sexta-feira, outubro 24, 2014

A aritmética de um país corrompido

Somem os administradores não executivos das centenas de empresas do universo do GES ligados à política, os múltiplos favores desde o emprego para o filho do alto dirigente do Estado, do senhor magistrado ou do governante, o crédito facilitado à filha do político, a bolsa para o filho promissor do deputado e muitos outros grandes, médios e pequenos favores.
  
Somem os mesmos favores concedidos pela generalidade dos bancos, das empresas petrolíferas, das empresas do negócio da electricidade e gásnatural, das cimenteiras, das empresas de telecomunicações, das empresas proprietárias de escolas de ensino privado, do universo de empresas que precisam de favores do Estado, favores que envolvem fixação de preços, concessão de subsídios, exigências ambientais, avaliações de qualidade, etc., etc..
  
Somem as despesas com fundações muito bem intencionadas que organizam seminários, que pagam a autores para escreverem livros, que organizam viajens, que pagam bolsas a filhos de amigos.
  
Somem os altos patrocínios dados pelas empresas atrás referidas a eventos organizados por instituições como os sindicatos de magistrados.
  
Somem os orçamentos publicitários geradores de receitas para as empresas de comunicação social que pela pena dos seus articulistas podem influenciar a opinião pública, acrescentem as viagens pagas, os cabazes de Natal, as prendas dadas a diversos títulos. Somem o orçamento das grandes empresas para prendas de Natal, prendas de aniversário, oferta de viagens e de obras de arte.
  
Agora verifiquem entre as personalidades públicas que influenciam a opinião pública como comentadores, que detêm altos cargos da Administração Pública, que exercem cargos nas magistraturas ou como políticos e excluam os que nada receberam.
  
Quantas das personalidades que diariamente nos aparecem nos ecrãs das televisões não beneficiam deste imenso bolo de corrupção? Quantos podem dizer que nunca receberam nada a título de favor da imensidão de empresas que se alimentam das facilidades dadas pelo Estado? Quantos podem dizer que nunca foram comprados?
  
Quanto do luxo dos nosso políticos, quantas das viagens de férias ao Brasil, quanto dos carros de alta cilindrada que vemos em Lisboa, quantas das vivendas e apartamentos de férias, quanta da boa vida não é paga o facilitada por esta imensa pirâmide de corrupção que envolve uma boa parte da elite do país que ao longo de décadas foi instalando um imenso esquema de corrupção, de compadrios e cumplicidades e de favores?
   
Ai se o Ricardo Salgado falasse! Enfim, o Ricardo Salgado, o Jardim Gonçalves, o Oliveira e Costa e muitos outros. Talvez os portugueses percebessem o que impede o país de se desenvolver e ficariam a saber o grande logro que tem sido uma austeridade que apenas visa criar um balão de oxigénio para que este esquema sobreviva durante mais alguns anos.