terça-feira, março 05, 2013

Revoluções


As revoluções são momentos de rotura, são formas de a sociedade libertar energias sociais que se acumulam, funcionam como os vulcões e tal como sucede com as erupções vulcânicas também as revoluções podem assumir características diferentes, podem ser antecedidas por sinais evidentes de que vão ocorrer ou podem ocorrer de forma inesperada, podem limitar-se a criar um tranquilo rio de lava como podem fazer explodir montanhas, tanto podem ter os seus efeitos circunscritos à região onde se localizam como podem afectar meio mundo.

Pensar que uma Europa onde se vive em paz há algumas décadas é um vulcão extinto só porque os mísseis da ex-URSS foram desmantelados é um erro perigoso. A democracia, por um lado, e o equilíbrio que durante décadas manteve a paz nas relações entre capitalismo e comunismo, permitiram manter a paz e diluir as erupções sociais. A democracia libertou energias e o medo do comunismo levou o poder financeiro a aceitar a repartição mais justa dos recursos, aceitando o financiamento do estado social.

Vivemos momentos de rotura, o grande poder financeiro sente-se liberto de compromissos sociais e com o argumento da integração, do euro e da globalização acha que está na hora de se libertar do peso das nações, criando-se um mundo internacional virtual, onde não existem nem regras, nem regimes fiscais ou laborais. Liberto do medo do comunismo, o capitalismo exige liberdade total, nada de impostos, nada de preocupações sociais, nada de legislações laborais, nada de despesas com estado nacionais.

Primeiro liberalizaram-se os negócios, agora desmantelam-se os estados e em nome da competitividade impõem-se as regras aos que insistem em proteger socialmente os seus povos, como disse o Salassie quem não tem dinheiro não tem estado social e em nome dos credores aceitou a ideia dos seus parceiros locais de destruir o estado social. A austeridade deixa os cofres do Estado vazios, os credores cobram juros absurdos sobre dívidas que não se pagam e corta-se o estado social para compensar os desvios colossais premeditados na receita fiscal que cai de forma abrupta apesar da espoliação fiscal da classe média e dos mais pobres. Se o capitalismo não chega para enriquecer os mais ricos recorre-se à austeridade para tranferir riqueza dos mais pobres para os mais poderosos que perderam competitividade em relação aos outros poderosos.

A democracia tornou-se numa fantochada, o governo exibe-se como legítimo porque tem o apoio de funcionários de organizações internacionais, gente com cara de parvos que de vez em quando aparecem por cá para fazerem falsas avaliações, onde se escreve o que se combina com o governo para os próximos passos no sentido da destruição do estado e da perda de direitos sociais. O presidente parece ter perdido a lucidez, o Tribunal Constitucional é desprezado e chantageado com a crise, a opinião do povo é desprezada em favor de uma falsa legitimidade.

Tudo o que na democracia serve para dirimir a conflitualidade social é eliminado, as manifestações do povo são ignoradas, os quarto poder dos jornalistas é comprado pelo Miguel Relvas a troco de jornas pagas pelo Estado a dezenas de jornalistas contratados para gabinetes governamentais onde se manipula a informação. Aos poucos vão sendo criadas as condições para que a caldeira dos conflitos sociais se transforme num vulcão sob pressão. Só resta saber se a lava vai escorrer tranquilamente sob a forma de eleições legislativas ou se vai explodir muito antes sob a forma de uma revolução. Com um governo autista, um presidente a podar roseiras na esperança de encontrar rosas no inverno, um governo irresponsável e uma troika idiota a palavra está em quem sempre está e como é o povo que mais ordena veremos o que ele decide.