sexta-feira, junho 05, 2015

O dress code

O facto de um clube de futebol ter decido mudar de treinador ainda antes de ter despedido o treinador com quem tinha uma relação contratual para mais três anos, decidindo-se pelo seu despedimento com base num processo disciplinar ainda por iniciar diz muito não só sobre a cultura dos portugueses, mas principalmente sobre os métodos de muitos dos nossos empregadores do género pato-bravo.

Nesta mesma semana foi notícia em Portugal uma decisão judicial que condenava o dono de uma farmácia por assédio moral a uma farmacêutica, enquanto se divulgava um estudo em que se ficou a saber que o assédio moral e sexual em Portugal é um problema grave. A humilhação de trabalhadores é uma prática frequente em Portugal, incluindo no Estado. Voltando ao futebol é frequente alguns clubes da primeira liga decidirem colocar jogadores a jogar nas equipas B quando estes se recusam a renovar o contrato em condições favoráveis para o clube.
  
Voltemos ao SCP e a Bruno de Carvalho, ao que dizem o processo disciplinar deve-se a factos com meses e a uma reunião em que supostamente o treinador faltou. A mais curiosa das acusações é a de que o treinador desrespeitou o “dress code” do clube, em vez de usar fato e gravata verde, a mesma gravata que o presidente do clube decidiu usar como provocação menos educada ao presidente da CML.
  
O SCP é um empregador, o treinador não deixa de ser um trabalhador, a legislação aplicável é a mesma que se aplica a qualquer outro trabalhador e quando se fala de flexibilização dos despedimentos falamos de facilitar os despedimentos, isto é, adoptar regras que tornem um despedimento ainda mais fácil. Neste caso o patrão decidiu despedir primeiro e provar depois, enquanto o trabalhador perde imediatamente o seu desemprego deixando de receber qualquer salário.
  
É óbvio que todos os portugueses, sportinguistas incluídos, percebem que estamos perante uma manobra sem fundamento e que o presidente deste clube está comportando-se de forma abusiva e ilegal. É uma pena que não se tenham ouvido protestos e que para muitos cidadãos deste país o que está em causa não é uma violação grosseira de toda e qualquer regra de convivência no mercado de trabalho, para muitos o importante é o clube e ao presidente “amado” tudo se permite.

É esta a cultura dos portugueses que nos leva a sorrir quando alguém nos conta um caso de assédio sexual a dizermos que não temos nada que ver com o assunto quando a vizinha é agredida pelo marido ou quando o vizinho dá uma tareia no filho ou a ficar calados quando um colega de emprego é condenado a trabalhar em condições degradantes só porque o chefe não gosta dele.

Esperemos que quando se voltar a discutir problemas como a legislação laboral ou o assédio moral no emprego os comportamentos do presidente do SCP ou de qualquer outro clube sejam considerados case study pois estamos perante situações em que o autores sabem o que fazem, contam com bons departamentos jurídicos e não se incomodam por estarem sujeitos a uma grande exposição pública. Até os nomes dos juristas que suportam estes comportamentos deviam ser alvo de divulgação pública para saber as qualidades morais e humanas dos amigos e vizinhos com quem convivemos.