quarta-feira, outubro 29, 2014

O espectáculo do fim de um regime

Os governos são como os vulcões, sabemos que um vulcão vai entrar em erupção quando este começa a manifestar-se com libertação de gases e sismos, é o mesmo que sucede com um governo, sabemos que vai cair, só não sabemos quando ou como. Como diria o pequenote Marco António sabe-se que este governo vai cair, só não sabemos quando vai cair ou se vai ter uma queda suave ou sofrer um desabamento como se fosse Cracatoa. Os sinais multiplicam-se.
  
Cavaco está para este governo como alguma bicharada está para as calamidades naturais, dão sinais que antecipam o desastre. O maior sinal vindo de Cavaco é o seu quase total alheamento da realidade, desde ainda antes do Verão Cavaco apenas se pronunciou sobre as suas dúvidas em relação ao BES ou sobre a colocação do professores. Em quase quatro meses Cavaco mal se deixou ver e isso é um sinal de quem já se está distanciando de um governo que foi por ele inventado.
  
As críticas de Passos Coelho aos jornalistas e comentadores não passam de actos de desespero, nenhuma das personalidades a que se referiu implicitamente mudou de opinião nos últimos tempos, os jornalistas e comentadores que bajularam o governo continuam a fazê-lo, os que o criticavam continuam a criticá-los e os que faziam de conta que o criticavam continuam com as suas críticas inofensivas. O que mudou foi a percepção de impunidade de Passos Coelho, as sondagens não enganam e o primeiro-ministro sabe que os portugueses estão fartos dele.
  
A recusa de Passos de falar em negociações com o CDS a propósito das próximas eleições legislativas ou de discutir possibilidade da sua antecipação só revela que se sente inseguro. Se Passos estivesse confiante numa vitória já estaria a negociar uma coligação com o CDS e aceitaria a possibilidade de antecipar as eleições. Nas actuais condições não sabe qual o valor eleitoral do PSD e do CDS e receia perder as legislativas. Passos luta desesperadamente por conseguir um resultado que lhe permita sobreviver no PSD num cenário de derrota eleitoral.
  
Passos já não governa a pensar no país mas sim no seu futuro político, não confiando numa vitória eleitoral tenta armadilhar o próximo governo e procura de forma quase ingénua relançar o discurso do compromisso porque receia o dia seguinte às eleições. Passos Coelho já nem sonha em ser reconduzido primeiro-ministro, luta desesperadamente para não ser linchado na praça pública na próxima noite eleitoral.
  
O governo vive em negação, no ensino corre tudo bem, na saúde o Opus Macedo prepara o país contra a ameaça do ébola ainda que em Évora se morra porque as ambulâncias ficam na garagem, na justiça a reforma do sistema judiciário correu como planeado e os incidentes com o Citius resultaram de uma conspiração. O governo é incompetente mas tem de enfrentar os que não querem a mudança, os que recusam a reforma, os que receiam o fim da impunidade, os problemas não resultam da incompetência do governo mas sim das forças de bloqueio, dos mafiosos que conspiram contra as reformas  e até mesmo o fantasma de José Sócrates agora sob a forma de António Costa.
  
Paulo portas vai para o México garantir aos empresários locais que o Eldorado existe mas nunca foi uma cidade dos aztecas, o Eldorado é Portugal desde que o tem no governo e Pires de Lima foi empossado no estatuto de Santinha da Horta Seca. A ministra da Finanças nega qualquer impacto orçamental da crise no BES e Passos Coelho aceita consequências económicas mas por causa do GES, não por causa do desastre do BES.
  
O país assiste ao fim de um regime, um presidente ausente, um governo que adopta medidas para 2016 mas não sabe o que vai suceder em 2016, um irrevogável que continua a fazer de ministro dos Negócios Estrangeiros enquanto o ministro da pasta diz baboseiras irresponsáveis sobre os jihadistas tugas, uma ministra da Justiça a precisar de uma consulta psiquiátrica para se curar da mania da perseguição. O país tem um governo que deixou de ter uma percepção da realidade e um presidente que foge dessa realidade.