sábado, julho 16, 2016

O cata-vento das sanções

Sobre as sanções Passos Coelho já defendeu tudo o que lhe veio à cabeça e o contrário de tudo o que disse, revelando uma desorientação e um oportunismo digno de um dos mais fundamentalistas na defesa da aplicação do Tratado Orçamental, isto é, da aplicação de sanções aos países que violassem o limite estabelecido para o défice orçamental. Todos nos recordamos da insistência da direita portuguesa para que as normas do tratado ficassem consignadas na Constituição, transformando em lei os princípios de política económica por ela defendida.
  
Na hora de montar o cenário eleitoral Passos Coelho contava com a tolerância da direita europeia, tinha o argumento dos sacrifícios e desde a famosa saída limpa que deixou de governar. Só que não conseguiu maioria parlamentar de apoio ao seu projecto e a verdade ficou escancarada, o défice orçamental só não foi maior porque as contas de 2016 vão ter de suportar os muitos milhões de euros de reembolsos do IVA que ficaram por processar em 2015 com o objectivo de empolar as receitas fiscais e prometer o reembolso da sobretaxa.

Quando se começou a falar de sanções Passos ficou tranquilo, esperava que a direita da Comissão as fundamentasse na política seguida em 2016 para atribuir a sua responsabilidade a António Costa. Até encenou um pedido ao presidente da Comissão, secundado por uma carta da sonsinha a um comissário, pedido tolerância para as asneiras do governo. De caminho voltava a insistir no tal plano B.
  
Só que a Comissão não poderia fundamentar sanções no argumentário político de Passos Coelho e as suas responsabilidades foram ficando a nu. De repente, Portugal deixou de merecer sanções e aquelas que andaram a escrever cartinhas aos comissários passaram a acusar o governo de perda de influência internacional, isto é, o governo deixou de contar com o apoio do ministro das finanças alemão.

Agora, os que faziam gala em impor ao país a disciplina do Tratado Orçamental e que foram os primeiros a não cumprir as suas regras, dizem que os argumentos do governo são cínicos e daí resultam sanções, como se cinismo não fosse a norma deste PSD, sendo a sua ex-ministra das finanças o seu expoente.