sexta-feira, junho 19, 2015

Aliviados ou apanhados com as calças na mão?

Para usar a linguagem Cavaquista que é uma variante política do jesuês a situação da Grécia leva-nos a interrogar-nos sobre se devemos ficar aliviados por termos enchido os cofres com dinheiro emprestado ou se ao contrário do que diz Passos Coelho podemos vir a ser apanhados com as calças na mão e a meio do alívio.
  
Dizer que por se ter obtido créditos no mercado graças ao amparo do BCE podemos ficar tranquilos é confundir as consequências de uma possível crise financeira internacional com uma pequena borrasca passageira. A situação mais recente foi a crise desencadeada pelo Lehman  Brothers e por aquilo que se vai vendo as consequências ainda se fazem sentir, a Grécia está à beira do colapso, o crescimento económico europeu ainda sofre de raquitismo, a dívida soberana portuguesa ainda é considerada como lixo.
  
A ideia de que a Europa se livra da Grécia, que a Alemanha e o FMI ficam com os prejuízos resultantes do incumprimento grego e que a senhora Merkel além de suportar os prejuízos vem em nossa ajuda com o apoio militante de um Bundestag empenhado em ajudar ao amigos portugueses é uma quimera imbecil. A ocorrer uma saída da Grécia estaremos perante uma crise do Euro e uma desconfiança da economia mundial, com os mercados financeiros à frente, em relação à segurança oferecida pela moeda europeia.
  
Os EUA delimitaram muito rapidamente os prejuízos resultantes da falência do Lemon Brothers mas as ondas de choque desta crise propagaram-se pela economia mundial e atingiram a zona Euro como se fosse um tsunami vindo do outro lado do Atlântico. Há muito que a crise de 2008 foi ultrapassada nos EUA enquanto na Europa ainda nos debatemos com as suas consequências, ainda que muito imbecil deste país considere que a causa da crise está bem aferrolhada em Évora.
  
Esta visão de merceeiro segundo a qual podemos escapar de uma crise financeira internacional escondendo o dinheiro debaixo do colchão indo busca-los quando o sistema financeiro entrar em colapso ou impedir-nos de irmos financiar-nos é digna de uma cultura saloia. As crises financeiras não são más porque impedem os Estados de se financiarem duante uns tempos, são-nos porque destroem empresas, destroem riqueza, criam desemprego e agravam os desequilíbrios. A tese dos cofres cheios é propaganda oportunista.
  
Não é apenas o Estado que precisa de ir aos mercados, são as empresas que carecem do sistema financeiro para poderem financiar as suas operações comerciais domésticas e, principalmente, a s internacionais, são os cidadãos cuja procura é alimentada pelo crédito concedido por um sistema bancário que se financia nos mercados financeiros.~
  
Se os americanos receiam as consequências de uma crise, se as grandes economias serão penalizadas por uma crise financeira, imagine-se o que poderá suceder a economias que estão seguras por arames, com níveis de desemprego que inviabilizam os sistemas de segurança social e com restrições financeiras que bloqueiam o Estado.