quarta-feira, junho 28, 2017

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do Dia

   
Fernando Santos

Graças ao seleccionador de futebol profissional fiquei a saber que descendo "do sangue lusitano, do mais puro que há". Agora fico a aguardar que Fernando Santos me diga quais são os outros sangues lusitanos ou quais os sangue que ele considera ter impureza. Não era má ideia se Fernando Santos se deixe de armar em hematologista e se dedique ao que sabe, aos chutos na bola, já me basta a evangelização militante a que o treinador se dedica no exercício das suas funções.

 A mentira tem perna curta

De manhã foi um primo que lhe disse que o concelho de Pedrogão Grande se tinha transformado numa espécie da Okinawa, a ilha japonesa onde muitos japoneses se suicidaram perante a invasão dos soldados americanos. Quando a mentira foi desmascarada o mentiroso já não era o primo, era o candidato local do PSD e provedor da Santa Casa, lá apareceu o falso primo a suicidar-se em direto nas televisões dizendo que a mentira era dele. O pobre "primo" já tinha esclarecido mas não conseguiu chegar à fala com o Passos, falou com um assessor.

Em poucas horas Passos Coelho embrulha-se em várias mentiras e erros de palmatória:

  • Pede desculpa por ter usado uma informação falsa como se no caso de terem ocorrido suicídios isso lhe permitiria uma utilização política nos termos em que fez.
  • Mesmo quando uma voz lhe dizia que não se confirmavam os mortos não hesitou em manter o discurso garantindo que tinham ocorrido tentativas de suicídio e que as vítimas estavam hospitalizadas, insiste numa inverdade mesmo quando sabe que o está fazendo.
  • Desculpou-se pelo erro, atribuindo-o a terceiros, mas não pediu desculpa nem à população de Pedrogão, nem aos governantes a quem atribuiu a responsabilidade direta por mortes.
  • Justifica a uilização da informação assegurando que lhe tinha sido dada por um familiar próximo das vítimas e duas horas depois, quando sente que está enterrado, aparece o candidato do PSD à autarquia de Pedrogão culpabilizando-se por ter dado uma informação errada.

É mentira e irresponsabilidade a mais para quem foi primeiro-ministro e quer voltá-lo a ser a qualquer custo.

 A anedota do dia

«Eu explico o que António Costa já devia ter feito, e não fez. Na terça ou na quarta-feira, ele devia ter agarrado no telefone e ligado a António Barreto para lhe dizer o seguinte: “O que aconteceu em Pedrógão Grande foi uma tragédia como não se via há 50 anos. Não pode restar uma pinga de dúvida sobre o que se passou, como se passou e de que forma poderia ter sido evitado. Quero que todas as responsabilidades sejam apuradas até ao fim, e nem o Governo, nem a oposição, nem qualquer uma das forças envolvidas no combate ao fogo está em condições de apresentar um relatório imparcial. O país precisa de uma figura consensual e acima de qualquer suspeita para presidir a uma comissão independente, que no período de 30 dias seja capaz de apresentar as suas conclusões, de forma a que nenhum português bem-intencionado possa duvidar delas. Você é essa figura. Tem total liberdade para constituir a sua equipa, coloco os meios que forem necessários à sua disposição, e darei ordens para que todas as instituições do Estado respondam às perguntas que entenda serem convenientes fazer. No final, o Governo estará disponível para arcar com as consequências políticas daquilo que a comissão independente conseguir apurar.”» [Público]


Grande João Miguel Tavares, mais um pouco e propunha que a personalidade independente fosse o José Manuel Fernandes... Para ele uma personalidade independente é alguém que não gosta e não quer este governo, algo que repete quase todos os dias nas suas intervenções e entrevistas, alguém que durante anos foi um funcionário do Tea Party do dono do Pingo Doce.

Talvez não fosse má ideia o JMT propor também um independente, talvez o Francisco Louçã, para avaliar a sanidade mental de um líder da oposição que inventa suicídios em massa.


     
 Lista vip - the final cut
   
«Fui acusado publicamente, ao longo de mais de dois anos, de ter autorizado a criação, no seio da administração tributária (AT), de uma lista VIP de contribuintes privilegiados.

O tema foi objeto de exploração política ao mais alto nível, em todo o espetro político português. Foram abertos processos de índole judicial e administrativa para investigar o que se passou.

Durante todo este tempo, mantive-me em silêncio, aguardando que a verdade fosse apurada pelas instâncias competentes. Como servidor público numa das mais importantes instituições da democracia portuguesa, entendo que existe uma linha de separação, que nunca deveria ter sido quebrada e que devia ter sido defendida por quem de direito, entre o plano político, e o plano institucional, da administração onde sou trabalhador.

Todos os processos chegaram agora ao seu fim.

Em todos se concluiu que não existiu nenhuma lista VIP nem nenhum contribuinte foi privilegiado, e que os procedimentos adotados cumpriram o determinado no Manual de Políticas de Segurança da Informação da Administração Fiscal e Aduaneira, aprovado em 2008, pelo despacho do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, n.º 575/2008-XVIII, de 12 de junho.

Nenhum dos processos chegou sequer à fase da acusação.

Os contribuintes comunicam à AT dados relativos ao seu rendimento, ao seu património e à sua vida privada, com o fim exclusivo de esta apurar e controlar os impostos que têm a pagar. Relativamente a esses dados, a lei consagra dois direitos fundamentais, de que são titulares os contribuintes - o direito ao sigilo e o direito à reserva da vida privada.

O guardião desses dados e o garante desses direitos é o diretor-geral, e a AT possui uma hierarquia que tem por missão essa proteção, devendo permanentemente estar atenta e vigilante nessa função e tomar medidas contra qualquer violação ou perigo.

Concluiu-se naqueles processos que agi no cumprimento rigoroso e escrupuloso do meu dever e na "defesa do interesse público, que consiste no respeito pela Constituição, pelas leis e pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, de acordo com o n.º 3 do artigo 73.º da Lei do Trabalho em Funções Públicas".

No fim deste tempo longo e difícil, venho a público defender a minha honra pessoal e profissional publicamente manchadas sem fundamento. E dizer aos contribuintes portugueses, aos meus alunos e aos leitores dos meus livros que podem ter a certeza de que a AT e os seus trabalhadores respeitam e defendem escrupulosamente os seus direitos.

Tenho orgulho em ser trabalhador da AT. Percorri toda a sua exigente carreira profissional, com único suporte no estudo e no trabalho, como milhares de outros trabalhadores. Em conjunto, concebemos e implementámos muitos projetos inovadores, que tornaram a AT uma referência a nível internacional. A todos quero dizer que também aqui defendi o prestígio da sua profissão e os direitos dos contribuintes. Ao serviço de Portugal.

Como disse Wittgenstein, o filósofo soldado, "sobre o que não há nada a dizer devemos guardar prudente silêncio".» [DN]
   
Autor:

José Maria Pires.

 O que nunca poderás dizer
   
«Uma das regras que se costumam explicar devagarinho aos mais jovens, quando chegam a uma redacção e querem fazer jornalismo, é a do cuidado que devem ter quando aparecem notícias sobre suicídios. Não é uma regra do PÚBLICO, nem só da comunicação social em Portugal. É assim em todo o mundo civilizado.

Não é por acaso, portanto, que são raras as notícias que se vêem sobre suicídios — e muito menos sobre tentativas de suicídio. É porque há razões fundadas na história para suspeitarmos de que uma cobertura pouco cuidadosa de um caso de suicídio pode ser um factor de risco, contribuindo para a estigmatização de quem tenta (ou pensa) fazê-lo, ou abrindo caminho a que outros se sigam. Sim, claro que o tema é muito sério. De tal forma que a Organização Mundial da Saúde decidiu fazer um pequeno guia para nós, jornalistas, sabermos lidar com o fenómeno. Esse guia pode resumir-se assim:

“Aproveite a oportunidade para educar o público sobre o suicídio. Evite uma linguagem que sensacionalize ou normalize o suicídio ou que o apresente como uma solução para os problemas. Evite descrições pormenorizadas de um suicídio ou tentativa de suicídio. Escreva os títulos com cuidado. Tenha cautela na utilização de fotografias ou de vídeo. Tenha particular cuidado ao reportar o suicídio de celebridades. Mostre a devida consideração por pessoas que tenham considerado o acto. Dê informação sobre onde as pessoas devem procurar ajuda.”

É como dizia um jornalista brasileiro: falar de morte já é muito difícil, imagine falar da morte como alternativa à vida.

É aqui que chegamos a Passos Coelho: se um jornalista tem o dever de ter estes cuidados, de ter esta responsabilidade, o que dizer sobre a que tem um político? Como pode um líder partidário, tão experiente que já foi primeiro-ministro, referir-se a um ou mais casos de suicídios para tirar a conclusão de que “o Estado não está ainda a cumprir o seu dever”? Como pode tornar pública uma informação deste tipo, partindo de uma informação para a qual não procurou confirmação?

Vou resistir a usar qualquer imagem, qualquer frase que possa parecer uma ironia. Porque aquilo que Passos Coelho ontem fez foi uma irresponsabilidade. E que pode causar mais danos à sua imagem pública do que a aplicação de uma qualquer medida da troika.

Mas o erro deve servir de lição a todos no espaço público: todo o cuidado é pouco quando se fala desta tragédia. Porque morreram 64 pessoas. Porque cada português sentiu a perda delas. Neste caso, é proibido falar demais. Como é proibido tapar o sol com a peneira.» [Público]
   
Autor:

David Dinis.

 Passos Coelho "matou" 192 pessoas
   
«No quadriénio 2007-2010, suicidaram-se em média, por ano, em Portugal continental, 983 pessoas. No seguinte, 2011-2014, em que Passos Coelho foi primeiro-ministro, esse número subiu para 1031 mortes. O número médio de suicídios por ano no mandato de Passos foi de mais 48 em relação à média dos quatro anos anteriores. Tudo somado, 192 mortes. Sabemos que esse mandato foi de profunda austeridade. O governo cortou a torto e direito em tudo o que pôde e só não cortou mais porque o Tribunal Constitucional não deixou. O desemprego aumentou brutalmente, os impostos também, as prestações sociais baixaram. Podemos, portanto, pensar: o aumento dos suicídios ocorridos neste período decorreu diretamente da governação liderada por Passos Coelho. Podemos, mas só se utilizarmos a técnica - grunha, para dizer o mínimo - que o líder do PSD ontem utilizou para estabelecer uma ligação direta entre alegados suicídios relacionados com o incêndio de Pedrógão e uma suposta falta, por parte do Estado, no apoio psicológico aos que sobreviveram em sofrimento. ("Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram e que não receberam o apoio psicológico que deviam.") A declaração foi tão profundamente má que nem se sabe por onde começar. Um político - muito menos o líder do maior partido da oposição - não usa casos individuais de supostos suicídios como argumento político contra quem quer que seja - nunca, em circunstância alguma. Quem faz isso tem de ter alguém que o informe do efeito de contágio na mediatização de suicídios. Se não sabem o que é, googlem. Por outro lado, ninguém pode dizer que um suicídio decorreu diretamente do facto A, B ou C. Um suicídio é multicausal. E as suas explicações são de uma complexidade absolutamente não enquadrável nas necessidades de simplicidade da política. Por último: um líder que usa esta informação sem ter o cuidado de a confirmar (e não se confirmou) tem de se perguntar se ainda está em condições de se manter líder. Portugal precisa desesperadamente de oposição. Resolvam lá isso, se faz favor.

P.S. - Passos pediu desculpa por ter usado informação falsa. Não percebe que não podia ter usado, mesmo se verdadeira.» [DN]
   
Autor:

João Pedro Henriques.

      
 No melhor pano cai a nódoa
   
«Elementos da Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) foram na semana passada ao colégio Salesianos de Lisboa no âmbito das investigações à alegada fuga de informação no exame nacional de Português do 12.º ano. Suspeita-se que a gravação que circulou dias antes da prova com indicações sobre a matéria que ia sair foi feita por uma aluna daquela escola privada, apurou o Expresso.

Identificar a autora da gravação é fundamental para que a IGEC e o Ministério Público, que também está a investigar o caso, consigam verificar se houve realmente uma fuga de informação e de onde partiu. A confirmar-se a fuga, está em causa o crime de violação de segredo por parte do professor ou funcionário que divulgou o conteúdo da prova e que, além da expulsão da administração pública, pode enfrentar uma pena até três anos de prisão.» [Expresso]
   
Parecer:

Vale tudo para chegar à universidade.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Investigue-se.»