segunda-feira, outubro 12, 2015

É a democracia, estúpidos

A direita estava descansada com o ovo no cu da galinha, Cavaco excluía o BE e o PCP, Passos Coelho fazia vergar António Costa pressionado pela ala direita do PS, a direita formaria governo, o PS entraria em crise e Costa seria levado à demissão, Marcelo passeava até às presidências, ganhas as presidenciais Passos demitir-se-ia com o argumento de não o deixarem fazer as reformas necessárias, realizar-se-iam eleições legislativas antecipadas e a direita ganharia com maioria absoluta, repetia-se a história, desta vez sem personagens como Oliveira e Costa ou Dias Loureiro, mas com o Marco António e o Miguel Relvas.
  
A estratégia era perfeita e Cavaco decidiu jogar tentando marcar dois golos, um pelo seu governo e outro por forçar Costa à submissão, depois de ter receado ter de dar posse a um governo que ajudou a derrubar, era o prémio de consolação para o pior presidente da história da República, não considerado pelo povo conseguiria, pelo menos, a gratidão da direita. A estratégia não tinha como falhar, o PCP e o BE odeiam e desejam destruir o PS, uma solução governativa que correspondesse a uma maioria dos partidos de esquerda no parlamento era impensável, a minoria maioritária da direita iria governar.
  
Mas Jerónimo de Sousa percebeu a estratégia de Passos e Cavaco e entre apoiar um governo do PS ou viabilizar um governo maioritário da direita não lhe restava alternativa. Cavaco pensava que Jerónimo de Sousa lhe fazia o favor e enganou-se, ignorou a Constituição e desprezou os líderes dos outros partidos, incluindo Paulo Portas, e tramou-se, Passos ficou sem condições para apresentar uma solução alternativa. Agora Cavaco está confrontado com o risco de ter uma solução governativa diferente daquela que encomendou, resta-lhe lembrar-se de que Portugal tem uma Constituição e apressar-se a indigitar Passos Coelho para primeiro-ministro. Cavaco pensou que ia tosquiar António Costa e vai acabar por ser ele o tosquiado.
  
Agora anda toda uma direita a clamar que ganhou as eleições, como se fossem gaiatos a berrar que a bola é deles e dizendo que António Costa está violando as regas do jogo. Só que não foi António Costa que decidiu jogar aos consensos, foi Cavaco que viu mais uma oportunidade de forçar o PS a “obedecer” a Passos Coelho chamando a isto consenso. Teve azar, jogou mal e agora corre um sério risco de conduzir o país a uma grave crise política. É o preço que o país poderá pagar por ter eleito alguém sem condições para exercer o cargo de Presidente da República.