terça-feira, novembro 17, 2015

A estratégia da chantagem

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Começa a ser óbvia a estratégia de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas, aquilo que parecem ser declarações casuais fazem todo o sentido e podem ter sido combinadas. Há muito que Cavaco deixou de ser presidente e é conselheiro de Passos Coelho, Cavaco tem estado ao serviço e sob as ordens de Passos Coelho e Paulo Portas, ignorou a Constituição sempre que lho pediram, articulou os discursos, marcou a data das eleições para a data mais conveniente e agora, à beira de ser mandado para casa, dá o último golpe.
  
Quando Passos defendeu uma revisão constitucional a pressa para viabilizar eleições na hora sabia muito bem que a ideia não passava, por isso ninguém lhe deu grande atenção e a ideia foi ignorada. Perante a indiferença geral era natural que a proposta fosse esquecida, até porque uma revisão constitucional só faz sentido havendo acordo. Mas não só a comissão politica do PSD reuniu para transformar o discurso de Passos num comício de hotel em linha oficial e agora é a vez do CDS se preparar para defender a mesma solução.
  
É óbvia a estratégia da direita, fala de fraude eleitoral e pede uma desforra e desafia a esquerda para uma revisão constitucional que permita a realização do duelo. Como nada garante que umas segundas eleições mudassem o que quer que fosse a direita é bem capaz de usar o risco de impasse para defender um regime maioritário. Não havendo o risco de coligações eleitorais à esquerda a direita vai querer convencer o país da vantagem de um sistema maioritário pois com a quase fusão entre o CDS de Portas e o PPD de Passos a direita estará em vantagem.
  
Passos Coelho e Paulo Portas não querem apenas governar, querem mudar o modelo social e o sistema político contra a vontade da maioria dos portugueses. É óbvio que não o conseguem pois isso implicaria dispor de dois terços do parlamento, mas esta estratégia pode dar argumentos a uma direita que não consegue explicar o porquê de realizar eleições de três em três meses, ate que ganhe.
  
Há aqui um pequeno problema, para que esta estratégia passe é necessária a concordância de Cavaco. Disto desta forma até parece que Cavaco vai ser o último a reflectir e pela forma como vai ouvindo as forças da direita ate parece que o senhor ainda não tomou uma decisão. A verdade é que não só já pode ter tomado uma decisão como toda esta encenação pode estar montada desde o princípio, e até este suposto atraso servirá para Cavaco dizer “estão a ver, estamos há um mês com um governo de gestão e o país funcionou!”.
  
Cavaco, Portas e Passos têm sido uma troika coordenada e a única dúvida que se coloca está em perceber quem manda, se Cavaco em Passos ou Passos em Cavaco. O argumento da revisão está combinado e surgiu depois de Passos ter dito que não ficaria a assar, isto é, a ideia pode não ser dele, é bem mais provável que seja de Paulo Portas ou de Cavaco, senão mesmo dos dois.
  
Se os banqueiros lhe disserem que sim Cavaco vai manter o governo em gestão e alinhará com Passos e Portas dizendo à esquerda que pode resolver o prolema da crise viabilizando eleições antecipadas aceitando uma revisão constitucional. Cavaco vai completar a nódoa que tem sido na democracia portuguesa e fazer chantagem sobe a democracia, é um nojo mas é o que temos.