terça-feira, agosto 05, 2014

Eu acredito!

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Eu acredito que quando Ricardo Salgado liderou a delegação de banqueiros que exigiu a vinda da troika não pretendia derrubar Sócrates e ajudar Passos Coelho ao poder. Também acredito que foi mera coincidência a posição de Passos Coelho de querer acabar com as golden shares que mais tarde facilitou a venda da Vivo por 7,5 mil milhões de euro, proporcionando uma entrada de dinheiro no GES de que Ricardo Salgado precisava desesperadamente.
  
Eu acredito que os relatórios entregues por Queirós Pereira ao governador do Banco de Portugal não continham informação suficiente para que se pudesse perceber a situação do GES e do BES. Acredito também que desde então Ricardo Salgado gerindo o BES e o GES beneficiando do desconhecimento do BdP para colocar uma parte da fortuna a salvo.
  
Eu acredito que a Troika nunca chegou sequer a suspeitar da situação do BES e que se alguém os tivesse avisado teria feito novos testes ao banco.
  
Eu acredito que o silêncio de Durão Barroso, de Passos Coelho e de Cavaco Silva se deve ao respeito institucional destas personalidades, que não conhecem, nunca beneficiaram ou não têm ou tiveram qualquer tipo de relação com membros da família Espírito Santo.
  
Eu acredito que quando Seguro disse estar tranquilo em relação à situação do BES, induzindo os clientes e pequenos accionistas num logro o fazia com as melhores das intenções e porque considera que deve haver uma relação íntima entre io líder do maior partido da oposição e o governador do BdP, cabendo ao primeiro colaborar com o segundo na tranquilidade dos mercados.
  
Acredito que a actual liderança do PS, a começar pela sua presidente Maria de Belém não aceitam qualquer tipo de relação entre política e negócios, a começar pelas empresas do universo GES.
  
Eu acredito que quando o governador do BdP anunciava o interesse dos privados não estava induzindo os pequenos accionistas na crença de que o BES sobreviveria e por isso deveriam manter as acções.
  
Eu acredito que o mesmo Goldman Sachs cujas compras de acções do BES foram brilhantemente usadas para tranquilizar clientes e pequenos accionistas as vendeu com as mesmas motivações ingénuas com que as tinha comprado, não tendo beneficiado de qualquer informação por parte de consultores e amigos em comum com o governo.
  
Eu acredito que a solução do BES se precipitou porque o governador do Banco de Portugal considerou transformar as acções do BES em lixo do BES mau do que assistir a mais alguma queda nas suas cotações em bolsa.
  
Acredito que o governo foi apanhado de surpresa nas últimas semanas e que só teve noção da situação do BES na passada sexta-feira.
  
Eu acredito que Vítor Bento, que foi proposto pela família Espírito Santo para presidir o BES não confiava nos accionistas que confiaram nele e que a recusa em assumir as funções de imediacto não visou dar tempo a Ricardo Salgado para completar o serviço.

Eu acredito que os responsáveis pelo descalabro do GES vão ser exemplarmente punidos dando razão à ministra da Justiça que em tempos anunciou o fim da impunidade e a garantia dada pela ministra Maria Luís de que os responsáveis seriam exemplarmente punidos.

Eu acredito que a notícia envolvendo Sócrates no processo Monte Branco não se tratou nem se trata de uma manobra de diversão destinada a distrair os cidadãos que dedicavam maior atenção ao caso BES, designadamente aos pequenos accionistas.

Eu acredito que Ricardo Salgado conduziu a maior fraude na história do capitalismo português, que movimentou mais de dez mil milhões de euros em poucos meses, que sacou quase mil milhões de euros à PT, que enganou milhares de depositantes que converteram depósitos a prazo em obrigações do GES, que conseguiu manter os pequenos accionistas tranquilos, tudo porque ao governo não cabe saber o que se passa nas empresas e porque os reguladores não dispunham de informação.
  
Eu acredito em tudo isto e quer acreditem, quer não, podem crer que também acredito no Pai Natal. No que não acredito é que o Dia de Natal seja a 3 de Agosto e que o Pai Natal tem o cabelo branco mas não usa barbas e que em vez de entrar pela chaminé passou a entrar pelas televisões às dez e meia de um domingo de Verão. Afinal de contas, este blogue não passa de um jumento como muitos dos seus críticos gostam de recordar, é natural que acredite em tudo o que os jornalistas dizem ou sugerem.