terça-feira, janeiro 13, 2015

A mastronça

Entretidos com as notícias de França os nossos “Charlies” de ocasião caso não prestaram ao que por cá se passou, o portugueses continuaram a morrer sem tratamento nas urgências de Paulo Macedo, o pobre do Alberto João saiu quase sem se dar por isso e aqueles que que acompanharam ansiosamente a manifestação na esperança de ver Passos Coelho no cortejo nem repararam no que ele disse no congresso da versão tropical do PSD.

Passos Coelho também se pode queixar deste excesso de distracção ainda que não possa fazer muito pois o seu conselho independente só pode brincar às nomeações na RTP, nada podendo fazer para obrigar a nossa comunicação social a deslocar os meios da importante cidade de Évora para a capital do sultanato do Alberto João. Mas a política tem destas coisas e um discurso tão importante na estratégia de Passos Coelho passou totalmente despercebido.

O líder do PSD foi ao Funchal inaugurar a versão eleitoralista do ir além da troika, isto depois de ter abandonado essa linguagem passando a justificar os seus excessos com as imposições decorrentes de um memorando de que ele próprio foi um grande defensor. Depois de apregoar a saída limpa e a independência do país e de prometer um novo ciclo de crescimento e de riqueza para o povo exemplar, parece que Passos Coelho começa a vacilar, a economia gripou o SNS salvo pelo Opus Macedo entra em crise ao mesmo que ao sector privado da saúde cresce exponencialmente, os investidores continuam a ignorar o país.

Exibir os novos tempos de progresso como argumento eleitoral é perigosos pois as tais nuvens que Passos não via no horizonte na sua mensagem de Natal estão cada vez mais densas e com sinais de tempestade. Neste quadro Passos percebeu que o melhor seria reconverter o ir além da troika e foi precisamente o que fez no Funchal, com aquele ar esgazeado com que fica quando quer dar ares de que está a gozar os adversários disse que o seu governo não se limitou a arrumar o país para que outros regressem depois da casa arrumada, fez mais, muito mais do que isso.

E não é mesmo verdade que fez muito mais do que “arrumar” a casa? Arrumou com a EDP entregando-a por 25% do capital ao Partido Comunista da China, violou sistematicamente a Constituição, desorganizou e desmotivou o Estado, empobreceu o SNS, empobreceu à força uma boa parte da classe média, sugeriu aos jovens que procurassem zonas de conforto fora do país, desinvestiu no ensino e na investigação.

Passos Coelho continua a perseguir o seu sonho de ser uma senhora Thatcher portuguesa mas passados estes anos de incompetência governamental só lhe resta devolver a tolerância de ponto na terça-feira gorda e aproveitar para vestir umas saias e pintar o cabelo de branco e desfilar como mastronça inglesa no Carnaval de Loures, talvez o líder da autarquia local, onde está coligado com o PCP, opte por se disfarçar numa figura que lhe seja querida aparecendo ao seu lado disfarçado Kim Jong-il.