quinta-feira, julho 18, 2013

O multiplicador da canalhice

Para muitos dos nossos economistas o cidadão não passa de um autómato sem vontade ou motivação, são formiguinhas animadas que comem mais ou comem menos em função de variáveis controladas por Gaspares. Esta concepção da economia tende a desprezar os fenómenos sociais ou a vontade pessoal, parte do principio de que esta atomização de comportamentos elimina a vontade de cada um, transformando-a numa vontade colectiva expectável e manipulável. Os povos e os países perdem a sua identidade para passarem a ser compostos químicos directamente convertíveis em modelos manipuláveis por estes novos cientistas da treta.
 
Quando tudo falha não duvidam das suas concepções ou metodologias, descobrem que se enganaram numa variável, da mesma forma que o químico errou ao acrescentar uma quantidade excessiva de um determinado elemento ou composto. Em Portugal tudo foi bem feito, por quilo que se dizia há poucos meses éramos um modelo de sucesso, uma verdadeira Heidi Klum das passarela da economia, um exemplo de sucesso do ajustamento, ainda há pouco mais de uma semana Cavaco Silva estava confiante no sucesso do pior orçamento de que há memória na nossa história económica.
 
A culpa dizem agora, é do multiplicador e talvez tenham razão, só que se enganam no multiplicador que é culpado de tudo isto, deixem o Keynes dormir em paz porque os multiplicadores responsáveis pela desgraça lusa são outros, o país está a ser vítima da combinação dos efeitos dos multiplicadores da estupidez e da canalhice de uns filhos da mãe que não passam de proxenetas e na hora das dificuldades não só atiram os sacrifícios para cima dos outros como ainda exploram a hipótese de ganharem mais algum.
 
O país tem sido um imenso laboratório da sacanice, com muita gente a mentir, a dar o dito pelo não dito. Os que eram mais troikistas do que a troika dizem agora que a culpa foi do memorando assinado pelo Sócrates, os que tinham orgasmos a elogiar o Gaspar agora fogem dele como o diabo foge da cruz, os que defendiam uma ditadura gasparista como se o modesto e desastrado economista fosse um novo Salazar querem agora um governo de salvação nacional, os que defendiam o corte brutal, talvez para metade, do rendimento dos funcionários e pensionistas acham agora que em vez de cortar metade do vencimento devem ser despedidos metade dos funcionários.
 
Estes canalhas têm sujeitado o país e o povo a doses de cavalo de estupidez, de medo, de chantagem, depois querem que os portugueses consumam e que os investidores estrangeiros apostem num país em estado de guerra. O governo inspira-se em Hitler para lançar as suas políticas, chama requalificação ao despedimento, sugere a “deportação” voluntária a que chama emigração para os que estão a mais, todas as políticas que lança são apoiadas, no medo, na chantagem, na ameaça. No fim, o povo ainda é apelidado de piegas!
 

Em Portugal o que falhou não foi uma política económica ou o multiplicador da recessão, foi o multiplicador da canalhice.