sexta-feira, outubro 16, 2015

Rainhas por um dia

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Cavaco nunca tem dúvidas e raramente se engana e como o próprio disse já tinha todos os cenários traçados e sabia de cor o que estava na Constituição, sabe-o tão bem que desta vez poupou aos contribuintes a despesa dos seus habituais pareceres encomendados a conhecidos constitucionalistas que ninguém sabem quem são. Cavaco sabia muito bem que tinha de ouvir os partidos e indigitar alguém para primeiro-ministro, mas como entre as eleições e a contagem dos votos dos emigrantes decorria mais de uma semana achou que podia brincar aos presidentes, aos governos e aos consensos, se acertasse era o maior, se falhasse faria uma comunicação ao país informando que fez tudo o que estava ao seu alcance, mas como andam por uns políticos muito manhosos decidiu convidar Passos Coelho para primeiro-ministro.

Seguidamente, o grande vencedor das eleições e neste entretanto uma espécie de primeiro-ministro nado-morto vai formar o seu governo, um governo cuja tomada de posse vai lembrar a noite do halloween. Como ele já sabe o que quer e ao que veio, a elaboração do seu guião governamental nem é difícil de fazer, é como o famoso guião da reforma do Estado que já estava realizada ainda antes de Portas ser encarregado de a aplicar. O complicado vai ser conseguir gente que esteja disposta a largar o que está fazendo, pedir a demissão dos seus bons empregos, para serem ministros de um governo constituído para celebrar o dia das bruxas. A escolha vai recair em gente que dá tudo para tal como D. Maria de Gusmão, mulher de D. João IV,  acha que mais vale ser rainha por um dia do que duquesa toda a vida.

Quem aceitar ser ministro deste governo fá-lo sabendo que pode ser dispensado em 2016, até lá não passam de figuras decorativas que apenas servirão para serem acusados da situação que encontraram nos seus ministérios. Vão durar menos do que ainda desconhecida ministra da Administração Interna.

A direita já percebeu que desta vez o Pedro Mota Soares em vez de chegar à posse de Lambreta vai chegar comodamente instalado num carro funerário e que a fila de carros a chegar ao Palácio da Ajuda vai lembrar mais uma cena de um filme da Máfia retratando um luxuoso funeral de um capo de Nova Iorque do que uma tomada de posse governamental. É por isso que se multiplicam as personalidades que tentam explicar que os portugueses que votaram PS queriam um governo de Passos Coelho apoiado incondicionalmente por António Costa.

Como ex-líder do PSD fazia mais sentido que Manuela Ferreira Leite questionasse a burla eleitoral do PaF e protestasse porque algumas centenas de milhares de eleitores votaram pensando que escolhiam deputados do PSD e agora estão representados pelos que não teriam lugar no táxi do Paulo Portas. Em vez disso a senhora armou-se em contabilista e, em directo na TVI24, arredondou duas vezes a percentagem de votos dos partidos da esquerda, primeiro eram pouco mais de 50%, a meio do programa já só eram 50% e se o programa tivesse mais quinze minutos a ex-líder do PSD ainda concluiria que não estariam acima dos 45%.

Aqueles que durante a campanha andaram promover a Catarina Martins, transformando-a na coqueluche da direita, optam agora por dizer que ela é pequenina para ser mais fácil comer criancinhas. Desistiram de ganhar as eleições e tudo fizeram para que os eleitores do PS optassem pelo BE e tiveram tanto sucesso que até foi demais. Agora armam-se em provedores dos eleitores que insistiram em votar no PS, por aquilo que se vê na comunicação social os eleitores que votaram no PS escolheram para deputados o Bagão Félix, o José Manuel Fernandes, a Manuela Ferreira Leite ou o Horta Osório, todos eles falam em nome dos que votaram PS. Estas personalidades chegaram a uma boa conclusão, os eleitores do PS que votaram no BE fizeram-no porque queriam António Costa em primeiro-ministro, os que votaram no PS de António Costa fizeram-no pensando que o primeiro-ministro seria o Passos Coelho!
 
Só não aparece o Marcelo a dar conselhos a António Costa em nome dos seus eleitores porque o vento está muito instável e ainda não se percebeu muito bem para que lado sopra.

Primeiro era um escândalo que fosse António Costa a ser nomeado primeiro-ministro antes de ser feita a encenação fúnebre de Passos Coelho, agora já querem mais, querem que António Costa faça o papel de deputado da última fila da bancada pafiosa, andam tão baralhados que há quatro anos não conseguiram eleger o Fernando Nobre para a presidência da AR e agora já estavam em condições para eleger Ferro Rodrigues a troco de toda a manjedoura do Estado.