terça-feira, julho 16, 2013

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Castro Marim
    
 Democracia à portuguesa

Uma boa parte dos políticos portugueses gostaria de governar com uma maioria absoluta e permanente, mais ou menos o que sucede no México. Por razões ideológicas o PCP e o BE sonham com aquilo que consideram ser uma forma superior de democracia, uma ditadura liderada por puros, a vanguarda da classe operária. O CDS sonha com o dia em que conseguirá destruir o PSD para liderar uma direita de que se considera único representante. No PSD ninguém esconde o desejo de voltar a meter o CDS num táxi e de crescer à custa dom PS ou mesmo destruir este partido, é por isso que o PSD diz que é de direita e ao mesmo tempo social-democrata, é uma espécie de Bloco de Direita/Esquerda. Cavaco não só tem os sonhos do PSD como a este acrescenta os seus próprios fantasmas, aqueles que aos poucos têm vindo a destruir a sua carreira, os políticos do PS com Soares e Sócrates à frente.

É por estas e por outras que a única coligação que funcionou e não foi vítima do canibalismo político foi a que juntou o PS e o CDS no tempo em que Paulo Portas era um betinho que pensava que chegava a rico sem precisar da corrupção da política.

 Dúvida
 
Alguém pediu a Cavaco para salvar o país?

O povo não foi pois ninguém se manifestou nesse sentido, os opinion makers também não pois a não ser alguns devotos mais idosos do cavaquismo quase ninguém defende tal linguagem, o governo também não pois até apresentou uma solução para a crise e o PS muito menos.

Não estará na hora de salvar um idoso chamado Cavaco SIlva das pesadas tarefas presidenciais?

      
 Salvação, disse ele
   
«O homem que tem como principal responsabilidade assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas decidiu inovar e optou por uma terceira via: a do irregular funcionamento das instituições.

Na comunicação da passada quarta feira, Cavaco optou por ignorar o elefante na sala - a atual crise política é uma consequência e não uma causa dos problemas do país - e reafirmou a sua falta de cultura democrática. 

Com o governo em acelerada decomposição, e ante uma remodelação mal-amanhada, em que Portas, depois da estrepitosa demissão de Gaspar, assumiria, de facto, o cargo de primeiro ministro, Cavaco tinha duas hipóteses: ou aceitava o único acordo com apoio maioritário que o atual parlamento é capaz de produzir ou dissolvia o parlamento e devolvia a palavra aos portugueses. Mas o homem que tem como principal responsabilidade assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas decidiu inovar e optou por uma terceira via: a do irregular funcionamento das instituições. 

Para Cavaco, o país não precisa de pôr termo ao processo de destruição em curso, nem precisa de ouvir os portugueses e saber o que estes querem para o seu futuro. Nada disso. O que Portugal precisa, diz-nos Cavaco, é de gente séria que cumpra (custe o que custar) o que o atual governo acordou com a troika, isto é, Portugal tem de manter e reforçar o desastre dos últimos dois anos e avançar, rápido e em força, para o corte de 4700 milhões de euros em salários e pensões - o tal corte que Gaspar entendeu não ter condições para concretizar, o tal corte que explica a atual crise política, o tal corte que, de acordo com um estudo do Banco de Portugal, será mais recessivo do que tudo o que foi feito nos últimos dois anos. Em suma: Cavaco entende que devemos caminhar todos, de mãos dadas, para o abismo. 

Deficitário de cultura democrática, Cavaco acha que esta escolha só não é patrioticamente assumida pelos partidos porque estes estão mais empenhados na intriga política, não porque seja social, económica e politicamente insustentável fazê-lo. Perante isto, Cavaco optou por pôr o atual (des)governo sob tutela presidencial, forçando-o a prosseguir a agenda que levou à sua implosão, e quer arrastar o PS para esse compromisso de desastre nacional.

Para seduzir o PS, Cavaco promete eleições antecipadas em 2014. Mas, como não dá ponto sem nó, o Presidente de uma parte dos Portugueses (Bloco e PCP não entram nas contas) diz que só convocará eleições se estiver previamente assegurado, mediante um acordo de médio prazo entre os partidos do ‘arco da governação', que estas não servem para nada. 

Se o PS se comprometer a não alterar uma vírgula à política da atual maioria, então Cavaco convocará eleições. Não para que os portugueses escolham o que quer que seja, mas para que todas as escolhas que verdadeiramente importam não estejam ao dispor dos cidadãos e da democracia. Cavaco, que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, tem um plano, acontece que esse plano não é compatível com a democracia. E não poderá salvar Portugal.» [DE]
   
Autor:
 
João Galamba.
     
 Daqui fala o morto
   
«Vivemos tempos políticos tão burlescos que o seu retrato, quer no caricato de cada pormenor, quer no ridículo de cada um dos personagens e de cada uma das situações, exige mais uma narrativa extensa, minuciosa, a sair do talento literário de um grande escritor do que de comentários políticos, em cima da hora, que pela pressa e singeleza se desfazem na espuma dos dias.

Perante uma crise política grave, aberta com a demissão do ministro das Finanças, que de facto governou o país durante os últimos dois anos, o senhor Presidente da República, em prol do que considera ser a "estabilidade política" necessária à nossa condição de país "intervencionado", apresentou aos portugueses, num discurso televisivo solene, e em tom grave, para resolver os problemas da governação, uma não--solução, a qual mereceu de imediato o aplauso de todos os condes de Abranhos, da política e do jornalismo, que povoam as nossas praças há pelo menos dois séculos. Alguns, menos reservados, gritaram: "Temos Presidente", sinal evidente do marasmo apodrecido em que tudo isto se afunda. O primeiro resultado visível foi obrigar um não- -governo, em trânsito para a tumba, a apresentar-se na Assembleia da República, na sexta-feira, a encenar uma comédia do tipo "Daqui Fala o Morto", como se estivesse a falar no Estado da Nação.

Quando um Presidente da República abandona o seu papel de árbitro do sistema político e abdica publicamente, em várias ocasiões, da possibilidade de usar poderes que lhe estão conferidos, como a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas, em nome uma "estabilidade política" que não incomode os mercados e a troika, está apenas a transmitir ao governo, comprovadamente irresponsável e incompetente, que faça o que fizer, aconteça o que acontecer, o alto magistrado da nação "não é um problema"; quando um Presidente da República se assume como patrono desse governo, como se tivesse sido escolhido por si, e vai à Assembleia da República, no dia 25 de Abril, dar-lhe o seu total apoio e zurzir na oposição, e sobretudo no Partido Socialista, obviamente que transmite que o inquilino de Belém não era um estorvo a um governo que, qual cadáver em decomposição, se desfazia num mar de intriga, de contradições e era origem de todas as instabilidades políticas; quando um Presidente da República age assim, quase sempre em silêncio, conivente com o descalabro a que assistíamos diariamente, permite que os personagens deste enredo tomem o freio nos dentes mal o mandante, Vítor Gaspar, saltou do barco. Um, Paulo Portas, viu a sua oportunidade de dar o "golpe do baú" e o outro, Passos Coelho, cuja noção do exercício do poder, democraticamente conferido, se traduz por "ir ao pote", bebeu o cálice de veneno que o líder do CDS-PP lhe serviu, até à última gota, para não ter de sair deste filme das "mil e uma noites" e voltar ignorado e vilipendiado ao seu apartamento de Massamá.

O senhor Presidente da República, um dos principais responsáveis pelo estado a que isto chegou, cuja mesquinhez o faz reagir mais em função de "ofensas" pessoais do que da difícil vida dos portugueses ou da deterioração da situação política, não tem autoridade política para, agora, depois de empenhar todos os créditos neste governo, querer que os socialistas o salvem, a ele e a este governo, do pântano em que se afundaram. E muito menos fazer das próximas eleições, inevitavelmente antecipadas, e da democracia, um fantochada alicerçada num "pacto", a médio prazo, entre os partidos do "arco da governabilidade". A não-solução apresentada pelo senhor Presidente da República é apenas um compasso de espera para a marcação de eleições antecipadas. E quanto mais tarde pior.» [i]
   
Autor:
 
Tomás Vasques.
   
   
 Cinco contra um
   
«David Justino, ex-ministro da Educação de Durão Barroso, representou a Presidência da República na segunda ronda de negociações entre PS, PSD e CDS com vista a um compromisso sobre grandes opções do país.
  
A segunda ronda de negociações com vista à assinatura do compromisso de “salvação nacional” pedido por Cavaco Silva juntou esta tarde à mesma mesa Alberto Martins, Moreira da Silva e Mota Soares, representantes do PS, PSD e CDS, respectivamente, mas também dois membros do Governo – Miguel Poiares Maduro e Carlos Moedas – e David Justino (na foto), antigo ministro da Educação, em representação do Presidente da República.» [Jornal de Negócios]
   
Parecer:

Digamos que só faltou o Eduardo Catroga como integrante da delegação de Cavaco Silva.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Banqueiros competentes
   
«Portugal surge na décima posição entre os países europeus onde existem mais banqueiros a auferir um rendimento anual superior a 1 milhão de euros. Estes dados, divulgados pela primeira vez pela EBA, deverão mostrar uma queda em 2012.
  
A Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) publicou pela primeira vez, esta segunda-feira, uma listagem dos banqueiros dos países da União Europeia que obtiveram uma remuneração anual acima de um milhões de euros.

A publicação decorre de uma directiva comunitária, que obriga os bancos a comunicarem quantos executivos têm nos seus quadros a ganharem mais de um milhão de euros (salários, bónus, prémios, pensões). Esses dados foram comunicados aos reguladores locais, que depois os canalizaram para a EBA (regulador europeu), que agora os publica, sem identificar os gestores em causa.» [Jornal de Negócios]
   
Parecer:
 
Banqueiros que conseguem sacar tanto ao Estado com um país cheio de fome merecem isso e muito mais. Compreende-se agora como é que alguns canalhas ainda dizem que os outros aguentam austeridade sem limites, é para que eles vivam à grande e à francesa.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se para cima desses Ulrichs.»