terça-feira, março 11, 2014

Uma política desprezível

Passos Coelho acha que pode transformar o país naquilo que ele acha que deve ser sem consultar os portugueses, recorrendo à chantagem externa para que as suas propostas surjam como imposição dos credores. O caso mais evidente desta estratégia foi o famoso projecto de reforma do Estado que supostamente foi elaborado pelo FMI. É cada vez mais óbvio que não há nada que o FMI ou a troika tenham apresentado que não tenha tido origem em Portugal.
  
Se a vontade do povo correspondesse aos ideais de Passos Coelho esta mudança teria alguma legitimidade, ainda que se devesse questionar se o país deve mudar segundo uma opinião minoritária, ainda que conte com uma maioria parlamentar. Estaríamos perante uma situação questionável que mereceria algum debate.

Mas não é isso que sucede, os deputados da maioria não receberam mandato para que o país seja governando segundo agendas ideológicas que não foram alvo de qualquer debate e que graças às relações do PSD com Barroso ou de Vítor Gaspar com o BCE foram impostas a partir do exterior sob o disfarce de um ajustamento económico ou de pretensas reformas. 
  
O lado mais execrável desta política talvez não esteja no conteúdo de um programa económico esfarrapado, sem qualquer consistência técnica e cujos resultados são desastrosos. O lado mais odioso da estratégia de Passos Coelho é pensar que os portugueses são uns malandros idiotas, malandros porque não querem trabalhar ou fazer sacrifícios, idiotas porque são facilmente enganados. 
  
Há qualquer coisa de ridículo em tudo isto, uns rapazolas especializados em propaganda, formados em cursos e escolas sem credibilidade, que nunca tiveram de trabalhar a sério tendo vivido de expedientes à sombra de esquemas partidários, julgam-se suficientemente espertalhões para enganar todo um país, fazendo passar por parvos cientistas, catedráticos, generais, políticos, cidadãos comuns. Viveram, viram e venceram.
  
Julgam que os universitários são idiotas e por isso justificaram o corte brutal das bolsas para investigação com o argumento da aproximação das universidades às empresas. Pensam que podem enganar funcionários e pensionistas tentando dizer que os cortes de vencimentos e pensões são temporariamente definitivos. Julgam que enganam os polícias dando-lhes uma ajuda para o fardamento que deveria ser suportado pelo Estado.
  
A política de Passos Coelho e de Cavaco Silva não se limita ao empobrecimento dos grupos sociais que detestam ou consideram ser constituídos por seres inferiores, alimenta-se do desprezo por uma boa parte dos portugueses e é implementada de forma menos transparente, sem qualquer debate, apenas com recurso a manobras de propaganda e de manipulação da comunicação social, num total desprezo pela democracia e pela inteligência das pessoas.