quarta-feira, outubro 08, 2014

Umas no cravo e outras na ferradura



   Foto Jumento


 photo Castelo_zps0b1fd5c1.jpg

Castelo de São Jorge, Lisboa
  
 Jumento do dia
    
Nuno Crato ministro muito incompetente

O nível da incompetência de Nuno Crato é tão elevado que a demissão deste senhor já deixou de ser um problema político para ser uma questão de salubridade pública, o homem anda a poluir a vida política portuguesa e a sua presença já exala mau cheiro.
  
«Há quinze dias, o ministro Nuno Crato garantia no Parlamento que nenhum professor seria prejudicado pelos erros cometidos na aplicação da fórmula de ordenação dos docentes na Bolsa de Contratação de Escola (BCE) – para suprir necessidades em escolas com contratos de autonomia ou em territórios de intervenção prioritária – mas na sexta-feira mais de 150 docentes descobriram que perderam o lugar nas escolas e ficaram sem trabalho. Crato reitera que o processo de colocações ainda está em curso, mas questionado sobre se algum docente ficará no desemprego, o ministro não deu garantias.

“Nós tínhamos de corrigir o erro [na BCE]. O erro foi reconhecido e o processo está a meio. Falaremos sobre isso no fim. Estamos a acompanhar com particular atenção esses casos”, respondeu esta manhã Nuno Crato aos jornalistas, à margem da conferência “O Futuro da Europa é a Ciência”, quando questionado sobre a situação dos mais de 150 docentes que ficaram sem trabalho, depois de três semanas de aulas, por causa da correção das listas de ordenação.

“A nossa esperança é que seja muito pequeno ou mesmo nulo o número de professores nessa situação. Espero que chegando ao fim do processo tenham colocação”, acrescentou o governante, sem nunca dar garantias de que todos os docentes serão repescados. “Quando é cometido um erro por parte da administração, esse erro deve ser corrigido mas não dá lugar a consolidação de posições”, frisou Crato.» [Observador]

 Alice Coelho no País das Maravilhas



 O melhor discurso de Cavaco Silva

Quem o diz é o Sousa Tavares. Enfim, já só falta aparecer o porco a andar de bicicleta para que possamos acreditar em tudo.

 Interrupção

 photo interrompe_zpsf6784ee3.jpg

      
 A importância de se chamar
   
«O secretário-geral da Interpol, o americano Ronald Noble, sugeriu há dias que “a comunidade mundial e as organizações policiais” deixassem de usar a designação “Estado Islâmico”, que a organização terrorista islamista que controla grande parte do Iraque e da Síria escolheu para si, e que passassem a usar a sigla CM para os identificar.

CM são as iniciais de “Cowardly Murderers”, o nome que, segundo Noble, deveria passar a ser usado para designar o grupo que se transformou no exemplo máximo da crueldade assassina com as suas decapitações de reféns (não apenas ocidentais), filmadas em vídeo e transmitidas na Internet.

A proposta de Noble não é um mero gesto de propaganda, mas ela pretende combater uma das mais eficazes armas de propaganda destes terroristas: o seu nome.

De facto, ao usar a designação “Estado Islâmico” e previamente “Estado Islâmico do Iraque e da Síria”, que os media rapidamente adoptaram, a organização adquire aos olhos do público uma relevância e uma dignidade que ninguém lhe reconhece (a de Estado) e uma identificação imediata com uma religião (o islão), o que visa reforçar a sua legitimação perante os muçulmanos e, do outro lado, difundir entre os não-muçulmanos a ideia da identificação entre terrorismo e islão, gerando reacções de ódio religioso que são o combustível de que estes terroristas se alimentam.

O nome de Noble pode não ser o mais feliz, mas é evidente que o uso pelos media e pelos políticos do nome que a organização escolheu para si constitui uma legitimação e uma colaboração objectiva num acto de propaganda, que actua de cada vez que ele é referido na televisão. “Pergunto à comunidade global”, diz Noble, “por que razão é que devemos deixar que um grupo de terroristas sedento de sangue escolha para si uma designação religiosa como pretexto para justificar os seus crimes hediondos, quando nenhuma religião os poderia justificar?”

A questão é: se a Mafia adoptasse o nome de “Associação Cultural Siciliana” e se a Goldman Sachs se rebaptizasse “Congregação das Carmelitas Descalças de Wall Street” os media deveriam passar a usar essas designações? Ou deveriam considerar que a mensagem transmitida pela designação estava em desacordo com (como dizer?...) a verdade dos factos? Ou acreditariam que as novas designações representavam de facto novas identidades e novos objectivos dessas organizações?

Não sei se o auto-proclamado “Estado Islâmico” contratou um especialista de branding para escolher o seu nome, mas o know-how está lá. O que é mais dramático constatar é que esta manipulação dos nomes e dos conceitos está por todo o lado e envenena o discurso dos media, descredibiliza o discurso político e cria uma profunda sensação de impotência nos cidadãos. As coisas deixaram de ter os nomes que deviam ter, que aprendemos e que os dicionários lhes dão e ganharam novos significados, conferidos pelo poder, que retiram significado e tornam difícil dizer onde está a verdade porque ela é redefinida de acordo com o interesse de quem controla o discurso público. Passos Coelho foi pago pela Tecnoforma? Não, recebeu reembolsos de despesas do Conselho Português para a Cooperação. O CPPC tinha como objectivo a cooperação com os PALOP. O CPPC era uma organização não-governamental sem fins lucrativos. A intervenção da troika em Portugal visou o “ajustamento”. O governo não quer baixar salários mas apenas reduzir os custos unitários do trabalho. Avaliação, flexibilidade, produtividade, bolsa de horas, fundo de garantia, excelência, média ponderada, transtorno nos tribunais, sustentabilidade das contas públicas, reformas estruturais, líder social-democrata, Novo Banco. A manipulação das designações, o novo léxico do poder, está por todo o lado e tem um tal exército de megafones ao seu serviço que invade mesmo o discurso dos observadores mais atentos e mais críticos. E no entanto os nomes são importantes. São eles que identificam as coisas, as pessoas, as organizações, as políticas, as nossas acções, as nossas escolhas, as nossas ideias. Sem chamar os bois pelos nomes não podemos falar, o discurso torna-se uma pasta eufemística onde deixa de haver um terreno comum, um espaço público lexical que permite a comunicação, uma língua comum.

Existe esta ideia, prima da liberdade de expressão e irmã do copyright, de que as pessoas têm o direito de usar para si e para o que fazem as designações que quiserem. Defendo esse direito. Mas o que não existe é o direito de impor essa designação aos outros no discurso público - e os media em particular têm o dever de lhe resistir. É difícil, porque esta corrupções são também simplificações, muitas vezes económicas. Mas os media, que têm como importante função fiscalizar o poder, não devem fiscalizar apenas as suas acções. Devem, fiscalizar também o seu discurso e denunciar as suas perversões - quer se trate do “Estado Islâmico” quer se trate do “Arco da Governação”. Chamar os bois pelos nomes é uma obrigação fundamental dos jornalistas, sem o que a informação se transforma em ficção ou se junta à propaganda.» [Público]
   
Autor:

Vítor Malheiros.

 Caro Nuno Crato: ainda aí está?
   
«Após o homérico desastre que está a ser o início do actual ano lectivo, por culpa exclusiva dos serviços do ministério da Educação, somos obrigados a perguntar que mais é preciso acontecer para que Nuno Crato se decida a apresentar o seu pedido de demissão.

Convinha que a desresponsabilização na política portuguesa não chegasse a este triste ponto: desde que um ministro não seja apanhado a fazer corninhos no Parlamento ou a contar piadas sobre hemofílicos de Évora, ele pode espalhar a sua infinita incompetência por ministérios e secretarias de Estado sem que nada lhe aconteça. Ora, após o homérico desastre que está a ser o início do actual ano lectivo, por culpa exclusiva dos serviços do ministério da Educação, somos obrigados a perguntar que mais é preciso acontecer para que Nuno Crato se decida a apresentar o seu pedido de demissão.

Crato ficou em tempos conhecido por um colorido comentário que envolvia a implosão do ministério da Educação, e não se pode dizer que estivesse sozinho nesse desejo. O ministério da 5 de Outubro é um monstro burocrático que engole tudo à sua volta, e cujas preocupações acerca da gestão do exército docente suplantam em muito as preocupações com a qualidade de ensino dos alunos que é suposto servir. Mas por mais que nos unamos a Crato na sua vontade de implosão, a verdade é que em 2014 ele colocou a dinamite no local errado: em vez de implodir o ministério, explodiu com o ano lectivo.

Há muitos anos que não se via nada assim, e qualquer cidadão deve questionar-se para que serve um ministério com milhares de funcionários se ele não é sequer capaz de executar a mais básica tarefa para que foi criado: começar as aulas a tempo e horas e atribuir a cada aluno os professores a que ele tem direito. As listas de colocação de professores saíram apenas a 9 de Setembro, o que fez com que no começo das aulas milhares de alunos estivessem sem docentes. E nas escolas de ensino artístico a tragédia é completa, com instituições, como os Conservatórios, a garantirem que só em meados de Outubro a situação deverá estar normalizada – um mês após a data fixada para início do ano lectivo.

Quando se tenta encontrar uma explicação para esta situação, há quem balance entre a incompetência fortuita e a incompetência intencional. Ou seja, uns acham que Nuno Crato pura e simplesmente não sabe o que anda a fazer, outros acham que Nuno Crato sabe o que anda a fazer bem de mais. Tradução: o ministério da Educação estaria a aproveitar estes atrasos inconcebíveis para poupar uns milhões em ordenados de professores. Seja qual for a opção, ela mais do que justificaria que Crato arrumasse os tarecos – e quando se junta a isso o desastre matemático na ordenação dos professores das bolsas de contratação de escola, e as mentiras que o ministro da Educação andou a espalhar pelo Parlamento, só mesmo a narcolepsia de Pedro Passos Coelho pode justificar a permanência de Crato na 5 de Outubro.

Depois de o ministro ter andado 15 dias a assobiar para o ar fingindo não ver um erro matemático básico na ordenação das listas, ele ainda foi para a Assembleia da República jurar que “os professores colocados mantêm-se”, que “eventuais duplicações serão analisadas caso a caso”, que “os alunos não serão prejudicados”. Tudo mentiras, como se viu: as listas anteriores foram simplesmente anuladas e centenas de professores foram descartados após três semanas a dar aulas. Após a asneira ter sido feita, nunca haveria boas soluções para o problema. Mas a cabeça de director-geral de administração escolar é demasiado pequena para ser a única a rolar. Nuno Crato deve ser devidamente responsabilizado – é inadmissível ter um governo que exige tanto aos portugueses e tão pouco a si próprio.» [Público]
   
Autor:

João Miguel Tavares.

      
 Comunicação manhosa
   
«Esta terça-feira já estarão dois milhões de processos disponíveis no Citius. Governo aceitou ajuda de técnico nomeado por Sócrates que está a trabalhar neste levantamentodesde o dia 26.

O Citius - plataforma informática de suporte aos tribunais - vai lentamente ganhando vida. Até segunda-feira estavam "integralmente recuperados" os processos de 12 comarcas. No total são dois milhões de processos que já podem ser consultados pelos advogados, magistrados e funcionários judiciais. Para esta terça-feira está previsto o "levantamento das comarcas de Setúbal e Porto Este".» [DN]
   
Parecer:

Todos os dias o país toma conhecimento dos grandes sucessos do ministério da Justiça repondo a normalidade no Citius, pela forma como as coisas ocorrem parece ter ocorrido uma calamidade natural cabendo aos responsáveis do ministério a sua superação. O mais divertido é que não contrataram um técnico do tempo de Sócrates, como isso lhes fica mal e os parentes cairiam na lama dizem que foi o técnico que lhes bateu à porta pedindo-lhes o especial favor de o deixar dar uma ajudinha.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Encontrada a cura para o ébola
   
«Addison - Todd Kincannon é um advogado americano cheio de opiniões e expressa-as no Twitter sem se preocupar com a decência. "As pessoas com ébola nos Estados Unidos deviam ser executadas", escreveu há dois dias.

No caso da população afetada na África Ocidental, o antigo diretor-executivo do Partido Republicano da Carolina do Sul deixa uma receita semelhante: "O protocolo para um teste positivo de ébola devia ser execução imediata dos humanos e sanitização de toda a região".

Percebe-se, assim, que um banho de sangue resolveria o problema. Para conhecer o tipo de "sanitização" de que o advogado de 34 anos fala, basta ler um outro tweet: "Devíamos bombardear a região com napalm".» [Expresso]
   
Parecer:

EUA, século XXI.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»