quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Só a Santinha da Ladeira nos pode valer

Quando já se vaticinava um futuro político prometedor para Vítor Gaspar, o director do “i” até ‘excrevia’ (com x porque a escrita do senhor era um verdadeiro excremento) artigos exaltados exigindo o ressurgimento do Estado Novo e do Salazar na figura do actual ministro da Finanças, assistimos à decadência acelerada do grande defensor do empobrecimento dos pobres e de uma política pode ser designada por pinochetada económica.

A carta assinada por Vítor Gaspar e Miguel Relvas, que era dirigida aos autarcas mas por questões de poupança em vez de serem usados os serviços dos CTT optou-se pela agência Lusa, revela o fim da política económica assente nos manuais de Chicago, agora a política económica é desenhada pelos goebelzinhos do Relvas, é propaganda.

Aliás, desde que o Vítor Gaspar previu para 2012 uma contracção económica na ordem dos 2012 que se percebe que as orientações do ministério das Finanças já não assentam em conclusões testadas em modelos econométricos, agora o rigor das previsões económicas assenta na intervenção da Santinha da Ladeira.

Se os americanos se arriscam a ser liderados por um mórmon por cá o governo parece estar cada vez mais inspirado na Santinha da Ladeira, desde a ladainha colectiva a pedir que o crescimento regresse em 2013, algo que a suceder seria um milagre tão grande que teria sido o quarto segredo de Fátima, até às preces da ministra que entregou a agricultura aos cuidados do criador, temos um governo que está a deixar de ser mais troikista do que a troika para ser mais crente do que o cardeal.

O governo é cada vez menos marcado pelo rigor e suposta competência do Gaspar para viver da propaganda e da crendice, o próprio ministro das Finanças parece ter esquecido o que aprendeu nas aulas de religião e moral da Universidade Católica, uma cadeira que até contou para a usa média de curso (algo que não sucede no secundário), e aposta agora em palpites e crendices, uma mistura entre os métodos propagandísticos do Relvas e dos seus goebelzinhos com a crença na Santinha da Ladeira.

Os que criticavam o governo anterior de excesso de optimismo apostam agora nesse mesmo optimismo numa tentativa de desastrada de evitar o naufrágio da economia portuguesa. O governo faz lembrar a orquestra do Titanic que não parou de tocar enquanto o navio se afundava. Este governo que durante meses quase proibiu a alegria como os talibans fizeram no Afeganistão, agora que perceberam que o país se afunda respiram alegria por todos os poros, numa tentativa desastrada de melhorar as expectativas dos consumidores e evitar o inevitável.

Primeiro promoveram o empobrecimento forçado, asfixiam o mercado interno e inventam desvios para justificar novas vagas de austeridade. Agora que percebem as consequências do que fizeram não querem admitir o fracasso, mantêm-se firmes e hirtos na defesa da sua política enquanto tentem vender expectativas positivas na esperança de que os consumidores e investidores consigam corrigir as consequências das suas políticas.

Só que este discurso em que se mistura crendice e propaganda não tem o mínimo de seriedade para convencer os agentes económicos, depois de tanta asneira só mesmo a Santinha da Ladeira nos pode valer, porque já se viu que a Santinha de Berlim nem “santinhos” nos dá.

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Jardim das Pichas Murchas, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Vende-se laranja das 11h às 13h - das 16hàs 17h [A. Cabral]
    
Jumento do dia


Vítor Gaspar

Que sucedeu de novo no plano da economia desde Novembro passado? Nada de significativo que justifique um erro de previsão 0,5% na previsão da actividade económica em 2012,a previsão de 2,8% com base na qual foi elaborado o OE para este ano ou foi feita em cima do joelho, ou foi aldrabada. Isto significa que o OE de 2012 está aldrabado, para além do habitual optimismo nas previsões das receitas fiscais e nas promessas de controlo da despesa.

As receitas fiscais foram previstas com base num cenário aldrabado e é de esperar uma quebra acentuada em relação ao previsto, tendência que já se observou nas receitas fiscais de Janeiro, ainda que a quebra tenha sido ampliada pelo facto em Janeiro do ano passado ter acontecido um fenómeno inverso.

Ouvir Vítor Gaspar ser optimista em relação ao défice de 2012 ou prometer crescimento económico para 2013, só pode dar vontade de rir. Antes de fazer mais previsões o ministro deveria explicar aos portugueses as consequências dos seus erros na elaboração do OE para este ano. Só depois de se conhecerem as medidas de austeridade destinadas a compensar este desvio colossal nas receitas fiscais é que estaremos em condições de falar do futuro.
 
É evidente que se assiste a uma reza colectiva com todos os responsáveis a fazerem previsões positivas como se estivessem a promover uma cadeira humana convencidos de que esta pode inverter os acontecimentos. Os mesmos que criticavam Sócrates de ser optimista vendem agora optimismo, mesmo sabendo que conduziram a nau para o meio da tempestade.
 
«"A viragem cíclica da economia será percebida com atraso. O desemprego continuará a subir e atingirá cerca de 14,5% em 2012", afirmou o ministro das Finanças na conferência de imprensa de apresentação das conclusões da terceira avaliação ao programa de assistência a Portugal.
 
Trata-se portanto de uma revisão em alta do valor de 13,4% inscrito no Orçamento de Estado para 2012. Trata-se também de uma previsão de agravamento dos valores actuais, dado que os últimos números do desemprego calculados pelo INE apontaram para uma taxa de 14% no último trimestre de 2011.
 
O ministro reviu também a estimativa para o comportamento do PIB, esperando agora uma contracção de 3,3% - igualando a previsão de Bruxelas -, em vez dos 3% estimados inicialmente. "O Ministério das Finanças reviu em baixa as previsões para actividade económica em Portugal", disse o governante, argumentando que esta revisão acompanha a deterioração "significativa" das perspectivas para a actividade económica na Europa e no resto do mundo este ano.» [DE]

 Cresce! Cresce! Cresce!

Há tanta gente a garantir que a economia portuguesa vai crescer que começa a parecer mais uma procissão do que uma previsão. A verdade é que tanto optimismo pretende esconder um pessimismo que não pode ser assumido em público. O problema não é saber se a economia cresce em 2013, é perceber se morre ou não em 2012.

 Já que perguntar não ofende

Compreende-se que o ministro Álvaro não seja obrigado a conhecer os preços dos combustíveis, é o motorista que lhe abastece o depósito do carro e esse usa um cartão-frota do ministério. Mas não faria sentido que o ministro tivesse uma palavrita a dizer sobre os preços recorde que estão a ser atingidos pelos combustíveis? Ou será que este ministro da Economia só sabe falar de pasteis de nata?
     
 

 Geraldo, um case study

«Descoberta a tramóia, Geraldo Geraldes, o Sem Pavor, foi convocado pelo califa de Marraquexe e sumariamente assassinado, provavelmente maldizendo a sina de ter nascido entre gente invejosa e piegas que não valoriza a iniciativa individual.
  
Como tantos outros que subiram na vida a pulso, Geraldo ora invocava origens humildes para realçar o seu mérito pessoal, ora insinuava uma vaga ascendência nobre de que fora misteriosamente separado pela força na infância.
  
Certo é que cresceu nas serranias entre os lobos, habituado a pernoitar ao relento, a suportar frio e calor extremos, comendo o que calhava. Ainda criança, juntou-se a bandos de ladrões que aterrorizavam aldeias isoladas das terras do Guadiana. Começou depois a acompanhar fossados de cavaleiros-vilões vindos de Santarém que penetravam fundo em território mouro, às vezes indo até às portas de Sevilha. Na volta, traziam consigo cativos, cavalos e rebanhos, mas também armas e moedas de ouro.
  
Geraldo não nascera para ser mandado, por isso em breve criou a sua própria mesnada. Inventou uma inovadora tática de assalto a povoações fortificadas à medida do feroz destemor que o movia. No inverno, recolhidos os outros bandidos às suas tocas, era quando ele se metia aos caminhos transportando enormes escadotes por léguas a fio e, no mais escuro da noite, de preferência sob pavorosa tempestade, degolava as sentinelas desprevenidas, chacinava os defensores, apoderava-se dos castelos e espoliava os habitantes.
  
Um letrado de Coimbra traçou-lhe num pedaço de pergaminho uma análise SWOT. Fez-lhe ver que a oportunidade residia no vazio administrativo e militar num vasto território que o conflito entre almorávidas e almóadas deixara ao abandono. Entre os pontos fortes destacou o conhecimento íntimo do terreno, a familiaridade com os dialectos locais e a ousadia sem limites. Para lisonjeá-lo, calou as fraquezas. Propôs-se redigir-lhe uma declaração de missão, visão e valores, mas Geraldo prescindiu dessa parte porque já seria a pagar.
  
No espaço de breves semanas, atacava em locais separados por mais de duzentos quilómetros à frente do seu bando, numa espécie de movimento browniano que atordoava as prezas. Trujillo, Évora, Cáceres, Montánchez, Serpa, Juromenha, Santa Cruz, Monfrague, Moura, Monsaraz, Alconchel e Lobón tombaram às suas mãos entre 1165 e 1168. Aos que lhe censuravam a ferocidade respondia que os players que não se adaptassem aos novos tempos seriam liquidados. E que julgavam esses pedantes poder ensinar-lhe, a ele que criava valor e emprego?
  
Reconheceu que enfrentar mil perigos para tomar cidades e logo depois abandoná-las era ineficiente e prejudicava o "bottom-line". Concebeu por isso um novo modelo de negócio, consistente em vendê-las a quem mais oferecesse depois de conquistadas. Entre os seus melhores clientes contavam-se Rodríguez de Castro, fidalgo castelhano a quem cedeu Trujillo, e Afonso Henriques, que se apressou a comprar-lhe Évora – embora fossem frequentes as reclamações por atrasos nos "deliverables".
  
Pensou depois reforçar a integração da cadeia de valor. Transformou Juromenha, um pobre refúgio fortificado, na base logística de um "cluster" de banditismo. Propôs em 1169 a Afonso Henriques uma joint-venture contra Badajoz para alavancar sinergias, mas a operação redundou num fracasso. O rei (Idfunsh ibn Al-Anrik, para os muçulmanos) fracturou uma perna, foi capturado, teve que devolver várias praças-fortes a troco da libertação, ficou inválido e culpou Geraldo do sucedido.
  
Persuadido de que errara ao descurar o "core business" e vendo o crescimento do bando minar a organização "flat" de que tanto se orgulhara, Geraldo optou pela internacionalização. No verão de 1176 passou-se com 350 homens de armas para Marrocos. Deram-lhe terras e riquezas, incluindo o comando militar de Tarudant, mas o seu espírito irrequieto não sossegou. Sempre orientado para os resultados, escreveu a Afonso Henriques apresentando-lhe uma nova proposta de valor e exortando-o a sair da sua zona de conforto para armar galeras e partir à conquista de Marrocos.
  
Descoberta a tramóia, Geraldo Geraldes, o Sem Pavor, foi convocado pelo califa de Marraquexe e sumariamente assassinado, provavelmente maldizendo a sina de ter nascido entre gente invejosa e piegas que não valoriza a iniciativa individual.» [Jornal de Negócios]

Autor:

João Pinto e Castro.
  
 Diogo Feio: a cultura do pântano

«Na mesma entrevista em que defende que "Portugal tem de ser mais alemão que os alemães" Diogo Feio, eurodeputado do CDS, deixa a claro aquilo que espera de Portugal na crise europeia: "Portugal tem de ter austeridade neste preciso momento para reforçar a credibilidade e o rigor." É a tese do bom aluno de um mau professor: não interessa se o que estamos a fazer está certo, interessa ser obediente e esperar que os outros percebam que a receita que nos estão a prescrever está errada. Já escrevi sobre isto ontem.
  
Mas Diogo Feio vai mais longe e a lógica que aplica ao Estado português quer ver repetida nos comportamentos de cada cidadão: "Nós somos observados ao mais pequeno pormenor e cada greve que é feita mancha a imagem de Portugal." O jornal "Público" pergunta: "Como é que se pedem cada vez mais sacrifícios e se pede ao mesmo tempo que os sindicatos e a oposição não façam barulho?" E o dirigente do CDS responde: "Eu não acho que o património da responsabilidade seja apenas do governo e não tenha de ser também dos sindicatos e da oposição". As jornalistas voltam à carga: "Mas essa é uma responsabilidade em sentido único..." Resposta: "É uma responsabilidade mobilizadora, ou seja, para vencer o enormíssimo desafio que tem pela frente." Explica melhor: "Portugal é bem visto por ter uma maioria de governo sólida, porque tem uma situação social pacificada."
  
O que este apoiante do governo propõe é isto: o governo aceita a austeridade para agradar a quem tem o poder na Europa, os cidadãos aceitam a austeridade, mesmo que discordem dela, para ajudar o governo. Os sindicatos devem saber que prejudicam o País se cumprirem a sua obrigação: a de defenderem os direitos dos trabalhadores. A oposição deve saber que prejudica o País se cumprir a sua obrigação: opor-se a soluções em que não acredita. Diogo Feio não quer apenas que o Estado português se faça de morto. Quer a sociedade portuguesa anestesiada e em silêncio.
  
Qualquer dirigente político tem obrigação de saber que as sociedades são dinâmicas e contraditórias. Que a qualquer ação corresponde uma reação. Da mesma forma que os banqueiros pressionam o governo, com os instrumentos que têm, para defenderem os seus interesses, assim o devem fazer os trabalhadores. Da mesma forma que Diogo Feio não critica os empresários por tomarem as decisões que lhes parecem melhores para cumprir o seu principal objetivo (o seu lucro), não faz sentido criticar os trabalhadores por fazerem exatamente o mesmo: defenderem os seus salários e o seu emprego. Pode achar que não o estão a fazer e explicar porquê. Não lhes pode é pedir que fiquem quietos por uma questão de "imagem". Um governo pode alimentar uma farsa por algum tempo. Mas nenhuma sociedade é composta por atores que o sigam acriticamente numa mentira. Quando um governo toma decisões, os cidadãos que se sentem prejudicados por elas reagem e dessa reação nasce o conflito. É bom sinal que assim seja. Quem, em Portugal ou no estrangeiro, veja isto como sinal de "laxismo" (expressão de Diogo Feio) não acredita na democracia.
  
Diogo Feio gostaria que a sociedade portuguesa ficasse suspensa, apoiando acriticamente as decisões do governo, ou pelo menos abstendo-se de as criticar ativamente. É o sonho de qualquer governante pouco exigente: governar sem oposição. É sintomático do deprimente torpor deste governo que a verbalização deste desconforto com o pluralismo político e social venha do mais respeitável (na minha humilde opinião) dirigente do CDS. A tese da suspensão democrática, que tantas criticas mereceu a Manuela Ferreira Leite, institui-se como discurso oficial da maioria. Claro que Diogo Feio explica que não quer suspender os direitos constitucionais. Apenas pede que os portugueses não façam uso deles. Porque a nossa credibilidade depende da nossa anemia democrática.
 
O contraditório, o conflito e o pluralismo não são apenas bons indicadores do vigor democrático de uma sociedade. São indicadores da capacidade de intervenção, autonomia e crítica dos cidadãos. E isso diz muito da sua capacidade de lidar com as crises e de sair delas. Uma sociedade acrítica, apática e assustada não tem futuro enquanto comunidade. Nem futuro político, nem futuro económico. A cultura da obediência é a cultura do imobilismo. É a marca de um País em decadência. E essa decadência sentir-se-á em todos os domínios. Não se pode pedir a um país que seja medroso na política e temerário nos negócios, acrítico na cidadania e exigente no trabalho. O conformismo, quando se instala, espalha-se, como uma doença, por todo o corpo de uma sociedade.
 
A economia não é um mundo à parte. A vitalidade económica de um país está ligada à sua vitalidade social, cultural e política. E o principal problema deste governo é o de querer impor a todos os portugueses a sua cultura de desistência. Um governo apático perante a crise europeia quer uma sociedade apática perante medidas que considere injustas ou erradas. O resultado seria trágico: cidadãos apáticos, trabalhadores apáticos, estudantes apáticos, intelectuais apáticos, cientistas apáticos, empresários apáticos. O mesmo pântano de mediocridade que nos atrasou durante décadas.» [Expresso]

Autor:

Daniel Oliveira.
  
 Hoje não se fia, amanhã sim

«O voto contra do PCP à adopção por casais do mesmo sexo só surpreendeu quem desconhece os problemas que causou no interior do partido o seu anterior voto favorável ao casamento homossexual.
  
Conservador, se não reaccionário e marialva, em matéria de "bons costumes", como descobriu Júlio Fogaça, membro do Comité Central expulso do partido por homossexualidade ("razões morais", alegou o PCP, em singular consonância com os "vícios contra a natureza" por que, na mesma altura, o Tribunal de Execução de Penas de Lisboa lhe aplicou gravosas medidas de segurança), o PCP tentou atabalhoadamente justificar o voto contra com "a necessidade de prosseguir o debate e o esclarecimento sobre a questão". Algo do género do "Hoje não se fia, amanhã sim" da "prudência construtiva" e sabidola das antigas mercearias de bairro.
  
Curiosamente, uns parágrafos antes de garantir que o voto contra do PCP "não significa uma posição de rejeição", o líder parlamentar comunista tinha dito: "Rejeitámos esta alteração no passado (...). É uma posição que manteremos neste debate".

A indignação que vai na Net entre militantes e simpatizantes comunistas, com acusações ao partido de ter assumido uma "postura medieval" e de o seu voto constituir "uma das formas mais abjectas de discriminação social", parece provar que será difícil ao PCP fugir a "este debate" no seu interior com a facilidade obediente e unânime com que lhe fugiu na AR. » [Jornal de Notícias]

Autor:

Manuel António Pina.
     

 Porquê um email obrigatório nos CTT?

«Os contribuintes abrangidos pelo regime de IVA que quisessem ter um e-mail dos CTT para serem notificados pela Autoridade Tributária e Aduaneira já podiam fazê-lo, mas o Orçamento do Estado deste ano tornou essa possibilidade obrigatória. E quem não cumprir arrisca uma multa entre 150 e 3.750 euros.
 
A ideia é que os contribuintes - empresas ou singulares - que tenham de pagar IVA deixem de ser notificados através do seu e-mail pessoal e passem a ser contactados pelo Fisco através da caixa postal eletrónica dos CTT.» [Agência Financeira]

Parecer:

O ministro das Finanças ou o dr. Azevedo da DGCI deviam explicar porque razão absurda não se pode ter um email de outro servidor, incluindo os servidores das empresas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se aos cavalheiros.»
  
 O recadinho da troika

«Numa declaração conjunta sobre a terceira missão de avaliação da ajuda financeira a Portugal, a troika considera que a execução do programa "está no bom caminho", mas alerta para a necessidade de "recuperar o atraso de Portugal em matéria de reforma estrutural dos sectores dos serviços de rede e serviços protegidos".
  
Nesse sentido, a troika elogia "os primeiros êxitos das reformas", nomeadamente as medidas que já foram tomadas "para assegurar condições de equidade no sector das telecomunicações e passos para reduzir as altas margens de retorno no mercado da energia".» [CM]

Parecer:

Depois de tantos gulosos do PSD terem ido banquetear-se para a EDP vale a pena pressionar o governo para desmamar a eléctrica chinesa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso cínico.»
  
 Os agricultores podem ficar descansados

«Numa visita ao Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas (SISAB), a ministra Assunção Cristas, adiantou que o relatório da 'task force' que está a acompanhar a situação vai estar pronto durante esta semana e que o Governo está "a sinalizar", junto da União Europeia, medidas de flexibilização administrativa.» [DN]

Parecer:

A ministra criou uma task force.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à ministra se a task force se reune para rezar na Sé ou na Basílica da Estrela.»
  
 Passos Coelho já se esqueceu das medidas que tomou

«Passos Coelho espera que Portugal não tenha de adotar medidas de austeridade adicionais, referindo que "a dor social mais intensa será sentida este ano". No entanto, o primeiro-ministro admitiu que podem vir a ser implementadas mais medidas se estas forem indispensáveis. » [Dinheiro Vivo]

Parecer:

Dizer que a "dor social" só se sentirá em 2012 é esquecer que os que mais sofreram com a austeridade foram os funcionários públicos e esses não só não recuperarão o muito que lhes tiraram como continuarão a ver os seus vencimentos minguarem com a inflação.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»
  
 Sousa Tavares defende demissão do director-geral da RTP

«Depois de na sua crónica no Expresso, e a propósito do caso Rosa Mendes, ter recordado um episódio que o envolveu diretamente, Miguel Sousa Tavares diz que o diretor-geral de conteúdos da RTP seja demitido.
 
"Espero que o Luís Marinho seja demitido, como deve", disse ao "Diário de Notícias" o jornalista e escritor. » [Expresso]

Parecer:

Como, se o pobre diabo é um intérprete fiel das conclusões do Luís Duque?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Deixe-se o saneador no lugar, se ele sair será nomeado outro e os contribuintes ainda vão ter de lhe pagar a indemnização.»
  
 Relvas meteu a carta na caixa de correio errada?

«"Não recebi carta nenhuma", começa por esclarecer Macário Correia. Segundo o presidente da câmara de Faro, eleito nas listas do PSD, nem ele nem "nenhum dos autarcas" com quem entretanto falou conhece o conteúdo da carta hoje divulgada na comunicação social, porque ninguém a terá ainda recebido.
  
"Aparentemente trata-se de uma questão fantasma. Ouvi as notícias e cheguei à câmara com curiosidade para a ler, mas não chegou cá nada, o que me parece estranho", acrescenta Macário Correia. Antes de mais, porque "o habitual é que seja o destinatário o primeiro a conhecer o conteúdo do que lhe é dirigido", depois porque, "sendo uma coisa urgente, porque não foi o pedido enviado por mail?"» [Expresso]

Parecer:

Parece que m vez de mandar a carta aos autarcas optou por a enviar apenas aos jornalistas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «A central de propaganda no seu melhor.»
  
 Este PSD é mesmo um Carnaval

«O Governo Regional da Madeira gastou 502 mil euros na festa de Carnaval, quase o dobro do valor anunciado. Só os oito grupos e escolas de samba que desfilaram no sábado custaram ao executivo madeirense um total de 234 mil euros, de acordo com as resoluções ontem publicados no Jornal Oficial da região. A este montante há que juntar 210 mil euros (sem IVA), do ajuste directo à Luzosfera para as iluminações decorativas, e 24 mil euros do apoio logístico ao sistema de som fornecido pela Art of Sound.
  
A secretária Regional do Turismo e Transportes, Conceição Estudante, na conferência de imprensa em que divulgou o programa das festas, tinha afirmado que o governo regional iria investir este ano 283 mil euros. Tratava-se, frisou, de uma redução de 15% em relação a 2011, justificada com as medidas de austeridade e do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro assinado pelo governo regional, para obter um financiamento de 1500 milhões de euros, necessários par fazer face aos encargos decorrentes de uma dívida superior a 6500 milhões.» [Público]

Parecer:

O Alberto goza com o Passos Coelho e com o país, a verdade é que recebeu dinheiro e só terá de pagar algum daqui a quatro anos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se em cima dos dois.»


   




terça-feira, fevereiro 28, 2012

Estalorice comunicacional

Depois de ter levado o papel de bom aluno ao extremo, chegando a fazer o triplo dos TPC que eram pedidos pela troika, o governo decidiu aproveitar a deixa do spin que sugeriu a Passos Coelho que dissesse aos funcionários estrangeiros que era pelos portugueses que o governo estava a esfolar esses mesmos portugueses. Agora a troika parte discretamente enquanto cabe ao desastrado ministro das Finanças a tarefa de exibir a avaliação que lhe foi feita. Se a moda pega na educação passarão a ser os alunos a divulgar e justificar as notas, pelo menos enquanto forem positivas.

É evidente que o governo acha que com esta estratégia melhora a imagem do ministro das Finanças, numa altura em que até o Álvaro, mesmo com aquele ar tresloucado de quem fixa um olho na Ursa Menor e o outro na Ursa Maior, começa a ter uma imagem mais simpática do que o Gaspar.

Só é pena que o governo não se tenha preocupado muito com a imagem do país quando permitiu que três funcionários de segunda linha se passeassem pelo país como centuriões romanos, chegando ao ponto de serem recebidos pela presidente do Parlamento, a segundo figura do Estado. Ver aqueles três palermas sentados no sofá do parlamento com ar de putos deslumbrados olhando para as obras de arte é mais do que um cidadão paciente pode suportar.

É evidente que nunca deveria ter sido dado protagonismo aos três funcionários estrangeiros, as conclusões poderiam ser divulgadas sob a forma de comunicado, como sucedeu, por exemplo, quando o BCE avaliou toda a banca europeia. Da mesma forma o ministro poderia poupar os portugueses ao seu show e emitir um comunicado com as conclusões. As suas conferências de imprensa são um bom exemplo de como o país gasta recursos com inutilidades.

Mas o governo fez bem em assumir totalmente a responsabilidade pela execução do memorando assinado com a troika, até porque uma boa parte das medidas que tem adoptado excedem em muito esse memorando e foram da sua iniciativa, a vontade de ir bem mais longe do que o exigido pelos credores foi tanta que o Gaspar até inventou desvios.

Resta saber se daqui a dois ou três meses, não será necessário mas tempo, o Gaspar também vai assumir a responsabilidade pela contracção económica brutal, pela queda abrupta das receitas fiscais, pelo aumento do desemprego e pelo consequente desvio colossal em relação à meta do défice orçamental. Depois de meses a atribuir todos os males ao memorando o governo tenta combater a desgraça nas sondagens chamando a si os louros do cumprimento do acordo.

Parece que Gaspar tem mais olhos do que barriga, ao assumir os louros assume também o que vem a seguir, e o que vem a seguir é um segundo resgate e a eventual renegociação da dívida, uma consequência de uma política económica irresponsável.

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Imagens dos visitantes d'O Jumento


Igreja de São Francisco, São Salvador da Baía, Brasil [A. Cabral]
    
Jumento do dia


Passos Coelho

Américo Tomás ficou conhecido por algumas frases célebres como aquela vez em que disse algures que "da última vez que cá vim é a primeira vez que cá venho". Só que se as frases de Tomás sugeriam um sorriso de humor, as de Passos Coelho leva-nos a pensar que o homem não sabe o que diz.

 
O empenho de Passos Coelho e aproveitar-se politicamente do aumento das exportação já seria motivo de crítica, o primeiro-ministro nada fez para este resultado e muito empenho do seu antecessor. Que se saiba nesta capítulo o governo tem sido um zero à esquerda. Mas dizer que "as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior", francamente, para onde quereria Passos Coelho que as exportações se virassem?
 
«Durante a visita ao certame da SISAB - Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas-, acompanhado pelo ministro da Economia, Passos Coelho sublinhou que as exportações portuguesas estão a demonstrar uma forte energia. “Tivemos no ano passado, um crescimento das exportações muito mais acentuado do que estava programado e isso em condições de maiores adversidades externas e do que estava inicialmente projectado”, sublinhou Passos Coelho, acrescentando que “significa, portanto, que em condições de maior adversidade, as exportações conseguiram voltar-se muito mais rapidamente para o exterior e mostrar uma grande plasticidade e mobilidade”.» [Jornal de Negócios]

 Zeca Afonso - Os Vampiros (original)


 Já que perguntar não ofende

Já que perguntar não ofende faria sentido perguntar ao governo se a mesma independência do Banco de Portugal que justifica que os seus continuem a ter o estatuto de banqueiros suíços residentes em Portugal com o estatuto de extraterritorialidade fiscal, não se deveria aplicar igualmente à promiscuidade existente entre o Estado e o banco em matéria de nomeações.
 
Fará sentido que o membro do governo que alterou o estatutos do Banco de Portugal seja quadro deste banco e quando regressar deva explicações ao seu governador? Faz sentido que muitos directores-gerais, sub directores-gerais e administradores de bancos sejam quadros do Banco de Portugal?
    
É evidente que o governo nunca responderá a esta pergunta. Mas veremos qual a resposta do Banco Central Europeu a uma queixa que está a ser preparada e que será formalizada em breve.

 Que inveja do empregado de mesa!

    
 

 Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão

«Miguel Relvas, na TVI24, mostrou a sua revolta contra alguns municípios que devem milhões e mesmo assim tiveram o desplante de dar tolerância de ponto no Carnaval.
  
Pode-se acusar o ministro de muita coisa, mas não se pode dizer que estivesse a ser incoerente com o que é a linha de actuação do Governo. Vem, aliás, na sequência da decisão de acabar com feriados, com a proposta abandonada de aumentar meia hora a jornada laboral, da redução de férias e outras medidas que visam aumentar a permanência dos trabalhadores no posto de trabalho.
  
O pensamento político - se é que lhe podemos chamar político ou sequer pensamento - subjacente a esta estratégia é evidente: uma das principais razões para a crise que vivemos é o facto de nós, portugueses, trabalharmos pouco.
 
Como qualquer pessoa que utiliza a fé para tomar decisões, é perfeitamente indiferente falar de factos. Não valerá a pena informar o Governo de que os portugueses são dos povos europeus que mais horas trabalham ou, pelo menos, os que são obrigados a passar mais horas nos seus locais de trabalho. Também será inútil lembrar que os portugueses que trabalham em empresas estrangeiras, em Portugal ou no estrangeiro, são considerados excelentes trabalhadores e distinguem-se pela sua qualidade.
  
Não, Relvas e o Governo estão convencidos de que os trabalhadores portugueses são um bando de preguiçosos que é forçoso pôr a trabalhar. Mais, devem ser agora castigados por terem passado tantos anos de papo para o ar. Gostaria muito de saber o que pensará um qualquer operário que leva uma hora e meia para chegar à empresa onde trabalha e mais hora e meia para regressar a casa, depois de ter trabalhado nove ou dez horas, para no fim do mês receber oitocentos euros, deste tipo de pensamento. Enfim...
 
Pois é, foi o facilitismo e a preguiça que nos trouxeram ao actual estado de coisas. Isso e os Governos anteriores, bem entendido. Quanto aos Governos anteriores terá o ministro Relvas alguma razão. Não há dúvidas de que os últimos vinte ou trinta anos contribuíram, e de que maneira, para o péssimo estado do País. Mas ver a segunda figura do Governo ignorar olimpicamente esse pequeno detalhe da crise europeia, o ataque às dívidas soberanas, o quase colapso do sistema financeiro internacional, a cegueira criminosa dos dirigentes europeus na condução dos destinos europeus, a semelhança da nossa situação com a de quase todos os países da Europa e explicar tudo com os anteriores Governos e os facilitismos e quejandos é, pura e simplesmente, arrepiante. Bom, não seria de esperar muito mais de Miguel Relvas, cujo entendimento da política se resume na habilidade em angariar apoios de secções partidárias e em pôr notícias em jornais. Mas que diabo, pensar que é ele o coordenador da acção política do Governo é, no mínimo, assustador.
 
Talvez seja pedir demais, mas talvez também não fosse má ideia que Miguel Relvas esquecesse por momentos a propaganda e percebesse alguns dos problemas que as nossas empresas (é escusado pedir isso ao ministro Álvaro, pois já todos percebemos que ele sabe tanto de empresas e dos seus problemas como de lagares de azeite) enfrentam, e que estão longe, muito longe, de qualquer tipo de preguiça dos trabalhadores.
 
Em vez de estar a perder tempo com comissões interministeriais, que mais não são do que poeira para atirar aos olhos dos mais incautos, podia-se tentar informar dos problemas graves de formação, de capacidade de gestão e de organizar o trabalho de parte significativa dos nossos empresários. Das dificuldades que o Estado lhes impõe com as constantes mudanças de legislação, da kafkiana burocracia, da falta de crédito que lhes está a destruir as empresas, dos preços absolutamente exorbitantes que têm de pagar por electricidade, gás e petróleo que não lhes permite ser competitivos com os concorrentes estrangeiros, da carga fiscal asfixiante ou do inexistente sistema de justiça que faz que as dívidas sejam perdas.
 
Mas a verdade é que os sapateiros não são bons tocadores de rabecão.» [DN]

Autor:

Pedro Marques Lopes.
  
 Criar emprego

«Criar empregos e fazer crescer a economia são duas faces da mesma moeda. Assim, por mais comissões que o Governo nomeie nunca terá uma política séria de emprego enquanto considerar a recessão uma inevitabilidade.
  
No atual quadro em que a nossa economia caminha a duas velocidades - as exportações ainda a crescerem e a procura interna em queda livre - a sua internacionalização, pelo reforço do sector exportador e pelo investimento nacional e estrangeiro, deve ser o caminho para a criação de emprego qualificado e para a recuperação económica.
  
Porém, uma internacionalização de sucesso exige, no mínimo, empresas competitivas e adequadamente financiadas.
 
Ora, a competitividade pressupõe desde logo a redução dos custos associados à exportação pelo que seria aconselhável realizar uma análise exaustiva de tais custos com vista à sua redução. Os custos do trabalho não são os únicos nem sequer os mais importantes do elenco, para além das implicações sociais e na produtividade que a sua redução, sem critério, implica. Mais relevantes são, seguramente, os derivados de um sistema de licenciamentos administrativos anacrónico e inimigo do investimento, de uma logística cara e tantas vezes desadequada às necessidades das empresas, de um sistema de justiça que não oferece confiança aos investidores, de um regime fiscal complexo e, não raro, injusto, para já não falar de um financiamento inexistente ou, de tão caro, inaceitável.
 
Fomentar o empreendedorismo gerador de novos projetos e apoiar as PME com potencial de crescimento, o que exige uma grande seletividade das políticas públicas, são as opções imediatas para criar empregos e combater a recessão.
 
A AICEP e o IAPMEI, em ligação com as autoridades locais e com as associações empresariais, deveriam elaborar um plano de ação especialmente dirigido às PME com potencial exportador sedeadas nas diversas regiões e que apenas trabalham para o mercado interno, no sentido de as reorientar para a exportação.
 
Esse Plano devia, no mínimo, garantir informação e aconselhamento na realização dos negócios; treino e acompanhamento; lista de possíveis clientes em ligação com a rede externa e indicação das ajudas disponíveis.
 
Finalmente, uma referência à manutenção do emprego, tão importante como sua a criação.
 
É indispensável que, pelo menos, as grandes empresas nacionais e estrangeiras sejam individualmente acompanhadas e assim seja possível antecipar intenções de despedimento, por forma a estudar e propor soluções alternativas à liquidação dos postos de trabalho. E há várias soluções que já foram aplicadas com sucesso no passado recente.
 
Criar empregos e recuperar a economia eis o que deve ser a nossa ambição, para além da crise, para além da ‘troika'.» [Diário Económico]

Autor:

Basílio Horta.
  
 Não me obriguem a ir para a rua gritar

«A equipa da ‘troika’ termina esta semana a terceira visita a Portugal, numa altura em que o País assinala 25 anos da morte de José Afonso. E pus-me a pensar no que diria o Zeca a esses senhores da ‘troika’ se ainda por cá estivesse.
 
Será que se virava para os três da ‘troika', de peito aberto, e dizia ‘Venham mais cinco'? Ou diria que em Portugal ‘Não há lugar Pr'ós filhos da mãe' e que por cá ‘é o povo quem mais ordena'? Zeca, em tom de ameaça, também era homem para dizer ‘Não me obriguem a vir para a rua gritar'.
 
Ou será que com o passar dos anos, a rebeldia e a irreverência já teriam dado lugar a um maior conformismo e resignação? Neste caso, Zeca era capaz de dizer aos senhores da ‘troika': ‘Sejam bem-vindos quem vier por bem' ou até ‘Traz outro amigo também'.
 
A terceira avaliação da ‘troika' acontece numa altura em que estão a ser divulgados dados que mostram que a austeridade, que está a ser cumprida à risca pela maioria PSD/CDS, começa a ter efeitos bastantes nocivos para a economia, à semelhança aliás do que aconteceu na Grécia. E evidências não faltam. Veja-se os dados no PIB que no último trimestre derrapou 2,7%, devido a uma travagem brusca do consumo. E as projecções para este ano não auguram nada de bom, com Bruxelas a vaticinar uma aterragem de 3,3%. E pior do que isso, o abrandamento ou recessão nos nossos maiores parceiros comerciais (Espanha, Alemanha, França e Itália) ameaçam as nossas exportações, a única variável que tem dado um contributo positivo para o PIB.
 
Os primeiros dados conhecidos da execução orçamental também não deixam margem para optimismos. Aqui, mais uma vez, o Governo PSD/CDS conseguiu cumprir à risca o acordado com a ‘troika', baixando drasticamente o défice. Mas o motor das receitas fiscais começa a engripar, com o valor dos impostos cobrados (sobretudo o IRC e impostos sobre veículos) a cair a pique. O que vem provar a teoria de que a curva de Laffer, a partir de determinadas taxas de impostos começa a ser descendente.
  
E para quem ainda tem dúvidas sobre o impacto das medidas de austeridade que olhe para os dados do desemprego que saltou para 14% no final do ano, tendo o país, entre desempregados e desencorajados, mais de um milhão de activos sem trabalho. E aqui é que a coisa começa a complicar-se, pois as consequências sociais são dramáticas.
  
Portugal, pelos excessos que foram cometidos no passado, tem naturalmente de travar um combate feroz contra o défice e a dívida pública. E o Governo até tem conseguido várias vitórias na implementação da austeridade. Mas mais vitórias como estas, como diria um tal de Pirro, e estaremos todos perdidos.
 
E é a necessidade deste equilíbrio, entre austeridade e medidas que espevitem o crescimento e o emprego, que o Governo tem de transmitir aos senhores da ‘troika'. Caso contrário, mais vale embalarem a trouxa da austeridade e zarpar.» [Diário Económico]

Autor:

Pedro Carvalho.

 Cavaco afasta-se da solução alemã

«O Presidente da República é uma permanente dor de cabeça para a maioria política que o elegeu – a mesma maioria que nos governa. No desempenho das suas funções, neste segundo mandato, Cavaco Silva oscila entre a gaffe mais tosca, imprópria de quem desempenha funções políticas desde o primeiro governo de Sá Carneiro, já lá vão mais de três décadas, e uma acutilante censura às medidas de austeridade do governo. Quanto às gaffes, das quais a declaração sobre os seus rendimentos ou a esfarrapada desculpa para fugir de duas dezenas de estudantes da escola António Arroio, são cerejas em cima do bolo, só admissíveis ao debutante ministro Santos Pereira, há quem ajuíze que favorecem o governo, na medida em que desvalorizam as críticas e o azedo confronto com o primeiro-ministro e com a sua subserviência à visão de uma Europa alemã. Não me parece que o comum dos eleitores acompanhe estas interpretações “maquiavélicas” urdidas nos gabinetes ministeriais. Mais do que Passos Coelho, ou do que qualquer outro dirigente social-democrata, Cavaco Silva é, para o bem e para o mal, uma imagem de “marca” do PSD, ao serviço do qual ganhou várias eleições. Por isso, o primeiro-ministro não se livra facilmente do peso das críticas severas que Cavaco Silva dirige ao governo, apesar de algumas línguas viperinas, exactamente aquelas que, nos corredores do poder, vão depenicando as migalhas que sobejam do Orçamento, procurarem associar essas críticas à defesa de interesses pessoais, aproveitando as debilidades próprias de quem troca o vencimento do cargo pela reforma do Banco de Portugal.
 
Apesar de tudo isso, é cada vez mais claro que Cavaco Silva pensa que o rumo traçado pelo governo não nos levará a bom porto, mas apenas ao empobrecimento, à recessão e ao desemprego, como quem cai num poço sem fundo. Por estes dias, transmitiu-nos a sua “satisfação” pela carta assinada por 12 primeiros-ministros europeus, dirigida ao presidente do Concelho Europeu e ao presidente da Comissão Europeia, onde se reclamam medidas que permitam o crescimento económico da Europa e o alívio do desemprego. Este sentimento de Cavaco Silva é tanto mais significativo quanto se sabe que o primeiro-ministro português não é um dos subscritores da dita carta e, ao que consta, nem sequer foi contactado para o efeito. Mas, não se ficou por aqui, talvez receando que a sua mensagem não fosse suficientemente clara. No dia seguinte, afirmou, preto no branco: “Não se pode somar permanentemente austeridade a mais austeridade”, glosando uma máxima inscrita em quase todos os manuais de economia, repetindo o que a oposição não se cansa de dizer e cavando um fosso na “solidariedade institucional” entre a Presidência da República e o governo. Se Passos Coelho pensa que Cavaco Silva está descredibilizado ao ponto de já ninguém dar atenção ao que diz, corre um grande risco de se enganar, sobretudo porque a evolução da situação na União Europeia, nomeadamente na Grécia (a mesma receita que está a ser aplicada a Portugal), irá mostrar a curto prazo o insucesso da “solução alemã”.
 
PS – O ministro das Finanças alemão afirmou, na quarta-feira passada, que tem “sérias dúvidas” em relação às vantagens que as eleições na Grécia, marcadas para Abril, poderão trazer, denunciando o que pensa sobre o que será a democracia numa Europa alemã: um estorvo descartável de acordo com as conveniências dos interesses financeiros. Quase em simultâneo, o ministro do Interior alemão, em entrevista ao semanário alemão “Der Spiegel”, defende a saída da Grécia da zona Euro, e que “devem ser criados incentivos para que essa saída não possa ser recusada”, denunciando as verdadeiras intenções de Berlim em relação à Grécia. Depois, no final deste ano ou no começo do próximo, despedaçada a Grécia, será Portugal a ser questionado, com os mesmos fundamentos, a propósito do segundo resgate. A Alemanha só é europeia quando está em risco. Foi assim até à reunificação, porque um muro atravessava as ruas de Berlim.» [i]

Autor:

Tomás Vasques.
   

 Kafkiano! escreve o jornal "i"

«Kafkiano O historial dos vencimentos do novo conselho de administração do banco estatal mais parece um processo kafkiano. Longe vão os tempos em que António de Sousa recebia acima dos 700 mil euros por ano. Agora, os novos administradores convidados pelo governo liderado por Pedro Passos Coelho defrontaram-se com a primeira surpresa quando perceberam que os seus vencimentos eram inferiores em 40% ao que ganhavam os seus antecessores, informação que lhes chegou através da Internet. Os 11 administradores, entre executivos e não executivos, deste conselho de administração, ganham menos do que os sete que os precederam.
  
Depois, deixaram de receber subsídio de férias e de Natal. Agora, e com a publicação do novo estatuto do gestor público, os que cortaram os vínculos com as empresas onde trabalhavam para irem para a CGD passarão a receber 80% do vencimento do primeiro-ministro. Ou seja, em menos de um ano, viram os ordenados descerem em flecha.» [i]

Parecer:

O mais divertido está no facto de mais uma vez os rapazes do banco do senhor Costa serem tratados como diplomatas suíços residentes em Portugal, estão acima de qualquer lei ou política de austeridade da República.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Grande Rosalino

«Hélder Rosalino garante que a terceira avaliação da 'troika' "correu bem, de forma positiva".
 
O secretário de estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, garantiu hoje que a terceira avaliação da troika "correu bem, de forma positiva" e que "se cumpriram as metas quantitativas previstas no memorando".
 
O governante disse que "a expectativa é de que a quarta tranche seja libertada em Abril", que deverá ascender a 14 mil milhões de euros.» [DE]

Parecer:

Parece que o governo encarregou o funcionariozeco do Banco de Portugal a divulgar as conclusões da Troika... Ridículo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Gaspar se na próxima avaliação a divulgação caberá ao tenente da GNR que chefia a unidade do ministério das Finanças.»
  
 Autoeuropa preocupada com os obesos

«Durante uma conferência no Porto, o director-geral da Autoeuropa, António Melo Pires, explicou à plateia composta por profissionais da indústria metalúrgica os custos que poderão ter os acidentes de trabalho.
  
Além do ginásio na empresa, o responsável da companhia referiu que, a partir deste ano, o habitual “check-up” aos trabalhadores vai não só “incidir sobre os factores de saúde, mas também sobre os factores preventivos, como a alimentação”.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Coisas que preocupam os bons gestores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Álvaro se já pensou noutra coisa para além dos cortes salariais.»


   






 Carl"s Jr./Hardee