quarta-feira, abril 30, 2014

DEO

Eu ainda sou do tempo em que documentos como o PEC ou o DEO como agora se chama, eram documentos da responsabilidade do governo, por eles elaborados e depois, só depois dados a conhecer a Bruxelas e aí discutidos no plano comunitário. A sensibilidade destes documentos era tanto que até Cavaco ficou irremediavelmente ofendido quando se disse que o governo de Sócrates tinha dado conhecimento do PEC a Bruxelas sem lhe ter dado Cavaco.

Mas esses era tempos tenebrosos, tempos em que a secreta dirigida por um amigo de Passos Coelho e de boas relações com a Ongoing escutava Cavaco Silva para que Sócrates ficasse a saber da receita dos carapaus alimados da dona Maria, tempos de asfixia democráticas, tempos em que tudo o que o primeiro-ministro dizia ou tinha dito era mentira. 
  
Agora funciona tudo às mil maravilhas, funciona tão bem que é bem provável que desta vez o DEO chegue ao conhecimento da senhora Lagarde muito antes de Cavaco ser informado. Aliás, ao contrário do que sucedeu no tempo de Sócrates Cavaco até foi informado com a devida antecedência, bastou-lhe ouvir o comentário de Marques Mendes e, se a essa hora estava vendo a telenovela enquanto afagava o gatinho pode ir ver no Youtube. 
  
As coisas funcionam tão bem que  a ministra das Finanças não precisa de ir a Bruxelas em classe turística, o documento foi previamente aprovado pela troika na mesma reunião em que era ultimado. Isto é, o governo reuniu cinco horas para aprovar um anteprojecto que depois foi corrigido e completado pelos representantes da troika que se reuniram no ministério das Finanças com a ministra e com Paulo Portas.
  
Devidamente aprovado o DEO os próprios representantes europeus da troika podem levar o documento ao Durão Barroso e ao Draghi, enquanto o indiano em vez de fazer horas no aeroporto até que lhe encontrem o visto ou o documento de identidade, pode dar um saltinho a Belém e levar uma fotocópia a Belém.
  
Só resta saber se quem vai falar na conferência de imprensa é o Paulo Portas ou a Maria Luís e se essa conferência de imprensa se realiza antes ou depois do programa de Marques Mendes, isto no pressuposto de que o secretário de Estado não se lembra de dar um briefing secreto ou que o Lomba não tenha a boa ideia de começar a organizar uns briefingas à moda da Casa Branca.