação da estação pública de televisão tinha permitido à polícia visionar imagens, fico a saber que temos um grande defensor dos direitos civis que não permite que os jornalistas sejam polícias em part-rime. É louvável.
 
Mas é uma pena que o senhor Alberto da Ponte primeiro tenha acuado e depois tenha feito o inquérito, muito provavelmente por gente temerosa de deus e dos seus apóstolos. Por este andar e como sugere a ministra da Justiça, ainda se vai acabar mesmo com a impunidade, julga-se o pessoal e depois manda-se um funcionário fazer um inquérito.
 
Começa a sentir-se um certo mau cheiro nas ruas do meu país, um cheiro que se sentiu durante mais de quatro décadas.


  
 Notícia das servidões
   
«O sr. Selassié, cujos patronímicos lembram os do antigo imperador da Etiópia, deu uma entrevista a jornalistas solícitos e zelosos, como se fosse o procônsul destoutro império. Se calhar é, e nós não queremos acreditar. Há, neste triste assunto, a absurda qualificação atribuída a um funcionário europeu, e a subserviência exasperante de quem devia respeitar, seriamente, as funções de jornalista, escalonando as prioridades de noticiário. Mas as coisas, neste país, estão como estão. A expressão da mediocridade coincide dramaticamente com as características de quem a promove. E o servilismo tomou carta de alforria. É um espectáculo deplorável assistir-se ao cortejo de subserviências quando os escriturários da troika vão ao Parlamento ou aos ministérios.
  
Somos tratados com displicente condescendência. Afinal, numa interpretação lisa e, acaso, aceitável, somos os pedintes e eles os curadores dessa nossa triste condição. A ela temos de nos sujeitar. Selassié produz afirmações tão extraordinárias quanto ignaras acerca do que somos, de quem somos e de como havemos de ser. O pessoal do Governo demonstra uma felicidade esfuziante com o convívio, e até Paulo Portas o admite, embora pouco à vontade. Aliás, não se percebe muito bem até onde o presidente do CDS vai suportar, com frustrados sorrisos, os permanentes vexames a que o submetem.
   
As declarações do sr. Selassié, que, na normalidade de situações políticas, nem sequer devia ser ouvido, só não são injuriosas porque imbecis. Já a senhora Merkel, num despudor acarinhado pelo reverente Passos Coelho, afirmara o íntimo e estremecido desejo de ver os portugueses muito felizes. Os comentadores do óbvio, emocionados, calaram fundo este auspício.
   
O povo, a nação, o próprio conceito de pátria estão subalternizados pelo comportamento desprezível de uma casta de emblema republicano na lapela, que passa ao lado das indignações, dos protestos, da miséria e da fome dos outros. A frase famosa de Passos Coelho, "custe o que custar", para justificar os desmandos da sua política, configura uma ideia de confronto, absolutamente detestável. A violência do discurso do poder e a prática governamental reenviam, na ordem da democracia política, para algo que excede o funcionamento processual. Parece que Pedro Passos Coelho incita à cólera e estimula o conflito, acaso para "fundamentar" e "legitimar" ulteriores acções repressivas. A indiferença da sua conduta não se harmoniza nem combina com o ideário democrático, sobre o qual tripudia com desprezo e arrogância. Este homem não nos serve, não serve o País, nada tem a ver com algo que nos diga respeito, é incompetente e sobranceiro.
   
Quando estrangeiros como Angela Merkel e Abebe Selassié dizem o que dizem, com a aquiescência de um Governo mudo, há qualquer coisa de podre na sociedade.» [DN]
   
Autor:
 
Baptista-Bastos.   

 A crise pode ser boa oportunidade
   
«Apanha-se com este Orçamento no lombo, espera-se em janeiro pelo encolhido recibo de ordenado (quem ainda o tiver) e dá-nos inevitavelmente para o queixume. É por isso que manchetes como a de ontem do Jornal de Notícias são um bálsamo: "Manifestações safam negócio de autocarros." O texto explica: no sector rodoviário, as empresas de aluguer ocasional de autocarros são as únicas a sorrir com a crise. Esta leva a manifestações, que vão até Lisboa protestar e os autocarros alugados andam numa roda-viva... Sorte a delas, das empresas, mas a lição a tirar da coisa é mais vasta. Um leitor na caixa de comentários do jornal topou: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços." O Governo aperta, as manifestações desatam-se e, upa!, os donos da camionagem faturam. É uma forma de sair da crise, certamente melhor do que o marasmo. E há um lado, digamos, dialético desta história que me encanta. As manifestações são feitas para mostrar o lado perverso das políticas mas, ao mesmo tempo, alugando autocarros, tiram do sufoco um sector económico. Vítor Gaspar, graças ao empenho de Arménio Carlos, pode ficar na História como o político que mais fez pelas empresas de aluguer dos autocarros. Não se veja nisto nenhuma cumplicidade, que não há, mas tão só ironias da vida. Quanto ao mais, aquela manchete tem razão em ser esperançosa. Há improváveis nichos de mercado que a crise destapou: vender máquinas para fazer furos nos cintos é outro.» [DN]
   
Autor:
 
Ferreira Fernandes.
      
 A Grécia é o nosso anjo da guarda
   
«Educam-nos a olhar para a Grécia como um doente leproso mas Atenas tem sido o anjo da guarda do resgate português. Se não fossem os negociadores deste país e sobretudo a ameaça que o seu colapso representa para a zona euro, Portugal teria hoje um perfil de dívida pública ainda mais insustentável.
   
Sem que o Governo português tenha levantado um só dedo, a Grécia acaba de entregar de novo a Portugal um naipe de vantagens apreciáveis ao seu resgate, que vê reduzido o fardo com a sua dívida esta década. É o chamado bom contágio. Para dar uma aparência de sustentabilidade à Grécia, o Eurogrupo teve de facilitar as condições de crédito para todos. Isto não é, nem pouco mais ou menos, um ‘game-changer', mas no actual quadro é uma ajuda que cai do céu.
   
O serviço anual da dívida será menor. O País vê cancelados os custos operacionais que paga de juros ao fundo de resgate, numa poupança de centenas de milhões de euros. Vai ficar mais dez anos sem ter de pagar juros. Além disso, fica isento do mini-perdão de dívida à Grécia, continuando a cobrar uma margem de 1,5% pelo seu crédito de 1,1 mil milhões a Atenas. Por outro lado, o país pode usar o exemplo grego para reclamar os lucros com a compra da sua própria dívida pelo BCE nos mercados (calculada entre 15 e 20 mil milhões).
  
É certo que nada disto resolve o problema de fundo de Portugal e muito menos da Grécia. Só um perdão oficial da dívida poderia servir de oxigénio perante as derrapagens galopantes dos últimos anos. Aqui, a zona euro parece refém do calendário eleitoral alemão (legislativas daqui a um ano) e, até lá, ninguém levanta ondas. Mas também aqui será a Grécia a abrir portas: o ministro alemão já admite rever a sua posição no futuro.
   
Foi assim desde o início do resgate: o governo garante as tranches, passando a limpo as aulas da ‘troika', e a Grécia encarrega-se de melhorar os créditos. É o chamado free-riding. Por alguma razão, o ranking do Financial Times coloca Vítor Gaspar no terceiro lugar no Eurogrupo na categoria de habilidade política.
   
O ministro tem, aliás, sido coerente. Não se interessa por benesses, distancia-se delas porque são uma variável exógena do seu modelo. Em 2011, quando obteve o primeiro corte de juros - a reboque da Grécia - falou disso como se fosse irrelevante. Quando, depois da Grécia, Espanha obteve mais um ano para derrapar o défice, remeteu para os credores qualquer decisão de "favorecimento" do programa português. Vê o governo como entidade meramente executiva, sem direito de voto, muito menos de veto.
   
Pior que não se bater pelo interesse nacional, ou não agradecer a boleia da Grécia, é aproveitá-la para fins políticos. Fazer de conta que é tudo mérito do Governo. Foi o que fez, há dias, Passos Coelho, apresentando uma poupança de 800 milhões em juros como produto da habilidade negocial do governo. Se fosse verdade, era de facto extraordinário: o Governo tinha acabado de tomar posse e, no espaço de dias, arrancava em Bruxelas uma descida de juros de Portugal, Grécia e Irlanda, duplicava as maturidades e ainda conseguia flexibilizar o resgate. Não há decoro.
   
Se Portugal ganha tanto sem pedir nada não é por simpatia dos nossos credores, é porque estes sabem que o País precisa disso para deixar de ser a Grécia. O pior é que não está a dar grande resultado.» [DN]
   
Autor:
 
Luis Rego.
     
 Presidir
   
«O Presidente da República não conseguirá evitar presidir. Este orçamento tem de ser analisado como merece. O desastre é certo.
   
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acaba de prever que a economia portuguesa se contraia 1,8% em 2013. Trata-se de quase o dobro do que esperam o Governo e a ‘troika' (1%). A OCDE, tal como outras organizações internacionais (leia-se, o FMI), tem sistematicamente falhado as previsões desde que a actual crise começou (note-se, já falhava passou a falhar muito mais). Ou seja, a queda não vai apenas ser de 1,8% e o orçamento será impraticável.
  
Mais grave, aliás: a OCDE, o FMI, o BCE e a Comissão Europeia têm errado no diagnóstico e na receita. Claro, isso não interessa: Portugal tem de obedecer e calar, aprender a empobrecer.
  
Portugal é "país soberano" mas tem de se submeter, Portugal tem de "crescer" mas para isso tem de contrair. E com isto metem Portugal no clube de países "feios, porcos e maus" quando antes a Europa dizia que Portugal era um caso de sucesso e de democratização saudável e quando ainda há uns meros cinco anos (antes da crise internacional) a própria OCDE elogiava Portugal por corrigir as contas públicas e por tornar o Estado mais eficiente.
   
Cá dentro o Governo faz um Orçamento de Estado que agrava a recessão e agrava a desigualdade. Ganhou eleições zurzindo contra uma crise induzida pelo governo anterior e contra o agravamento de impostos.
   
E depois piorou a crise e o desemprego, bateu recordes de impostos e delapidou os serviços públicos, tenta vender activos ao desbarato (TAP, Águas de Portugal, RTP, etc.) e sucede em que colocar os seus ‘brokers' de influência nas grandes empresas de grande lastro nacional (Catroga na EDP, Nogueira Leite na CGD, Borges na Galp). Esta coligação fez exactamente o oposto do que prometeu: pessoalizou cargos, confundiu interesses políticos com nacionais, substituiu os interesses do país pelos da Europa central.
   
E no meio de tudo isto lembramo-nos dos homens da luta: "E o Presidente, pá?!"
   
O Presidende da República não conseguirá evitar presidir. Este Orçamento tem de ser analisado como merece. O desastre é certo se ele passar.» [DE]
   
Autor:
 
Sando Mendonça.
   
 V´tor Gaspar, o radical
   
«O Ministro das Finanças, Vitor Gaspar, é um homem inteligente e qualificado, mas também obcecado e, por isso mesmo, perigoso. Tem uma agenda de desvalorização interna e privatização do Estado Social. É um técnico, politicamente muito hábil, que procurou no encerramento do debate orçamental transferir para os seus adversários políticos as características que melhor o definem a si próprio: radical e aventureiro.

Só alguém assim pode pretender impor ao país, pela segunda vez consecutiva e numa dose reforçada, uma receita que já falhou. Só um radical se dispõe a retirar 5,3 mil milhões de euros à economia portuguesa em 2013, em cima dos mais de 10 mil milhões que retirará durante o ano de 2012. Só um aventureiro se predispõe a fazer experiências numa economia complexa com base em cenários delirantes que nenhum economista subscreve. É exemplo disso a tentativa frustrada de, através de alterações na TSU, transferir rendimento diretamente de trabalhadores para patrões. Só um conservador radical aproveita a crise presente para transformar o Estado Social português numa versão minimalista e assistencialista.

No entanto, não demonstrou qualquer vergonha quando acusou de radicalismo e aventureirismo aqueles que, no PS, defendem o financiamento da dívida pública pelo BCE. Não há nada de mais bom senso que defender que o BCE tenha os mesmos instrumentos dos Bancos Centrais dos Estados Unidos da América, Inglaterra ou Japão. Basta para isso ler o seu “amigo” e conselheiro económico de Durão Barroso, Paul De Grauwe, na defesa de que não pode existir uma moeda única sem este mecanismo. Se há lição a tirar desta crise europeia é a de que o euro não pode sobreviver sem um Estado europeu digno desse nome. Pelo contrário, de Vitor Gaspar nunca ouvimos uma ideia, uma proposta que vise solucionar o carácter europeu desta crise.

Radical é um Ministro das Finanças que tenta excluir, pela via da retórica, todos os que querem participar no debate político com propostas praticadas no mundo real. São homens assim que perigam a nossa democracia.» [i]
   
Autor:
 
Pedro Nuno Santos.
   
     
 De certeza que não querem ser como os gregos?
   
«A renegociação das condições de pagamento da dívida grega podem fazer que os encargos anuais com o resgate português aliviem aproximadamente mil milhões de euros anuais, ao longo de uma década. O próprio Vítor Gaspar confirmou que Portugal também irá beneficiar de juros mais baixos e prazos mais longos no empréstimo da troika, à semelhança da Grécia. A garantia do ministro das Finanças foi dada, ontem, durante a votação final no Parlamento do Orçamento do Estado para 2013.
   
O ministro das Finanças regressou a Lisboa, vindo de Bruxelas, no primeiro avião do dia de ontem. Após uma maratona negocial de mais de 13 horas na reunião do Eurogrupo, Vítor Gaspar saiu satisfeito com a revisão das condições aplicadas à Grécia e que serão aplicadas de forma "idêntica" a Portugal. Ainda em Bruxelas, acompanhou as declarações públicas do presidente do Eurogrupo e telefonou ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, para o pôr a par das últimas decisões tomadas em Bruxelas.» [Dinheiro Vivo]
   
Parecer:
 
De repente calaram-se, deixaram de fazer comparações com a Grécia. A verdade é que é graças aos gregos que as condições do empréstimos têm vindo a melhorar.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Gaspar se vai dizer que o melhor povo do mundo é o grego.»
      
 Mas que coligação!
   
«A declaração de voto de João Almeida sobre o Orçamento do Estado (OE) é um arraso às contas do Estado aprovadas hoje no Parlamento. No texto, a que o Expresso teve acesso, o porta-voz do CDS escreve que o documento "não é um bom Orçamento" e explica que o seu voto favorável "não se justifica pelo conteúdo do Orçamento, mas antes pelas implicações que teria a sua não aprovação".
   
"Na sua versão final, este Orçamento mesmo que funcione como exercício académico, terá graves problemas de aplicação prática, em resultado das enormes dificuldades que vai criar às pessoas", escreve o dirigente centrista, que, no entanto, não chumbou o documento. E explica porquê: "Se há coisa que o passado recente nos mostra claramente, é que a uma má solução, ainda que rejeitada, sucede uma pior. (...) Tenho a profunda convicção que a rejeição do Orçamento apenas agravaria a situação dos portugueses, principalmente dos que atravessam maiores dificuldades. Mais cedo ou mais tarde, com estes ou outros protagonistas, viria uma nova proposta com medidas idênticas em dose reforçada."» [Expresso]
   
Parecer:
 
Se este rapazola tivesse coragem em vez de uma declaração de voto teria votado contra ou, pelo menos, fazia-se substituir..
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se tanta cobardia.»
   

   
   
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