sábado, novembro 02, 2013

O guião para a salvação de Portas

Quando se esperava o debate do orçamento assistiu-se à polémica em torno do ansiosamente esperado guião para a reforma do Estado, quando se esperava a liderança da bancada parlamentar do PSD assistiu-se ao protagonismo do CDS e a uma votação digna de um funeral, quando se esperava a liderança do debate por parte do primeiro-ministro ou, na ausência deste, pela ministra das finança o verdadeiro líder da maioria foi Paulo Portas.
 
Já não é  Cavaco que propõe negociações a pensar no pós troika, Cavaco anda desaparecido e enquanto Passos se vai apagando num mal disfarçado cansaço e em sinais de impotência de alguém que se sente incompetente para enfrentar a situação a que conduziu o país, é Portas que lança os reptos ao PS, propõe negociações e sugere o seu guião como base de trabalho. Não se percebe se Portas pertence a este governo ou se as negociações que propõe ao PS já visam um futuro entendimento pós-eleitoral.
 
Pouco tempo depois de ter ficado queimado junto da opinião pública com a sua demissão irrevogável Paulo Portas reaparece como um dos seus submarinos enquanto Passos Coelho ou se afunda ou se arrisca a enfrentar uma revolta a bordo, a lembrar o Bounty. Se dantes era o PSD a dizer que Portugal não era a Grécia, agora é Portas que se acha celta e põe o seu ministro da Economia a anunciar milagres económicos. Passos Coelho é o incompetente, o cansado, o incapaz, o responsável por tudo o que de mau é feito. Portas é o salvador e tendo assumido a liderança das pastas económicas teve a arte de adiar o guião até ao debate do OE para iludir as suas responsabilidades. Portas só dá a cara pelas pastas económicas quando lhe interessa e Passos deixa-se ultrapassar.
  
Mais do que um guião para a reforma do Estado o guião que está sendo elaborado por Paulo Portas serve para assegurar a sobrevivência da sua carreira política. O desastre a que o país está sendo conduzido começa a ser evidente e Portas prepara-se para dizer que o culpado foi o PSD e Passos Coelho, foi ele que escolheu Gaspar, que se apoiou na seita do falecido Borges e que nomeou  a actual ministra das Finanças contra a sua vontade. O que de bom tem acontecido na economia é obra da sua diplomacia económica e dos empresários que ele se tem esforçado por apoiar. Até a reforma do IRC foi conduzida por um homem da sua confiança.
Aquilo que se pode ler nos últimos acontecimentos políticos um guião para a salvação de Portas à custa do enterro de Passos Coelho, do PSD e do próprio Cavaquismo. A teia montada por Portas levou um PSD a aplaudir os discursos dos ministros do CDS ao mesmo tempo que votaram o OE em silêncio, conduziu Cavaco ao silêncio e a oposição interna a Passos Coelho no PSD a uma desorientação tal que até já desejam ver António Costa em primeiro-ministro, o mesmo António Costa que Portas e o CDS não se cansam de namorar, a pensar numa futura coligação. Entretanto, Passos Coelho comporta-se como aquele que é sempre o último a saber.
 
É incrível como um partido como o PSD anda agora a defender um guião que só revela incompetência e, como se isso não bastasse, centra a estratégia do seu governo nesse mesmo guião, tratando o seu autor como se fosse o verdadeiro primeiro-ministro. Este PSD está mesmo mal.