segunda-feira, junho 03, 2013

O que seria de esperar de um Presidente da República?

Todos os Presidentes da República enfrentaram situações mais ou menos difíceis e todos superaram as crises que tiveram que enfrentar e mesmo as que os próprios provocaram ou estimularam. A grande excepção a esta tradição de competência na Presidência da República é precisamente Cavaco Silva, aquele que mais anos foi primeiro-ministro, aquele que mais usou a sua experiência e habilitações em campanha, aquele que mais criticou os presidentes enquanto foi primeiro-ministro. Cavaco perdeu a oportunidade de branquear a sua passagem como primeiro-ministro e deixar um legado positivo em Belém, em vez disso tem sido um desastre e a grande causa da instabilidade e da crise política profunda em que o país se encontra.
Perante uma situação de crise financeira internacional seria de esperar que um Presidente da República promovesse a coesão nacional, apoiasse o seu governo e contribuísse para o esclarecimento da opinião pública. Não foi isso que Cavaco fez, enganou os cidadãos que confiavam na sua palavra negando a existência de uma crise internacional, permitiu e incentivou a intriga e a conspiração contra um governo legítimo eleito pelos portugueses.
Quando os portugueses enfrentam um ataque especulativo nos mercados financeiros seria de esperar que um presidente doutorado em economia fosse lúcido, esclarecesse os portugueses e actuasse em defesa da economia portuguesa. Em vez disso teve um discurso de resignação, sugeriu que o país e os portugueses deveriam ser obedientes em relação aos mercados, passou a ideia de que os bons eram os especuladores e os maus era o governo português.
Quando seria de esperar que um Presidente da República defendesse a Constituição Cavaco optou por não o fazer num OE ou por o fazer de forma pouco clara e convincente, criando uma situação de facto que só não vingou porque os juízes do Tribunal Constitucional não se demitiram das suas obrigações. A mensagem que Cavaco passou ao governo foi a de que poderia governar sem limites constitucionais.
Numa crise financeira como a que o país atravessa o país precisaria de um Presidente da República lúcido, competente, corajoso e capaz de liderar uma nação. Cavaco tem revelado ausências e perdas de lucidez política, revelou-se um político pouco corajoso e ninguém o vê como líder. Quando o país precisaria mais de um Presidente teve o pior dos presidentes.

Quando muitos discutem a substituição do governo talvez faça mais sentido pedir a Cavaco Silva que resigne, deixando passar alguém que esteja à altura do cargo e que exija deste ou de qualquer outro governo competência, respeito pelos portugueses e pela Constituição da República, coisas que Cavaco Silva não quis ou não foi capaz de fazer. Um mau governo com um presidente destes corre o risco de ser ainda muito pior, um mau governo e um mau presidente é uma combinação perigosa para o país.