quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Tomar ou levar?


No sítio onde nasci e cresci diz-se levar e não tomar, por ali não há muita gente fina e mesmo essa tinha uma linguagem mais próxima da populaça do que aqui para estas bandas, viviam todos na vila, ricos e pobres, mais cultos e menos cultos, cultos e bestas quadradas, aqui o pessoal com mais guita ou a quem saiu uma pilha de guita devidamente arrumada em envelopes cuidadosamente acondicionados em sacos de plástico numa qualquer sala escura da zona franca da Madeira prefere as Lapas e outros bairros onde a miséria não se pega à pele.
   
Pois enquanto os da minha terra dizem levar a ou levar com a dita, nesta capital de gente fina, herdeira dos senhores de vários impérios não se leva, toma-se, toma-se com a dita ou toma-se a dita, quem leva são os pobres e menos cultos. Por exemplo, na minha terra diz-se levar a bilha, mas na Lapa, se fossem os senhores que a tivessem de carregar quando estão a meio do banho e o esquentador vai abaixo chamariam a criada e mandavam-na tomar uma bilha, isso se não aproveitassem a ausência da esposa e não olhassem para a bilha de outra perspectiva.
  
Para gente fina e culta como o ex-secretário de Estado daCultura não se leva, toma-se, porque levar no dito tem um efeito curativo e se dizemos tomar um antibiótico também devemos dizer tomar com o dito no dito cujo. Enfim, trata-se da generalização cultural do conceito de supositório e de um secretário de Estado anafado não se esperaria menos.
  
Mas de um governo que sem discutir se é levar ou tomar e pôs todo um povo de cócoras a ser inseminado das mais diversas formas, seja com cortes de rendimentos ou aumentos de impostos, não se esperaria ver um dos seus membros a sugerir a um outro que fosse tomar no dito cujo. Enfim, enquanto o ex da cultura não se esclarecer que se estava a referir a algum antibiótico para a tosse tomado com recurso a uma dessas maravilhas da medicina que são os torpedos anais, teremos de concluir que aquilo que sugerir ao colega era mesmo um margalho.
  
Ofendidos estarão os Margalho Comprido, gente descendente de alguém que era Margalho da parte do pai e Comprido da parte da mãe, um sortudo pois sabia quem era o pai e a mãe tinha apelido, sorte que muitos dos que nos andam a entreter com disparates não têm. Enfim, até há por aí gente fina de apelido Espírito Santo, nome dado por uma qualquer freira à criança abandonada na roda, mas dos outros até nos vamos esquecer do apelido e somos cada vez mais os que independentemente de se dizer levar ou tomar lhes desejamos a mesma sorte que os membros destes governo andam a desejar uns aos outros.