sábado, novembro 30, 2013

Grande Portas!

Quando se fizer o balanço destes dias de democracia turva far-se-á uma divisão clara entre o antes e o depois da demissão irrevogável do líder do partido monolugar da direita portuguesa, um partido de uma única personagem que em duas coligações já foi ministro da defesa, dos negócios estrangeiros e ministro-adjunto, já comprou submarinos e vendeu Magalhães.
  
Antes da demissão irreversível o protagonismo governamental era do PSD, a grande vedeta era Vítor Gaspar e o facto de ser um dos da troika garantia ao governo o apoio dos estrangeiros. O Gaspar publicava artigos na página do ministério das finanças alemão e passava a vida em Bona. Passos Coelho desdobrava-se em seminários onde exibia o caso de sucesso português, era o tempo da austeridade, da graxa à troika, do desprezo por qualquer medida de política económica que representasse uma aposta no crescimento. 
  
Antes da demissão irreversível a austeridade brutal era um curativo para os males da economia portuguesa, era, além disso, um castigo para um povo culpado de consumir em excesso, de recorrer ao crédito. Nesse tempo o povo português por ser manso era exibido internacionalmente como o melhor povo do mundo, um povo disponível para testar políticas económicas dignas de um Pinochet, Portugal era a única democracia ocidental onde se podiam implementar políticas que se pensava serem viáveis apenas em ditaduras.
  
Depois da demissão irreversível de Paulo Portas tudo mudou, Passos Coelho desapareceu, o presidente parece ser um pau mandado do governo e o PSD ficou entregue a uma figura menor do Porto, o Marco António desdobra-se em comunicações enquanto os governantes do PSD parece terem hibernado. As O discurso do empobrecimento tão ao gosto de Passos Coelho deu lugar ao discurso do crescimento e das exportações de Paulo Portas.
  
Passos Coelho rendeu-se à velhacaria de Paulo Portas e se não o designou primeiro-ministro permitiu-lhe assumir um protagonismo digno desse estatuto. Passos Coelho desapareceu e o verdadeiro primeiro-ministro passou a ser Paulo Portas e enquanto os ministros do PSD ou desapareceram ou têm intervenções patéticas. Agora é Portas e os seus íntimos que brilham, que inventam milagres, que se colam aos fracos sinais de retoma económica.
  
Paulo Portas divulga antecipadamente os indicadores do INE, responde a Mário Soares, assume o estatuto de celta libertador, enquanto Passos desaparece e Cavaco Silva perde protagonismo afundando-se na falta de credibilidade de uma presidência reconhecidamente incompetente.
  
Paulo Portas luta pela sobrevivência e pouco se importa que o consiga à custa do PSD. Passos Coelho é um derrotado e se o líder do CDS poderá sobreviver ao líder do PSD pouco resta o que sonhou impor à juventude portuguesa, o caminho da emigração. Talvez o Ângelo Correia tenha alguns investimentos no estrangeiro ou o Relvas assuma de novo o estatuto de patrocinador e lhe arranje um lugar numa qualquer Tecnonova angolana.