terça-feira, março 06, 2018

A MEADA

Nunca a sociedade produziu e manteve acessível tanta informação, algo impossível há meia dúzia de anos. Há uma imagem famosa de um disco de 20 MB a ser carregado para um avião num caixote gigantesco, hoje mais de uma centena de gigabites ocupam menos espaço do que uma unha de uma criança de seis anos. 

Só recentemente quase toda a informação está disponível em termos imediatos, sem ter de procurar por fitas magnéticas, discos ou cartões perfurados. Com o aumento brutal da capacidade de conservação e de disponibilização da informação temos acesso a gigabites de informação sobre os mais diversos domínios. 

Toda a nossa vida está documentada em informação que está ao alcance de uma tecla, as nossas compras geram faturas que dizem tudo o que consumimos, escrevemos dezenas de e-mails que dizem o que fazemos e pensamos, os nossos smartphones registam todos os nossos movimentos, a cada passo somos filmados por dezenas de câmaras de vídeo.

A juntar a tudo isto há no mercado e ao dispor de serviços de informação recursos que permitem escutas ilegais. Como se ainda não bastasse temos os piratas informáticos que violam de forma quase impune as bases de dados privadas. Em consequência disto não há segredos para os que estão em condições de aceder à nossa intimidade de forma legal, ilegal ou com ambas as vias articuladas. Um polícia sabe hoje em poucos segundos o que dantes só com muitos dias de tortura conseguia.

Se for possível fazer “arrastões” em bases de dados como as do fisco, das empresas de telecomunicações, das grandes empresas e se a tudo isto ainda for possível usar a informação roubada por hackers a empresas privadas, isso significa que a investigação não tem quaisquer limites. 

Na posse de um PC ou de um smartphone acede-se às passwords pessoais e a partir destas a toda a informação pessoal, desde as mensagens de e-mail às contas bancárias. Acedendo-se às bases de dados públicas sabe-se de tudo um pouco, desde a última consulta ao dentista a todas as fontes de rendimento. Se isto não chegar e um pirata informático aceder às bases de dados privadas onde conste a nossa informação pessoal tudo fica ao dispor de quem nos quiser investigar.

Os direitos, liberdades e garantias da Constituição são uma treta se as polícias não os respeitarem e usarem técnicas de arrastão e se aceitarem como útil, boa e conseguida de forma legítima em função dos fins a informação roubada por hackers profissionais. E cada vez são mais os sinais desta técnica do arrastão, que transforma as muitas bases de dados a que se pode aceder numa imensa meada onde cada investigação leva a informação para mais investigações, permitindo a polícias modelos fazerem uma limpeza da nossa sociedade.

Nunca foi tão importante vigiar quem vigia e investigar quem investiga, sob pena de vivermos numa sociedade sem privacidade, onde os supostos defensores do bem podem vigiar sem limites.